O PLANO

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Duas semanas depois.

(You should see me in a crown - Billie Eilish)

Yasmin Brunet

Olho minha imagem no espelho enquanto escolho minhas jóias para compor o look do dia, opto por anéis dourados com pedrarias que combinam com o tom do meu vestido azul e colares igualmente dourados. Analiso meu reflexo me agradando bastante do resultado. Escolho um de meus perfumes preferidos borrifando algumas vezes pelo meu corpo. Deixo que meus cabelos caiam como cascata por minhas costas. Um último retoque no batom. Perfeito.

Logo o som da companhia ressoa pelo imóvel, olho para o relógio  soltando um murmúrio satisfeito.

- Bem na hora - digo abrindo a porta. Parado a minha frente, Nizam me observa tirando seus óculos, seus olhos varrem todo meu corpo como um animal observando um suculento pedaço de carne.

- Quê isso, sereia, você tá maravilhosa - me chama pelo codinome como pedi que fizesse desde que nos conhecemos. Ignoro seu comentário.

Logo cedo passagem para que o homem adentre meu apartamento me dirigindo de volta ao centro da sala.

- A intenção era passar despercebido? - pergunto com desdém notando que agora ele se desfaz de sua jaqueta e boné enquanto me sirvo de uma dose de whisky.

Nizam esboça um meio sorriso ainda sem que seus olhos deixem meu corpo - Não dava pra aparecer de qualquer jeito, estou foragido, lembra?

- É óbvio, por isso escolhi esse hotel, aqui tenho toda discrição que preciso, chega a ser engraçado como as pessoas se vendem, você dá um trocado e em troca tem sigilo absoluto. - Já providenciou os novos documentos? - questiono e ele me mostra uma carteira de identidade falsa em sinal de positivo.

- Agora sou Antônio Medeiros - um sorriso ridículo brinca em seus lábios enquanto segura o documento ao lado de seu rosto. Dou de ombros.

- Onde está o Rodrigo? Achei que vinhessem juntos - questiono cruzando os braços.

- Ele quis vir sozinho, pra não dar muita bandeira, ia aproveitar pra fazer alguma parada pessoal também - responde enquanto se aproxima - bem que a gente podia aproveitar um pouco já que estamos sozinhos, né?! - diz se aproximando. Rio com desdém de sua inútil tentativa de soar galante.

- Nem nos seus melhores sonhos, querido - digo convencida - Não foi pra isso que ajudei a te resgatar daquele fim de mundo. Meus objetivos são outros - espalmo a mão em seu peito impedindo que se aproxime de mim o olhando com desprezo, tomo todo o líquido do copo entregando o recipiente vazio à ele que assente derrotado sem deixar de esboçar um sorriso lascivo.

Desde que vim para o Brasil, meus planos mudaram consideravelmente.
De início, pretendia reconquistar Fernanda e tomar sua fortuna, mas seu novo relacionamento caiu como uma luva, tornando as coisas bem mais fáceis. Não demorou muito para me aliar às pessoas certas, diria que tínhamos motivos em comum para querê-la derrotada. O resto não foi difícil, me aproximei de Rodrigo que já a conhecia e podia me passar as informações necessárias, e de Nizam, que nutria singular desprezo por Fernanda depois de colocá-lo na cadeia como um animal, além de um interesse iminente por Alane. Tudo que precisei fazer foi comprar um carcereiro que o ajudou a fugir, bingo, devoção absoluta. Era um completo idiota, mas seria útil.

Logo ouço batidas na porta - Ótimo, deve ser o Rodrigo - digo caminhando até a mesma, abrindo em seguida.

- Perdoe o atraso - diz o homem parado no portal, sorrindo amarelo - É um prazer finalmente conhecê-la pessoalmente, senhorita Brunet. Soube que era bonita, só não sabia que era tanto - Rodrigo logo adentra ao apartamento beijando o dorso da minha mão em uma bajulação desnecessária. Logo trato de dispensar formalidades.

- Me poupe dos seus elogios, vamos direto ao assunto - digo fechando a porta e caminhando até o sofá, onde me acomodo atraindo os olhares de ambos.

- Conseguiu os caras que pedí? - dirijo os olhos para Nizam que está próximo ao pequeno bar enquanto escolhe alguma bebida.

- Consegui, sereia. Só gente da pesada - se serve de um pouco de whisky.

- São de confiança? - Rodrigo e eu nos olhamos, ambos sabíamos que Nizam não era uma pessoa muito indicada para fazer a parte inteligente do trabalho, porém era o único entre nós três que tinha "amizades duvidosas."

- Com toda certeza, é um amigo meu que conhece uma galera, a mesma que me ajudou na fita de fugir lá daquele inferno. Pode confiar, ele topou fazer por preço de banana - levanta o copo como se estivesse propondo um brinde tomando todo o líquido em seguida.

- E você Rodrigo, fez o que eu mandei? - Rodrigo que até então observava a conversa finalmente se aproxima retirando um envelope laranja do bolso e em entregando logo depois.

Observo as fotos que foram tiradas da tal Alane ao longo da semana, algumas eram em frente a seu apartamento, outras na rua distraída e algumas chegando na empresa.

- Essa última é a mais recente, foi tirada ontem, ela sai pra passear com esse vira lata toda tarde - Rodrigo me indica a foto que está embaixo das outras.

Na imagem Alane está distraída passeando com um filhote na rua - aproveita, vadia. São seus últimos momentos felizes - digo em um sussurro quase inaudível.

- Os carros estão preparados? - Sim, senhora. As placas devidamente adulteradas, devidamente adesivados. - Rodrigo confirma convicto.

- E a casa? - questiono sobre o local para onde Alane deveria ser levada.

- Um casebre no interior, no meio do nada, um lugar completamente esquecido - dessa vez Nizam confirma a conclusão da parte que lhe foi atribuída.

- Ótimo. Ouçam , não vou admitir erros, entenderam? Vocês têm uma chance. Apenas uma. Qualquer deslize pode pôr tudo a perder. Eu quero ver a Bande na sarjeta, implorando por piedade - sou incisiva.

Ambos me olham, assentindo em positivo.

- Já pensou no valor que vai pedir? - Rodrigo questiona com curiosidade recebendo um olhar de Nizam.

- Vamos arrebentar a boca do balão, entrar pra história em grande estilo, o resgate da preciosa namoradinha da Bande vai custar uns bons milhões, vamos ver até onde ela está disposta a ir por aquela jeca água de salsicha - sorrio vitoriosa diante dos olhares eufóricos e surpresos dos dois homens.

- Aquela desgraçada tem tanta grana assim? - Nizam questiona incrédulo.

- Estou sendo deveras generosa, ela tem isso e muito mais, afinal, herdou tudo daquele maldito velho. Aquele homem me odiava, já foi tarde - Rodrigo e Nizam sorriem como se compartilhassem o mesmo sentimento - já que ela não me quis por bem - faço uma pausa encarando minhas unhas - então o dinheiro dela será meu por mau - digo em falso tom de tristeza.

- Mas você não pode desconsiderar que ela é poderosa também - Nizam balbucia inseguro. Ela tem amigos na polícia, não foi fácil sair daquele lugar.

Caminho até o homem que acompanha meus movimentos praticamente babando - Quando eu entro no jogo - seguro em seu queixo e olho em seus olhos - eu entro pra ganhar - caminho praticamente desfilando até a mesa de drinks me servindo de mais uma bebida sendo seguida por seu olhar.

- lembrem-se, meninos. Se tudo der certo, vocês estarão milionários - sorrio lasciva rodeando a beirada do copo com os dedos. Eles se cumprimentam e comemoram ridiculamente felizes.

Acertamos os últimos detalhes do plano mais uma vez, tínhamos pouco tempo para agir.

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O Diabo veste Preto (Ferlane)Onde histórias criam vida. Descubra agora