Aeroporto de São Paulo
FERNANDA BANDE
O dia mal começou e já está sendo cansativo, ao chegar no portão de saída do aeroporto avisto meu motorista esperando.
- Bom dia, senhorita Fernanda, bem-vinda de volta ao lar. Como foi a viagem? - diz pegando minha malas e colocando no carro, como sempre muito educado, logo abre a porta pra mim.
- Bom dia, Raul - um pouco cansativa, mas sobrevivi. Você está ótimo, parece até aquele cara do filme, o Benjamin Button, cada dia mais jovem - brinco - preciso ir direto para a WM, por favor, tenho uma reunião.
Raul é um antigo funcionário do meu pai, um braço direito eu diria, está na família há mais de 40 anos, apesar de já ser um homem bastante maduro é muito competente e o único que tem liberdade para me dirigir a palavra.
- A senhorita mal chegou e já vai tratar de negócios? Não seria melhor parar para comer alguma coisa antes? Descansar ? - sugere com gentileza.
- Ah, Raul, até parece que não me conhece, não deixo pra amanhã o que posso fazer hoje, além disso, quero ver como estão as coisas, conferir se a equipe que meu pai tanto confiava é mesmo competente, desde que meu pai faleceu aquele lugar está ao Deus dará, passei tempo demais fora, é hora de ver como estão as coisas e colocar tudo em ordem.
- Continua decidida como sempre, a diferença é que não é mais uma garotinha, agora é uma mulher. - completa me olhando pelo retrovisor e dá um sorriso sincero dando partida no carro.
Logo chegamos ao prédio da WM, empresa que meu pai praticamente deu a vida para fundar, ele passou mais tempo aqui do que em casa, isso não foi muito positivo para o casamento dos meus pais, porém não é como se fizesse muita diferença quando sua mãe só se importa com roupas de grife, viagens e mostrar para as amigas o "ótimo partido" que arrumou.
Respiro fundo para espantar tais pensamentos e entro, logo recebendo olhares curiosos, alguns até espantados eu diria, parece que estão vendo um fantasma.
Acesso o elevador e vou direto para o último andar, onde fica a sala da presidência. Bom, pelo menos eu acho que é onde fica, faz muito tempo desde que entrei nesse prédio pela última vez.
Olho em volta em busca de alguém para me informar melhor mas não vejo ninguém.
- Bando de incompetentes, não tem ninguém nessa empresa ainda? - penso já sentindo meu mau humor chegando.
Entro em algumas salas aleatórias mas ainda estão todas vazias, será que ninguém trabalha aqui? Bando de vida boa, isso sim, esse lugar está precisando mesmo de ordem.
Tento ligar para o atual diretor avisando que já cheguei, mas o incompetente não atende - aquele meio metro cosplay de cantor de pagode só pode estar dormindo - penso - o jeito é procurar a sala da presidência sozinha.
Mas logo sinto um esbarrão, tudo muito rápido, alguém não só é muito desastrado por aqui como também acaba de derramar um líquido quente em mim.
- Ah, meu Deus, me perdoa, me perdoa, eu juro que foi sem querer, eu posso lavar, minha nossa, perdão - dizia uma moça jovem enquanto se dava conta do que fizera. Sua expressão beirava o desespero.
- VOCÊ TEM NOÇÃO DA MERDA QUE VOCÊ FEZ, GAROTA? - gritei já possessa.
- Por favor, me perdoe, eu posso dar um jeito - repetia desculpas demais.
- Mas o que tá acontecendo aqui? - Rodrigo disse quando chegou e viu o desastre que havia acontecido - agora que esse imbecil aparece?
- OLHA O QUE ESSA INCOMPETENTE FEZ COM O MEU VESTIDO - rosno para Rodrigo como um cachorro raivoso.
Logo ele me retira para me mostrar o banheiro mais próximo para que possa me limpar. Decido for fim segui-lo bufando de raiva.
Depois de algum tempo consegui me recompor, pedi para que Raul trouxesse roupas extras e acabei me limpando na empresa mesmo, não tinha tempo à perder, algumas coisas precisavam mudar naquele lugar, de preferência rápido.
Ao sair do banheiro dou de cara com Rodrigo, com cara de cachorro que fez alguma besteira e está com medo da repreensão. Não sei como meu pai contratava certos tipos de pessoas, reviro os olhos.
Me leve até a sala da presidência, essa reunião já deveria ter começo há muito tempo - peço já com cara de poucos amigos. Se eles já imaginam que sou uma megera, então manter essa imagem não será sacrifício algum, terem medo de mim é um bônus.
- Sim senhora, me acompanhe - responde prontamente.
- Quem é aquela garota, afinal? - questiono.
- A moça do café? Ah, ela se chama Alane. Bom, foi um contratempo infeliz, mas garanto que é muito competente, por isso designei que ela fosse sua secretária particular - sorrir amarelo.
- Minha secretaria? - questiono novamente, incrédula.
- Sim, como disse, foi um contratempo infeliz, mas é a melhor do setor, geralmente é muito competente, a melhor candidata - completa.
- Será que tem como meu dia ficar pior? - penso.
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A reunião transcorreu bem, sem maiores dificuldades, foi anunciado que eu assumiria a gestão agora que meu pai havia falecido. Conheci os chefes de cada setor, era uma empresa bem grande, bem maior que a de Miami. Claro que não seria uma tarefa fácil, mas eu iria fazer o meu melhor, pela memória do meu pai e por tudo que esse lugar significava pra ele. Agora esse também seria meu império.
Depois de tudo ajustado, fui para minha nova sala, um lugar bem aconchegante, de muito bom gosto diga-se de passagem, não me considero fácil de agradar mas até que não era de todo mal. A sala era bem grande, toda em tons de branco e cinza. Faço uma pequena nota mental para trocar a decoração depois.
Tinha bastante espaço, parecia muito com a sala que costumava ser do meu pai. Havia uma mesa não muito grande mas bem espaçosa já com todas os materiais necessários para revisar em cima, no canto haviam poltronas brancas confortáveis e atrás delas, uma grande parede de janelas de vidro que refletia toda selva de pedra que era São Paulo. Respirei fundo e pensei - é bom estar em casa de novo.
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O Diabo veste Preto (Ferlane)
Fiksi PenggemarO que você faria se descobrisse que sua promoção de cargo traria também de brinde uma chefe insuportável? Alane vai descobrir que o diabo não veste só prada como também ama usar preto e se chama Fernanda Bande