Capítulo 1

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Eu estava perdida em uma floresta. Tudo ao meu redor se resumia em árvores mortas e neblina. E escuro. Nada mais. Nenhum som, nenhum movimento. Não conseguia escutar nem a minha própria respiração.

Tudo ao meu redor estava morto, não havia vida aqui.

Mas havia algo.

Algo sinistro. Algo que queria me alcançar. Algo morto que queria chegar até mim.

Estava cada vez mais perto, eu podia sentir... E eu não podia me mexer, ou sair, ou respirar, ou ouvir... Estava cada vez mais perto...

E então eu me acordei ensopada de suor e ofegante.

Girei a cabeça para o criado mudo à esquerda da minha cama, mais precisamente para o relógio digital em cima deste que marcava, em números vermelho vivo, 2h46min.

Me levantei da estreita cama em que estava, me desenrolando dos lençóis, atravessei o pequeno quarto em cinco passos e fui até o banheiro, na porta ao lado. Não era possível ligar uma única maldita lâmpada por conta da falta de dinheiro. Liguei a torneira e enxaguei o meu rosto, com a esperança de que a água levasse junto todo e qualquer resquício do pesadelo junto pelo ralo, principalmente a sensação que me causava calafrios.

Mas era claro que não daria certo. Era idiotice tentar.

A água não era capaz de fazer isso por mim. Assim como nenhum terapeuta jamais pôde. Assim como nenhum medicamento prescrito jamais pôde.

Eu já nem devia mais temer esse pesadelo, já fazia mais de sete meses que ele me assombrava. E era sempre a mesma coisa.

A Floresta da Morte, como eu a apelidei, a neblina, o escuro e o torturante silêncio. Nenhum som, nenhum movimento, nenhuma vida. Nada além das sombras, como eu também apelidei, que eu sabia que queriam me pegar.

Se fosse o rugido de uma fera, se algo que eu soubesse o que era que estivesse me perseguindo, se houvesse algum som... mas nada. A única coisa que havia era uma mudança na atmosfera, algo que me fazia tremer e então eu sentia que a coisa, a sombra ou o que seja, iria me pegar.

"Isso sugere que o que você teme é o próprio medo", foi o que dissera o meu último terapeuta com frases de biscoito da sorte, mas depois de seis semanas e alguns medicamentos eu acabei desistindo. Não fazia diferença nenhuma. Apenas sabia que estava piorando, cada vez mais.

Fui até a minúscula e velha cozinha e tomei um copo d'água, ainda no escuro por conta da maldita conta de luz que geralmente vinha nas alturas por conta dos problemas elétricos. Fiquei observando o céu lá fora, através da janela. Isso costumava me acalmar, me lembrava da minha infância e de quando eu e meu pai nos deitávamos na grama da fazenda para olhar as estrelas e encontrar as constelações.

Mas isso não funcionou hoje, na verdade só piorou a situação. O céu estava negro feito breu e não havia uma única estrela. Isso era sinal de um longo e chuvoso dia pela frente.

Não dormi novamente; nem tentei. Não queria voltar para aquele mundo de pesadelos, para onde eu certamente iria caso fechasse os olhos.

Estava piorando. Cada dia que passava ele era mais longo, e eu tinha medo que chegasse um dia em que eu simplesmente não conseguisse acordar.

Quando eram seis horas da manhã fui tomar um banho. Tive de esperar um minuto até que a água saísse limpa pelo chuveiro. Limpa mas fria.

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