Capítulo 50

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POV Camila

— Tia, tia! — A vozinha infantil me chamou, enquanto me preparava para deixar o orfanato. Olhei para trás e o pequeno Miguel correu em minha direção com um sorriso radiante estampado no rosto. Seus olhos brilhavam de orgulho, enquanto ele segurava um desenho colorido em suas mãos pequeninas. — Olha o que eu fiz pra você. — Ele disse, me estendendo o papel com entusiasmo.

Encantada, me abaixei para ficar na altura dele e observei o desenho. Era a imagem de um menino de mãos dadas com uma mulher, ao lado de um jardim florido e um sol brilhando com um grande sorriso.

— Ual, que desenho maravilhoso. — Elogiei, sorrindo para ele. — Você é um grande artista.

Ele contraiu a sobrancelha e coçou a cabeça.

— Eu ainda sou pequeno, tia.

Soltei uma risada suave diante da sua observação perspicaz.

— Você pode ser pequeno em tamanho, Miguel, mas sua criatividade e o tamanho do seu coração são gigantes. E isso é o que realmente importa.

— Obrigado, tia. — Ele disse, com orgulho evidente em sua voz.

Depois de nos despedirmos com um abraço, segui em direção ao meu carro. Avistei a dupla de seguranças, discretamente posicionada em um carro à paisana, e os cumprimentei com um sorriso, antes de entrar no meu carro. Coloquei os óculos escuros e dei partida na minha barata tecnológica, como Lauren carinhosamente apelidou o meu 500-e.

Durante o trajeto até o meu apartamento, os últimos meses passaram como um flash na minha mente. A sensação de estar vivendo os melhores dias da minha vida me envolvia constantemente, como se eu estivesse flutuando em uma nuvem de felicidade permanente. Era como se o universo inteiro estivesse conspirando a meu favor, alinhando todos os aspectos da vida de maneira perfeita.

Às vezes, um leve receio me invadia diante de tantas dádivas, como se, de repente, tudo pudesse ser apenas uma ilusão, um castelo de cartas prestes a desabar caso o vento soprasse mais forte.

No entanto, como se fosse um chamado do cosmos para reafirmar a realidade e espantar de vez aquela sombra, a imagem de Lauren apareceu no display do carro.

Olhei para o seu sorriso espontâneo estampado no visor e me vi voltando àquele dia. Era nossa primeira manhã juntas após retornarmos do passeio no iate, que nos levou a uma escapadinha maravilhosa no Rio de Janeiro. Estávamos na cozinha do seu apartamento. Lauren estava radiante, com um leve bronzeado da brisa do mar, vestida com uma camisa branca e gravata cinza, com seus cabelos presos e maquiagem leve, pronta para encarnar o seu papel no TJ, enquanto segurava uma xícara de café. Eu amava cada detalhe dessa imagem, e a sensação de intimidade e normalidade que ela representava: um casal compartilhando o café da manhã, antes de sair para os compromissos do dia. 

Deus, éramos um casal! 

Com um sorriso nos lábios, atendi imediatamente, ansiosa para ouvir sua voz.

— Oi, meu amor. — Falei, dando sinal para virar à esquerda. — Acabei de sair do orfanato.

— E como foi? — Ela perguntou, enquanto digitava algo no computador.

Desviei o olhar para o desenho de Miguel no banco do carro e sorri, com o coração cheio de gratidão e alegria. No início, o trabalho voluntário era temporário, mas logo me vi retornando repetidamente. Essa experiência trouxe um novo significado para minha vida, e me inspirou a ajudar mais e a ser mais grata pelas bênçãos que recebi, em vez de me concentrar nas desgraças. Foi ali que, aos poucos, encontrei um caminho de reconciliação com Deus após a perda do meu bebê.

Cadela - Camren GIPOnde histórias criam vida. Descubra agora