O Diabo veste Preto (Ferlane)

ENCONTRO

Alane

Encaro minha imagem no espelho mas nada me agrada, já deve ser a décima roupa que coloco e desisto no meio do processo.

- Ai amiga, você tá linda - Beatriz diz irritada com minha indecisão.

- Eu não consigo gostar de nada - solto um murmúrio irritado.

- Até parece que isso faz diferença, ela já te viu até sem nada - Beatriz solta uma gargalhada e jogo um travesseiro nela.

Depois de perder a conta de quantas trocas eu fiz acabei optando por um conjunto de saia e top, deixei o cabelo solto e pus um salto, fiz uma maquiagem leve destacando mais os olhos e a boca, após concluir me olho no espelho finalmente me agradando do resultado, dou uma rebolada só pra não perder o costume.

- Você tá uma gostosa, se a Fernanda não casar com você eu caso - Beatriz diz em um tom brincalhão e nós gargalhamos. Logo ouço uma notificação no meu celular anunciando uma mensagem de Fernanda, a mesma estava me esperando em frente ao meu prédio. Pego tudo que preciso e saio. Ainda não acredito que Beatriz convidou Fernanda pra fazer um picnic no parque.

Mesmo da portaria consigo ver Fernanda me esperando encostada no carro, ela está maravilhosa, vestia uma calça pantalona que realçava suas pernas e um cropped que me dava a visão do seu abdômen definido, seus cabelos também estavam soltos, perfeitamente lisos chegando até o final da sua cintura, arfei com a visão. Senti seu olhar igualmente passear por todo meu corpo. Nos cumprimentamos com dois beijos no rosto, não pude deixar de sentir o maldito perfume, estou começando a ficar viciada nesse cheiro.

Após alguns minutos no trânsito finalmente chegamos ao parque, o dia estava lindo e o clima estava agradável, esperei que ela estacionasse o carro e logo depois fomos procurar o melhor lugar para ficarmos. Acabamos optando por ficar próximo ao lago, onde tinham várias árvores e a paisagem era maravilhosa. Estendi a toalha no chão e logo depois algumas guloseimas e também frutas, suco e pães.

- Eu nem lembro a última vez que vim aqui - Fernanda comenta enquanto observa ao redor, sua postura está relaxada.

- Eu vim poucas vezes com alguns amigos na época do teatro - lembro com nostalgia da época que me sentia plenamente feliz fazendo o que amava enquanto abro uma garrafa de água.

- Posso fazer uma pergunta? - Seus olhos encontram os meus, vacilo em tentar sustentar o contato. Assinto pra que ela prossiga.

- Por quê você foi embora? - há somente uma dúvida genuína em seu tom, quase como se precisasse de respostas.

É claro que ela procuraria essa resposta, acho que a última coisa que ela esperava ver quando acordasse era a cama vazia e um bilhete.

Travei. Na verdade nem eu sabia ao certo o motivo, como diria a ela que eu havia montado toda uma história na cabeça e no final dela não ficaríamos felizes juntas como nos contos de fadas? Que imaginei muito mais do que apenas um momento e fugi quando a realidade me bateu a porta? Como explicaria pra ela que fui embora quando na verdade queria ficar. Me limito apenas a fazer silêncio, me perdendo em meus próprios pensamentos.

Ela parece notar minha falta de respostas - Vamos combinar uma coisa? - sua mão toca de leve minha coxa, nossos olhares se encontram novamente, sinto um leve choque com seu simples toque - Não precisa fugir de mim, tá?! - solto um leve sorriso de canto, na tentativa de que ela entenda que é uma forma de concordar com isso. Ela sorri simples e toma um pouco de suco enquanto volta a observar a vista.

O tempo passou entre risadas e conversas, descobri que Fernanda era uma verdadeira cinéfila, que ama Djavan, que apesar do desastre de ontem na cozinha sabe fazer bolos muito bem e que ela já pousou pra uma marca de lingerie, o último detalhe me pegou de surpresa apesar de concordar que seu corpo era uma obra de arte. Sua companhia era tão agradável que me fez perder a noção do tempo, só me dando conta das horas quando o sol dava os primeiros sinais de se pôr. O céu alaranjado nos fez perceber que estava chegando a hora de ir embora.

Recolhemos tudo e saímos, outras pessoas também deixavam o local, muitos casais com seus filhos e cachorros brincando e rindo.

Encontramos um senhor muito simpático vendendo sorvete no caminho de volta e Fernanda não desistiu até que eu aceitasse, como uma criança eu acabei deixando pingar um pouco na minha roupa atraindo uma risada sonora de Fernanda. Fiz uma falsa cara de birra mas ela não parou de se divertir com minha falta de jeito. Seu polegar limpou o canto da minha boca causando um leve arrepio em mim, me senti levemente envergonhada.

No caminho de volta pra casa o silêncio era confortável, apenas uma música aleatória tocava no som do carro, eu observava as ruas movimentadas, o trânsito caótico da cidade, enquanto Fernanda diriga concentrada.

Nem me dei conta quando chegamos em frente ao meu prédio onde ela estacionou.

- Entregue - sua voz corta o silêncio enquanto seus olhos me fitam.

- Agradeço e tiro o sinto de segurança, Fernanda sorri gentil e se despede. Toco a porta do carro mas paro no instante seguinte, fecho os olhos por alguns segundos tomando um fôlego de coragem, me viro novamente para uma Fernanda que agora me encara confusa, selo nossos lábios me permitindo demorar um pouco mais, passado a surpresa logo sua língua cede passagem para a minha, damos início a um beijo cheio de vontade que esperou o dia inteiro para ser dado, apesar de calmo me deixa inebriada, sua mãos pousam em minha nuca fazendo um carinho gostoso, finalizamos o beijo assim que o ar se torna necessário dando vários pequenos beijinhos.

- Agora sim, obrigada por hoje. Boa noite - sorrio como uma criança sapeca enquanto me retiro do veículo deixando uma Fernanda totalmente absorta.

Dou mais um pequeno tchauzinho antes de entrar no prédio. É impossível controlar o sorriso bobo que insiste em tomar conta dos meus lábios.

Naquele momento fiz um pequeno acordo comigo mesma, faria o que ela pediu, não fugiria mais dela.

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Como estão?

;)