O Diabo veste Preto (Ferlane)

ABRIGO

Abrigo: Lugar que se destina a abrigar (proteger, amparar, esconder)

Fernanda Bande

Nunca senti medo, nunca me deixei levar pelas inseguranças impostas pelas situações da vida, fossem quais fossem. Com o tempo aprendi a ser forte, entendi que força não é necessariamente física, mas sentimental também, nunca sucumbi aos meus devaneios mais sombrios, tão pouco me dei por vencida nas minhas questões internas. Perder nunca foi uma questão pra mim, já chegou a ser quase insignificante, desde muito cedo foquei nos negócios, segui o passos de meu pai, aprendi a conviver com a ausência da minha mãe, e nada disso me assustou como esse sentimento me assusta.

Me sinto arrebatada. Tomada por uma infinidade de coisas inexplicáveis que me acometem quase que à todo instante. Pela primeira vez sinto medo, constato enquanto a observo, seus gestos, seus movimentos, tão simples mas ao mesmo tempo tão hipnotizantes. Pela primeira vez sinto medo de perder alguém, pela primeira vez em muito tempo meu coração parece temer sucumbir. Pela primeira vez sinto que entendo que abrigo não necessariamente é uma construção de tijolos, mas sim braços que me acolhem, onde não preciso ser forte o tempo todo, onde posso ser eu mesma na mais infinita variedade de sentimentos, dúvidas e essência. Alane se tornou meu abrigo, lugar onde me sinto confortável o suficiente para existir sem exigências, cobranças de mim mesma.

- Um doce por seus pensamentos - Alane desperta-me dos meus devaneios ganhando também um sorriso involuntário. Seus olhos me fitam curiosos, sua íris castanha reflete toda calmaria do nosso momento. Estávamos no meu quarto assistindo algum filme que já não fazia idéia alguma de qual parte passava.

- Não é nada - tento soar convincente o suficiente mas não obtenho sucesso. Seus dedos tocam meu rosto com delicadeza e fecho os olhos aproveitando o contato, é incrível a forma que me causa pequenos choques elétricos quando me toca, mesmo que minimamente. A encaro por alguns segundos, nosso silêncio confortável diz tudo que nunca falamos com palavras.

It's you - Ali Gatie

It's you, it's always you
(É você, sempre você)

Uma pequena lágrima escapa de meus olhos, livre, teimosa, temerosa.

If I'm ever gonna fall in love, I know it's gonna be you
(Se algum dia eu for me apaixonar, eu sei que será você)

Seu olhar me encara surpreso, alerta, seu polegar logo trata de excluir a lágrima solitária do meu rosto.

It’s you, it’s always you
(É você, é sempre você)

Met a lot of people, but nobody feels like you
(Conheci muitas pessoas, mas ninguém é como você)

- Nanda...seu tom é calmo, quase um sussurro - Olha pra mim - seu indicador ergue delicadamente meu rosto - Tudo bem? - pergunta novamente, seu tom é ameno, possue cuidado e preocupação. Como dizer tudo que preciso pra essa mulher? Como lidar com todas as minhas defesas sendo derrubadas dessa forma? Como encará-la sem muros?

So, please, don’t break my heart
(Então, por favor, não quebre meu coração)

Don’t tear me apart
(Não me faça despedaçar)

- Não quero perder você - em minha cabeça a frase parecia mais decidida e firme, porém tudo que consigo é um tom vacilante. Recebo um sorriso complacente como resposta.

- Você não vai me perder - diz sem nunca cessar o toque em meu rosto, seus dedos agora fazem uma espécie de carinho simples, seu olhar me fita como se quisesse me passar a certeza de suas palavras.

I know how it starts, trust me, I’ve been broken before
(Eu sei como isso começa, confie em mim, eu já me machuquei antes)

Don’t break me again, I am delicate
(Não me quebre de novo, sou delicado)