Minha cabeça dói.
Na verdade isso era um eufemismo. Minha cabeça parecia prestes a explodir. Um trator havia passado por. Um trator não, um caminhão.
Tentei abrir os olhos, mas a luz era muito clara e fui obrigada a fechá-los novamente.
Não sabia onde estava. Não sabia o que acontecera.
A única coisa que eu sabia era que eu queria morrer para que essa dor de cabeça passasse.
Passei alguns segundos me acostumando ao ambiente.
Era claro, a luz passava pelas minhas pálpebras. Podia sentir cheiro de álcool e remédio; havia sons distantes.
O alívio foi imediato. Som.
Havia som ali, o que queria dizer que eu estava segura.
Finalmente abri os olhos e, com uma rápida olhada para as paredes brancas, constatei que o que eu imaginava estava correto. Eu estava em um quarto de hospital.
Tentei me sentar e percebi que todo o meu corpo estava dolorido.
_Milla! – A voz esganiçada de Gina chegou até mim e então já vi sua cabeça laranja. _Enfermeira! Ela já acordou! - Ela chamou. Alto demais.
Queria falar pra ela isso, mas não sentia minha língua, nem nada na minha boca. Comecei a entrar em pânico novamente.
Logo a enfermeira de meia-idade chegou correndo no quarto.
_Não fale! – Ela avisou com pressa, como se fosse necessário.
Neguei com a cabeça e apontei para a minha boca enquanto me sentava na cama.
_Não se mexa rapidamente. – Ela me avisou colocando mãos em meus ombros e me empurrando delicadamente de volta até os travesseiros. _Você precisa descansar bastante.
Concordei com a cabeça e apontei de novo para a minha boca. Por que eu não consigo falar?
_Ah! – Ela disse. _A anestesia ainda não deve ter passado. Tivemos que... bom, costurar a sua língua.
Arregalei os olhos e pus a mão sobre a boca.
_Não se preocupe, vai ficar tudo bem se você não falar. Nada.
Concordei com a cabeça, ainda confusa demais para ter qualquer outra reação.
_Ah! Eu fiquei tão preocupada! – Gina disse. _Você estava se contorcendo... Eles falaram que o nome certo é convulsão. – Ela pegou a minha mão. _Que bom que você finalmente está bem.
Lancei um sorriso sem graça para a minha amiga ruiva.
Arregalei os olhos ao perceber que podia, finalmente, mexer minha boca. E logo senti um gosto enferrujado de sangue e alguma coisa áspera em minha língua. Foi então que senti uma dor latejante.
O que quer que tivesse acontecido naquela loja me machucara bastante, não só fisicamente, mas também fizera algo em minha mente. Em minha alma.
Gina passou o resto do dia comigo no hospital, contando todas as coisas que já aconteceram em sua vida e que eu ainda não sabia, me impedindo de falar.
Fiz tantos exames que achei que se fizesse mais um, enlouqueceria.
Tobby, nosso colega de trabalho loiro e forte, também veio me visitar. Fora ele quem me achara no chão, "convulsionando", e chamara a ambulância.

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SOMBRAS I
FantasyVivendo sozinha em Boston, tentando fazer uma vida para si mesma, ela tenta ignorar o frio na espinha e o terror cada vez que cai na inconsciência: Milla está sendo atormentada por pesadelos cada vez mais recorrentes, e cada vez mais reais. Sua vid...