Capítulo 9

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Que diabos foi isso? Foi o meu primeiro pensamento.

Assim que meu pai e Bridget passaram pela porta do quarto deles, comecei a inspecionar cada centímetro do corredor, nada além daquele grão de sal. Peguei-o na mão e nada aconteceu, como nada deveria acontecer.

Eu realmente não estava entendendo nada, nada da situação toda. Quem era o meu pai realmente? O que eram os meus pesadelos? Era eu, na verdade, quem estava enlouquecendo? Será que o que eu vira no pé de Bridget era mesmo real ou minha mente acabara de inventar aquilo?

Balancei a cabeça, eu precisava me livrar de todas essas dúvidas, pelo menos por enquanto. Me tranquei dentro do quarto e, finalmente, me enfiei debaixo das cobertas. E me obriguei a dormir.

O pesadelo apareceu, como esperado, e foi ainda mais torturante ser obrigada a assistir minha mãe morta agora que eu sabia que é ela. Me acordei ofegante às cinco da manhã.

Me encolhi na cama, me escorei na cabeceira e peguei o segundo travesseiro para abraçar. Qual o limite de uma pessoa? Quanto tempo eu poderia aguentar esse inferno? Por quanto tempo seria obrigada a testemunhar o corpo de minha mãe machucado e maculado, sem vida, uma carapaça vazia?

Deixei as lágrimas rolarem livremente.

Quando me dei conta eram quase sete da manhã. Tomei um banho rápido e me vesti. Seguia pelo corredor para o andar de baixo quando a voz de Bridget, vinda do quarto do meu pai, me parou ao dizer:

_Mas você fez tudo isso para trazê-la para cá e eu não acho certo, amor.

_Milla só estava aumentando os custos, aqui ela é mais barata. – Ouvi a voz do meu pai fria e inexpressiva.

Foi um banho de água gelada, muito pior que isso. Fiquei estática por um segundo e depois voltei para o meu quarto. Meu pai, o meu pai fez isso comigo? Eu estava na fazenda porque ali eu era mais barata! Droga, ele nem se importava comigo!

Me joguei na cama. O que eu vou fazer? Eu não podia ficar ali! Não, de jeito nenhum! Não com pessoas que não se importavam comigo, não com tudo o que o meu pai fizera!

Olhei para a porta do meu guarda-roupa. Então era isso, eu teria que ir embora, ele nem precisava pagar nada pra mim. Não me virei por oito meses, praticamente sozinha? Eu me viraria bem agora. Certamente eu seria bem mais barata desse jeito.

Peguei minha mochila em cima do roupeiro e comecei a colocar todas as minhas peças de roupa ali dentro. Cacei também algumas coisas básicas de higiene e um kit de primeiros socorros.

Eu não sabia o que o meu pai faria se soubesse o que estava planejando, talvez me impedisse. Mas eu não tinha mais tanta certeza assim, não sabia qual era a real intenção dele. Me manter por perto por quê? Talvez ele desse Glória aos céus quando eu fosse embora. Contudo, não podia arriscar. Ele não podia saber o que estava planejando antes que eu fosse embora.

Acabei deixando minha mochila em cima da cama enquanto descia para pegar alguns mantimentos. Como eu iria sair sem ser notada e o que eu iria fazer depois disso ainda era um mistério para mim. Não podia sair que nem uma louca por aí, mas não suportava ficar naquela casa nem mais um segundo.

Quando cheguei à cozinha fui direto até a dispensa, peguei alguns biscoitos e frutas secas, peguei também duas maçãs. Então me encaminhei até a geladeira para pegar duas garrafas de água. Assim que toquei a porta uma voz grave me parou.
_Ah, Flynt, talvez você queira conhecer Milla, a filha do patrão. Me virei sorrindo para encarar o capataz de meu pai.

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