Capítulo 2

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Minha cabeça dói.

Na verdade isso era um eufemismo. Minha cabeça parecia prestes a explodir. Um trator havia passado por. Um trator não, um caminhão.

Tentei abrir os olhos, mas a luz era muito clara e fui obrigada a fechá-los novamente.

Não sabia onde estava. Não sabia o que acontecera.

A única coisa que eu sabia era que eu queria morrer para que essa dor de cabeça passasse.

Passei alguns segundos me acostumando ao ambiente.

Era claro, a luz passava pelas minhas pálpebras. Podia sentir cheiro de álcool e remédio; havia sons distantes.

O alívio foi imediato. Som.

Havia som ali, o que queria dizer que eu estava segura.

Finalmente abri os olhos e, com uma rápida olhada para as paredes brancas, constatei que o que eu imaginava estava correto. Eu estava em um quarto de hospital.

Tentei me sentar e percebi que todo o meu corpo estava dolorido.

_Milla! – A voz esganiçada de Gina chegou até mim e então já vi sua cabeça laranja. _Enfermeira! Ela já acordou! - Ela chamou. Alto demais.

Queria falar pra ela isso, mas não sentia minha língua, nem nada na minha boca. Comecei a entrar em pânico novamente.

Logo a enfermeira de meia-idade chegou correndo no quarto.

_Não fale! – Ela avisou com pressa, como se fosse necessário.

Neguei com a cabeça e apontei para a minha boca enquanto me sentava na cama.

_Não se mexa rapidamente. – Ela me avisou colocando mãos em meus ombros e me empurrando delicadamente de volta até os travesseiros. _Você precisa descansar bastante.

Concordei com a cabeça e apontei de novo para a minha boca. Por que eu não consigo falar?

_Ah! – Ela disse. _A anestesia ainda não deve ter passado. Tivemos que... bom, costurar a sua língua.

Arregalei os olhos e pus a mão sobre a boca.

_Não se preocupe, vai ficar tudo bem se você não falar. Nada.

Concordei com a cabeça, ainda confusa demais para ter qualquer outra reação.

_Ah! Eu fiquei tão preocupada! – Gina disse. _Você estava se contorcendo... Eles falaram que o nome certo é convulsão. – Ela pegou a minha mão. _Que bom que você finalmente está bem.

Lancei um sorriso sem graça para a minha amiga ruiva.

Arregalei os olhos ao perceber que podia, finalmente, mexer minha boca. E logo senti um gosto enferrujado de sangue e alguma coisa áspera em minha língua. Foi então que senti uma dor latejante.

O que quer que tivesse acontecido naquela loja me machucara bastante, não só fisicamente, mas também fizera algo em minha mente. Em minha alma.

Gina passou o resto do dia comigo no hospital, contando todas as coisas que já aconteceram em sua vida e que eu ainda não sabia, me impedindo de falar.

Fiz tantos exames que achei que se fizesse mais um, enlouqueceria.

Tobby, nosso colega de trabalho loiro e forte, também veio me visitar. Fora ele quem me achara no chão, "convulsionando", e chamara a ambulância.

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