Capítulo 40

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POV Camila

Aquela manhã começou como de costume: um caos orquestrado. A rotina no sítio começava cedo e, por incrível que pareça, eu estava gostando de acordar junto com o galo. Àquela altura eu já havia feito meus exercícios diários e estava na cozinha, preparando o café da manhã.

O aroma das panquecas na frigideira preenchia a cozinha, enquanto ouvia Manu cantarolando no chuveiro, junto com a mãe.

Depois da nossa discussão, Ellen demorou a voltar para casa e quando chegou, decidiu dormir no sofá. Eu ainda sentia a tensão da noite anterior entre nós, mas estava determinada a mudar isso.

Quando eu finalizava a panqueca, Manu apareceu na cozinha, envolta em uma toalha de unicórnios rosa, seus cabelos molhados deixando rastros de água pelo chão. Seus olhos brilharam ao ver a mesa posta para o café-da-manhã.

— Ual, panquecas! — Ela exclamou animada, correndo em minha direção e abraçando minhas pernas.

— Com chocolate? — Perguntei, sorrindo para ela.

— Dose dupla! — Brincou, roubando umas gotinhas de chocolate do balcão.

— Manu, filha, vem colocar uma roupa. — Ellen chamou do quarto.

— Você arruma meu cabelo? — Ela pediu olhando para mim, juntando as duas mãozinhas, como se fizesse uma prece.

Depois de ajudar Manu a se vestir e pentear seu cabelo, nos sentamos para comer. Ellen ficou em silêncio e evitava me olhar nos olhos.

Manu, alheia àquele clima tenso, continuava animada, falando sem parar. Quando ela se distraiu brincando com uma boneca, aproveitei a brecha para conversar com Ellen.

— Ellen, sobre ontem à noite... — Comecei, mas fui interrompida por suaves batidas na porta.

— Vovó! — Manu falou, correndo em direção à minha avó, que entrava pela porta, com uma fôrma de pão com chimia.

— Querida. — Vovó abraçou a pequena. — Já está pronta para ir para a escolinha?

— Simpirilim! — Ela respondeu fazendo graça.

— Vovó, que bom te ver. — Abracei a Dona Mercedes com força. — Cadê o vovô?

— Ah, minha filha... Já foi levar o Venâncio para tratar os bichos.

— Dona Mercedes, bom dia. — Ellen cumprimentou a vovó com dois beijos. — Desculpe não poder ficar, mas tenho que levar essa pequena para a escola e correr para o consultório.

— Não se incomode, querida. Depois de tantos anos sem nenhum médico aqui no vilarejo, eu sei que você deve estar bem ocupada. — Ela sorriu com ternura, mas havia uma leve sombra em seus olhos. — Não sei como você ainda tem pique para farrear no bar. — Vovó ergueu a sobrancelha, como se soubesse de alguma coisa.

As bochechas de Ellen coraram e, mesmo tentando disfarçar, percebi o seu desconforto.

— Não fique encabulada, minha filha. — Vovó falou, amenizando o clima. — Em cidade pequena, você sabe que as notícias correm mais do que poeira no asfalto, né? — Ela acrescentou, antes de sorrir novamente para Ellen.

Quando Ellen e Manu saíram, me sentei com a vovó, na varanda. Com a xícara de café entre as mãos, observei Olaf correndo solto pelo arado. Ele galopava livremente pela grama verde e conforme corria, sua crina esvoaçava contra o vento, como uma bandeira branca.

— Como você está, minha querida? — Vovó falou suavemente, chamando a minha atenção com leves batidinhas em minha perna.

Respirei fundo e forcei um sorriso para tranquilizá-la.

Cadela - Camren GIPOnde histórias criam vida. Descubra agora