Capítulo 5

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Às sete da manhã meu pai e eu partimos.

A picape na estrada fazia barulhos e movimentos preocupantes para alguém que nunca tivesse andado nela, mas eu estava tranquila com isso.

Durante o percurso me surpreendi ao me pegar ansiosa para chegar logo à fazenda. Fazia bastante tempo que eu não ia lá. Oito meses. E antes lá era a minha casa. Foi onde eu nasci, onde eu cresci, de onde eu tenho as melhores lembranças da minha vida.

E eu não tinha percebido até agora o quanto eu sentia falta de lá.

Aproveitei a primeira meia hora de viagem para observar a paisagem que passava pelo outro lado da janela e meu pai escutou de bom grado os meus comentários de "Olha que lindo aquele prédio!" e "A cor daquela casa é horrorosa. Como alguém pode gostar disso?", nesse ponto ele fez um comentário sobre as diferentes opiniões das pessoas e em como o mundo ainda iria estar perdido por isso.

Quando entramos na rodovia eu disse:

_ Já chegamos à estrada! – E soei tão feliz que até me surpreendi.

_Sim, querida! - Meu pai sorria.

Eu sorri de volta.

O restante da viagem eu usei tentando dormir, mas acabei apenas fingindo.

Alguma parte do meu cérebro, com medo dos pesadelos que certamente viriam, agora ainda piores, bloqueou o meu sono para que eu não caísse na inconsciência.

Eu não sabia se agradecia à essa parte do meu cérebro ou se brigava com ela, já que eu teria de dormir em algum momento e era melhor fazer isso de dia na companhia do meu pai.

Um pouco antes de chegarmos acabei desistindo e me sentei direito no banco do carro. Sorri ao ver pela janela os campos e os animais que passavam por nós.

_É tão lindo! – Exclamei já me sentindo em casa. Durante todo esse tempo eu sentira falta daqui, mas eu achava que era mais por conta do meu pai.

Como eu estava enganada! A paisagem, a pureza do lugar! Quem sabe, talvez, os pesadelos de fato iriam embora agora que eu estaria de volta em casa.

Assim que meu pai parou com a picape na garagem da fazenda, eu desci correndo. Sorri assim que o sol fraco tocou minha pele e me encaminhei direto para o antigo carvalho logo adiante. Ele era antigo, bastante antigo. Sempre estivera ali, antes de eu nascer, antes de meu pai nascer, antes de meu avô nascer. Sempre uma força da natureza, imperturbável.

Respirei fundo o ar puro e sorri com o aroma da natureza. Como eu pude me esquecer desse pedacinho de paraíso onde eu cresci?

_Eu bem me lembro como você amava esse carvalho, desde pequena. – Meu pai apareceu atrás de mim.

_Ah, sim. – Eu disse sorrindo para ele. _A sombra é ótima.

_Lembra quando fazíamos piquenique aqui?

Concordei com a cabeça.

_Como eu poderia me esquecer disso? Você fazia sanduíches com muita maionese, aí vínhamos aqui e comíamos enquanto...

_Filha, lembra que eu disse que tinha alguém que eu queria que você conhecesse? – Ele me interrompeu.

Olhei para ele e segui o seu olhar por cima do meu ombro. Saindo da porta de nossa casa vinha uma mulher. Os pelos de minha nuca se arrepiaram imediatamente e de repente me senti com frio.

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