Permaneci aconchegada à raiz do carvalho por tempo indeterminado. Assisti o sol nascer e esperei a fazenda ganhar vida novamente.
Então fui até o celeiro, onde fora improvisado um quarto para os homens do meu pai. Observei de longe até ver Flynt sair de lá, assim que me viu também ele veio até mim.
_Bom dia! – Flynt me cumprimentou coçando a nuca.
_Bom dia! – Cumprimentei de volta com um sorriso.
_Olha, em primeiro lugar, eu queria me desculpar por ontem... Eu sei que eu fui bem idiota.
_É, foi. – Eu concordei cruzando os braços. _Só não entendi por quê.
Ele balançou a cabeça e respirou fundo.
_Milla, é tudo meio complicado... Eu te julguei mal. Eu pensei que você era... Uma coisa que você não é.
_Você achou que eu estava sendo infantil e idiota. – Constatei.
_Também.
_Também? O que mais? – Perguntei franzindo o cenho.
_Eu não posso te explicar agora. É bem... esquece isso.
_Entendi. – Eu disse embora não entendesse. _Bom, você tem que entender que eu preciso ir embora. Essa casa... Essa casa piora tudo.
_Tudo?
_Os pesadelos... Você não sabia. - Digo me dando conta.
_Não. – Ele respondeu olhando dentro dos meus olhos.
Eu tinha tido a impressão tão nítida de que ele tinha lido os meus pensamentos, que eu nem percebi que isso não era possível, de que eu não tinha contado sobre isso para ele e que ele não sabia o grande favor que tinha me prestado aquele dia no hospital.
_Bom, eu tenho pesadelos. Aqui eles são piores. São praticamente reais. – Eu não podia dizer pra ele que eles eram reais, ele me acharia mais doida do que eu já devia parecer.
_Eu tenho que ir. – Ele disse após dar uma olhada para trás. _Não faz nada, tá bem? Logo eu vou falar com você. Não vai embora. – Ele disse urgentemente antes de sair apressado em direção à plantação. Talvez ele já me achasse doida o suficiente.
Não tive como escapar da companhia do meu pai enquanto lidava com os afazeres do campo. Concentrei-me completamente nas tarefas, bloqueando qualquer outro pensamento. Não tinha cabeça nem capacidade para julgar o que era verdade e real do que não era, muito menos para julgar o seu caráter, então foquei apenas no que eu sabia de melhor e que me era fácil e certo.
Na primeira oportunidade que eu tive, escapei de fininho para dentro de casa novamente. Bebi um copo de água e meu olhar recaiu em cima do telefone. Desde o dia que cheguei não falei mais com Gina. Estava na hora do intervalo dela, quase meio-dia.
Ela atendeu no segundo toque.
_Milla? Sua doida! Esqueceu que eu existo?! Eu estava preocupada com você! - Ela me cumprimentou.
_Também senti a sua falta. – Eu disse brincalhona.
_É? Não parece! Tentei te ligar umas trocentas vezes, mas seu telefone está ou fora de área ou desligado.
_Hum... Acho que eu esqueci de botar ele a carregar.
_Como assim, Milla?! O que pode fazer você esquecer de botar o telefone a carregar? Eu que trabalho o dia todo não esqueço. E não esqueço de ligar pra você, mas você está ocupada demais esquecendo de botar o telefone a carregar pra atender!

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SOMBRAS I
FantasiVivendo sozinha em Boston, tentando fazer uma vida para si mesma, ela tenta ignorar o frio na espinha e o terror cada vez que cai na inconsciência: Milla está sendo atormentada por pesadelos cada vez mais recorrentes, e cada vez mais reais. Sua vid...