Capítulo 12

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Durante a tarde dei um jeito de fugir do meu pai. Peguei tarefas aleatórias para realizar bem longe dele.

A conversa com Flynt não fora nada esclarecedora, mas não iria embora. Não agora, não hoje. Amanhã quem sabe?

A verdade era que eu queria ouvir o que Flynt tinha a dizer, o que quer que fosse. Embora eu desconfiasse que ele não tivesse nenhum motivo capaz de me prender ali.

Se ele tivesse, ele já teria dado, não? Eu amava meu pai, amava os animais, amava a natureza, amava o meu carvalho. Mas eu não era capaz de ficar, principalmente por causa do meu pai, por causa de Bridget e por causa das sombras, que eram ainda mais fortes ali.

Quando chegou a noite, tomei meu banho, coloquei uma roupa confortável e espiei dentro do meu guarda-roupa a mochila. Fiquei encarando-a, tentando decidir se no dia seguinte eu fugiria.

Não pude falar mais com Flynt hoje, e nem vira Bridget o dia todo, pois ela estivera arrumando algumas coisas do casamento. Agora eu sabia que ela estava em casa, chegou quando eu estava acabando de jantar. Lavei meu prato rápido e subi correndo para o meu quarto.

Talvez amanhã não fosse o dia certo pra ir embora. Eu precisava de um plano para ir, e eu não tinha nenhum. Não sabia para onde ir, sabia apenas para onde não ir.

Com Boston fora de consideração eu precisava de um novo destino. Até que a fazenda, que eu citei só pra argumentar com Flynt, não era uma ideia tão ruim. Precisava sair para pensar, caminhar pela fazenda, assim como eu costumava fazer antes, quando meus problemas eram tão amenos que agora eu nem era capaz de lembrar.

Escalei a janela do meu quarto para o lado de fora, coisa que não fazia há tanto tempo que nem lembrava quando aprendi. Como estava desacostumada, levei um tempinho a mais do que eu costumava para chegar até o chão.

Caminhei um bom tempo observando o céu, a lua, as estrelas. Eu costumava observá-los com meu pai, ele me ensinou o nome das principais constelações. Agora quando pensava nisso tinha vontade de gritar.

Foi então que focalizei uma luz vinda do galpão onde meu pai guardava o trigo. Fui até lá, discreta e calmamente, como se eu nem existisse.

Me aproximei pela lateral, mas não conseguia ver nada. Pelo menos eu podia escutar perfeitamente. E o que escutei me levou a esfregar os ouvidos.

_Você tem ideia do que acontece se contar pra ela? Vamos ser descobertos. – Disse o capataz do meu pai.

_Leo, ela precisa saber. Se ela não souber sobre tudo, ela vai embora. – Flynt respondeu.

Leo, o capataz do meu pai, suspirou.

_Às vezes eu me pergunto se não é melhor que ela vá. O mais longe possível, longe o suficiente para estar segura.

_Mas você mesmo disse que não importa pra onde ela vá, ela vai continuar a ser caçada.

_Bom, o Gary é que é que ele não quer, Gary é um dos fracos, normais. Já a garota...

_Ela me falou dos pesadelos. Sei que tem mais, ela não fugiria por pouco.

_O que você sabe, Flynt?

_É, o que você sabe, Flynt? – Repeti a pergunta do capataz, enfim aparecendo.

Os dois apenas me encararam.

_O que você sabe, Flynt? O que mais que tem? Quem é que iria me caçar, me caçar por quê? – Eu sabia que minha raiva era má direcionada, até porque pelo que eu tinha entendido Flynt queria me contar tudo, seja lá o que tudo fosse. E mesmo que Leo não quisesse, bom, ele me queria segura. Mas segura do quê? Isso era loucura! Quem iria querer me caçar, o que ganharia com isso? O que queria dizer "Gary é um dos fracos, normais"?

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