Capítulo 15

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Não sei quando paramos de correr. Quando foi que o fôlego acabou. Apenas sei que eu nunca correra tanto em minha vida, nem para tão longe. Eu estava falando de quilômetros. Cerca de vinte a vinte e cinco quilômetros.

Flynt e eu alternamos o tempo todo entre corrida e uma caminhada rápida, sempre de mãos dadas. Ele me apoiou durante todo o caminho, sempre me fazendo seguir em frente. E eu não poderia estar mais agradecida.

Meu cérebro não estava funcionando direito, muito menos os meus pulmões. Não conseguia entender, ou até mesmo lembrar, o que acontecera, só sabia que precisava seguir em frente. Era necessário seguir em frente.

Enfim, chegamos a algum lugar. Um posto onde passavam os ônibus que iam para Boston.

Flynt olhou para os lados, então me guiou para a lateral do prédio, para os banheiros. Meu corpo todo estava tremendo. Não sentia minhas próprias pernas. Meus pulmões estavam queimando. Eu estava muito tonta. Minha garganta doía. Minha cabeça parecia pesada demais.

_Senta! – Ele ordenou também sem fôlego. Flynt soltou minha mão e eu me sentei, colocando a cabeça em meus joelhos e concentrando todas as minhas forças em não desmaiar.

Flynt não sentou imediatamente, ele mexeu em sua mochila, e só depois veio descansar ao meu lado.

_Você está bem? – Ele perguntou, parecendo já ter recuperado quase todo o fôlego.

Respirei fundo.

_Sim. – Menti. E menti feio porque Flynt me encarou de cima a baixo e ergueu uma sobrancelha.

_Percebe-se. – Ele comentou com a sombra de um sorriso brincando no canto de seus lábios.

_Desculpa, mas não estou acostumada a correr uma maratona. – Repliquei sarcástica enquanto me sentava mais ereta.

_Tecnicamente você correu meia maratona. Você não aguentaria uma maratona inteira.

_Obrigada! – Grunhi irritada.

_Ei, desculpa! – Flynt desculpou-se rapidamente. _Só estava tentando distraí-la.

Encarei-o. E ali, olhando nos olhos de Flynt, tudo voltou.

As Sombras. Minha mãe. Bridget. Meu pai. A fuga. Flynt e Leo. Tonteei por um segundo e achei que ia vomitar.

Me senti mal por um pouco mais de um instante. Flynt estivera lá por mim durante todo o tempo, me ajudando a seguir em frente, segurando a minha mão. Literalmente.

E então me lembrei do barulho que ouvi quando estávamos deixando a fazenda, quando eu não ousara olhar para trás. Quando eu nem sequer era capaz de pensar nessa possibilidade.

_Que barulho foi aquele?

Flynt desviou o olhar.

_Flynt, que barulho foi aquele? - Insisti, agora mais séria.

_Milla...

_Flynt, responde. – Ordenei da maneira mais incisiva que eu conseguia.

Flynt me olhou, e desconfortável ele disse:

_Parte da casa explodiu e pegou fogo.

Não consegui assimilar as suas palavras.

_Essa história toda não está fazendo bem pra minha cabeça. – Falei comigo mesma.

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