Passei a semana em casa com o meu pai me cuidando.
Durante o primeiro dia ainda era capaz de apenas tomar água, e comer iogurte, como me mandaram. Li o bilhete do garoto misterioso uma vez, dobrei-o e escondi-o debaixo do meu travesseiro.
No segundo dia comecei a comer outras coisas geladas não ácidas que fossem cremosas ou líquidas. Gelatina também. Comecei a falar de novo. Quer dizer, poucas coisas como "sim", "não", "pode ser" e "Pai!". Li o bilhete do garoto misterioso três vezes.
Na quinta-feira eu já estava achando que pudesse enlouquecer. Estava assistindo TV com o meu pai, e me levantei para ir ao banheiro. Mas quando estava passando pela porta do meu quarto, não resisti e peguei o bilhete mais uma vez: Espero que tenha ficado bem. Adeus.
Bem, ele esperava que eu tivesse ficado bem, mas isso não queria dizer que ele se preocupava comigo, ou queria? Mas ele escreveu Adeus. O que quer dizer que não iríamos mais nos ver, ou talvez ele só não esperasse que nos veríamos. Ele não queria mais me ver ou achava que não iria me encontrar?
Eu não conseguia parar de pensar que se eu estivesse com ele os meus pesadelos estariam longe. Depois que voltei para casa, os pesadelos voltaram junto. Claro que eu não disse nada sobre isso para o meu pai, não era como se eu quisesse preocupá-lo ainda mais. Ele já sabia dos pesadelos, ele sabia dos tratamentos que falharam, mas não queria que ele saiba que eles estavam começando a se tornar reais.
Larguei o bilhete de volta em seu lugar, embaixo do meu travesseiro, e fui para o banheiro, meu destino inicial.
Por que eu não conseguia parar de pensar naquele garoto?
Gina chegou logo depois do almoço para nos despedirmos.
_Como eu fico agora? - Ela perguntou com lágrimas nos olhos azuis.
_Ah, Gina! - Exclamei puxando-a para um abraço.
_Promete que vai vir me visitar? - Ela perguntou se afastando um pouco para me olhar nos olhos.
_Claro! – Exclamei. _E você também, ok?
_Não fale tanto! - Ela reclamou com a testa enrugada em preocupação e um sorriso choroso.
Eu ri com a preocupação dela
_Agora eu tenho que ir. – Ela disse enxugando as lágrimas. _Me liga quando você chegar, viu?
Concordei com a cabeça e assisti à minha única e melhor amiga sair pela porta.
_Se arrume que temos que ir até o hospital daqui a pouco. – Meu pai anunciou assim que a porta se fechou atrás de Gina.
Fiz o que o meu pai me mandou e logo estávamos de volta ao hospital. E, ao contrário das pessoas normais, eu me sentia aliviada, em paz e até feliz por estar ali. Não havia nada de assustador para mim ali.
O médico me examinou mais uma vez, analisou todos os exames na companhia de meu pai e explicou o que cada coisa significava.
Resumindo, eu estava bem. Realmente bem. O que fez o médico dizer que o que aconteceu fora provavelmente por conta de uma má alimentação combinado com o fato de eu andar muito estressada combinado à falta de sol combinado à baixa pressão do ar combinado à falta de vitaminas.
Ou seja, eu estava bem, mas fazendo tudo errado.
Ele primeiramente fez uma lista de todas as coisas que eu devia fazer, como pegar cerca de meia hora de sol por dia, durante o início da manhã, e aprovou o fato de eu estar indo morar em uma fazenda. Também me deu uma lista de coisas que eu deveria comer, e como eu deveria comer.

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SOMBRAS I
FantasíaVivendo sozinha em Boston, tentando fazer uma vida para si mesma, ela tenta ignorar o frio na espinha e o terror cada vez que cai na inconsciência: Milla está sendo atormentada por pesadelos cada vez mais recorrentes, e cada vez mais reais. Sua vid...