Capítulo 13

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Já eram quase cinco da manhã. Eu deveria ter dormido. Mas era impossível.

Fazia quase seis horas desde que Flynt me deixara aqui, e desde então eu estava com a luz acesa e enrolada em um cobertor.

Eu sabia que isso não era muito esperto, mas não tive a decência nem de ir até a cozinha e pegar o quanto de sal eu conseguisse para me proteger. Acontecia que meu subconsciente achava que uma luz acesa e meu corpo enrolado em um cobertor iria me proteger contra um demônio. Ridículo.

Eu já tinha resolvido me jogar de cabeça nessa loucura. Ignorar não iria adiantar nada. Mas a coragem estava me faltado. Eu só queria que tudo fosse mais simples.

Pra me distrair comecei a traçar planos para a minha vida. Fugir eu não ia, não sabendo que o meu pai estava em perigo e que nada do que aconteceu era de fato culpa dele.

Eu precisava convencer Leo de que eu deveria ser uma caçadora e de que deveria ser treinada. Mas como? Ele me pareceu ser uma boa pessoa. Claro, tirando fora os comentários sarcásticos e o fato de ele me subestimar.

No entanto, pude perceber que ele só queria a minha segurança. Ainda assim, como Flynt dissera, eles precisavam de mim para isso. Restava saber como convencê-lo.

E então a luz se apagou.

Me enrolei mais ainda no cobertor e fechei os olhos com força.

Vai passar, vai passar...

_Milla... Milla... – A voz arranhada pronunciou meu nome como se estivesse falando diretamente no meu ouvido. Isso enviou um frio por todo o meu corpo, deixando todos os meus pelos em pé.

Percebi, através das pálpebras fechadas, a luz reacender, mas não ousei abrir os olhos.

_Milla! – A voz gritou. Levei um pequeno susto, mas permaneci da mesma forma, enrolada no cobertor. A voz que me atormentava estava carregada de agonia.

As sombras estavam em volta de mim, pude sentir, estavam me cercando. Eu conseguia perfeitamente sentir sua presença.

_Milla... Milla... Milla... - Era a mesma voz, mas dessa vez soou um tanto mais familiar.

Não vou cair nesse truque.

Algo frio, realmente muito frio, tocou meu braço sobre o cobertor, e enviou uma onda congelante e dolorosa. Eu soltei um grito de dor, mas ainda não me mexi. Então as sombras alcançaram o meu ombro, a mesma dor congelante foi enviada. Eu estava paralisada de pavor.

Não pode chegar à minha cabeça. Pensei.

Então me levantei de supetão e joguei a coberta para trás de mim enquanto a onda gelada tocava as minhas costas, enviando a mesma dor congelante, desta vez ainda mais forte. Involuntariamente soltei um grito. Mas não abri os olhos.

Pude me concentrar em sentir as sombras em minha volta, e fui andando para trás até ser encurralada na parede.

_Milla... – Enfim reconheci a voz que me suplicava. No susto da revelação acabei abrindo os olhos. Eu não devia ter feito isso.

Ali estava ela. Seu corpo, no caso. Seu corpo morto-vivo, precariamente em pé, diante de mim. Estava usando uma roupa branca, a que os cadáveres vestiam no IML segundo os filmes investigativos. Ela estava toda suja de sangue. O cheiro pútrido logo alcançou o meu olfato, e me fez ter vontade de vomitar. Ela estava, também, cercada pelas sombras. Na verdade, ela avançava em minha direção conjuntamente às sombras.

_Milla... – Ela implorou enquanto dava um passo à frente

_Milla... – Ela repetiu enquanto dava outro passo se aproximando de mim, assim como as sombras. Sem pensar, me joguei pela janela aberta logo atrás de mim, a mesma pela qual eu subira mais cedo.

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