Capítulo 14

2 1 0
                                        

Levei um instante para me recuperar do impacto que tirou o ar dos meus pulmões. Acabei de cair um andar e meio.

Mas assim que a razão voltou a mim, me levantei. E corri.

Não sei exatamente para onde estava correndo até tropeçar em uma raiz. O carvalho. Eu estava diante do grande e antigo carvalho. Meu refúgio.

Parei para respirar e senti a ardência gelada nos lugares em que as sombras me tocaram. Soltei um grito que resumia tudo o que estava sentindo. Medo. Pavor. Tristeza. Raiva. Ódio.

Logo me sentei na raiz do carvalho e encostei a cabeça no tronco. Então começou a chuva. Bom, eu preferia estar ali fora com a chuva do que lá dentro com as sombras e a minha mãe zumbi.

_Milla? – Uma voz grave questionou-me. Levantei o olhar para encarar a enorme estatura de Leo logo diante de mim. Eu nem percebera ele se aproximar.

_Oi. – Eu disse em um soluço. Não tinha percebido que estava chorando até aquele momento. Tentei me controlar. Não podia parecer assim tão frágil na frente dele.

_Você está bem? – Ele perguntou preocupado sentando-se ao meu lado me analisando com olhos rápido.

_Estou. – Menti descaradamente com a voz arranhada enquanto mais lágrimas se juntavam à mistura molhada em meu rosto. Leo passou um braço por sobre meus ombros. Seu calor me deu um certo alívio. Ele era o oposto das sombras. O oposto.

_O que aconteceu? – Flynt perguntou aparecendo sem fôlego diante de nós. Ele correra para chegar até ali.

Levantei meus olhos para Flynt e o olhar que trocamos é cheio de significado. Eu sabia que ele sabia o que tinha acontecido.

_Temos que tirá-la daqui. – Flynt disse desviando o olhar do meu e focando em Leo.

_Eu devia ter imaginado que isso aconteceria. – Leo disse e me olhando com pena. Não tive sequer forças para me irritar com isso. _Você está certo, temos que tirá-la daqui.

Mesmo no meu estado ainda tive forças de contestar.

_Não vou deixar meu pai com ela. – Teimei em um soluço.

Leo segurou meu rosto com as duas mãos, forçando-me a encará-lo. Ele olhou bem fundo nos meus olhos e mesmo no escuro era possível identificar toda a urgência que ele me passava. Sua expressão era exasperada.

_Você tem que ir com Flynt. Eu cuido do seu pai, não vou deixar que nada aconteça com ele.

Eu assenti em um torpor, as lágrimas já haviam parado de cair.

Não sei como me levantei, tinha certeza que estava aos tropeços. E não soube a quem pertencia a voz que disse:

_Minha mochila está dentro do meu guarda-roupa. Preciso pegá-la.

_Fique aqui com ela. – Escutei a voz que achava ser de Flynt. Logo senti alguma coisa ser colocada em minhas costas.

_Treine-a. Ensine tudo à ela. Mantenha-a segura. – Uma voz muito parecida com a de Leo disse com urgência.

_Sim, tio Leo.

_Não me chame assim...

_Pode deixar, Milla vai estar segura. – A voz de Flynt afirmou.

Talvez os dois tivessem trocado um abraço, acho que algo tocou o meu braço, e depois fui escoltada por um corpo quente. Agradável.

Um barulho muito alto me faz tomar um susto e tomar a minha consciência pareceu voltar.

_Corre, Milla! – Flynt disse me puxando pelo braço.

E foi isso o que eu fiz. Eu corri. Eu apenas corri sem pensar em mais nada, apenas na mão quente de Flynt envolta da minha, me passando calor e segurança. E força, principalmente força. Então eu corri. Corri como nunca na vida.

SOMBRAS IOnde histórias criam vida. Descubra agora