Capítulo 32

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POV Camila

À medida que eu subia o morro ao encontro de Cláudia, um aperto inexplicável consumiu o meu coração, me forçando a passar a mão no peito, numa tentativa de me acalmar. Por instinto, agarrei o pingente em formato de coração que Lauren me deu no dia do aniversário da vovó. Me julguem! Mas, eu não consegui me desfazer dessa coleira.

Enquanto eu caminhava, desviando dos buracos no chão de terra batida, observei o lugar. Era tudo tão precário e carente. Contudo, em meio às barracas construídas com tábuas de madeira podre e esgoto correndo a céu aberto, havia algumas crianças felizes brincando de bola, alheias às dificuldades da vida.

Sorri quando um menininho tentou driblar o amigo e acabou caindo com a bunda no chão. Como qualquer criança, ele riu do seu tropeço, se levantou e voltou a correr. Para ele foi tão simples recomeçar. Para as crianças, tudo é verdadeiramente tão simples. Se levarmos um pouco da nossa criança interior para a nossa vida adulta, seremos tão mais leves.

Passei a mão na minha barriga e conversei em silêncio com meu filho. — Eu vou recomeçar e tudo será melhor porque eu terei você comigo, meu anjinho. — Eu já o amava tanto. Apesar de todo o tormento que minha vida estava, meu peito transbordava de amor e eu já estava toda derretida pelo meu bebê e como uma leoa eu protegeria meu filho a qualquer custo. O meu amor vai ser suficiente para suprir a falta da Lauren. Jamais deixaria que ele carregasse a culpa de acabar com qualquer tentativa de reconciliação da mãe com a sua esposa. Seremos nós dois daqui pra frente. Juntos.

Foi com esse pensamento que mal bati na porta da casa de Cláudia e ela atendeu com um sorriso largo.

— Não repara muito não, mas eu fiz bolinho para agradecer tudo o que você fez por mim. — Eu avistei a mesa posta, com um bolo e café. — Senta aqui. — Ela puxou uma cadeira de plástico.

— Obrigada. — Me sentei e ela serviu uma xícara de café e um pedaço de bolo.

— Mas, me explica, por que você tá indo embora assim tão de repente?

Engoli um pedaço do bolo e senti um gosto amargo que me fez tomar uma boa dose do café, enquanto ponderava sobre contar sobre a minha gravidez. Algo me dizia para manter isso em segredo.

— Bem, tive alguns problemas pessoais e ficar aqui na cidade não está me fazendo bem. — Tomei mais um gole do café. — Quero voltar para o sítio dos meus pais, ficar um tempo lá, cuidar um pouco de mim.

Cláudia me serviu mais bolo.

— Come mais. — Ela empurrou o prato e ficou me olhando fixamente, esperando que eu comesse. Um arrepio frio passou pela minha nuca. — Eu fiz só para você. — Insistiu e eu comi mais um pedaço, enquanto a ouvia falar sobre o quanto a vida estava difícil.

Ela contou que Leleco, o seu marido, foi preso novamente e que a fiança havia sido alta. Eles tiveram que pegar dinheiro emprestado com o traficante do morro para conseguir libertá-lo. Não me surpreendeu.

— O Leleco não aprende mesmo. Desde que nós começamos a ficar juntos acho que ele já passou mais tempo preso do que solto. E tem os nossos filhos, né? Olha que exemplo de pai ele tá sendo pras nossas crianças. — Cláudia falava sem parar — E agora tem o traficante que fica no nosso pé. Eu não tenho como pagar, o Leleco não arranja emprego. Outro dia ele foi fazer um bico, mas não deu pra nada...

Uma sensação de sonolência tomou conta de mim e foi inevitável bocejar. A voz de Cláudia foi ficando cada vez mais longe e eu senti meu corpo todo formigar. Meus olhos pesaram e eu fui ficando zonza. Pisquei tentando me concentrar no que Cláudia falava, mas por mais que eu quisesse manter os olhos abertos, eu simplesmente não consegui e foi assim que tudo ficou preto e eu apaguei completamente.

Cadela - Camren GIPOnde histórias criam vida. Descubra agora