Capítulo 2

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POV Camila

Em questão de segundos um tumulto teve início. Uma tropa de policiais de preto, com um escudo protetor em uma das mãos e o cassetete em outra, avançou em nossa direção como se fôssemos criminosos perigosos. A primeira bomba de gás lacrimogêneo foi arremessada e quando a fumaça tóxica explodiu nós nos dispersamos. Na correria, acabei me perdendo de Shawn e Ariana.

Em instantes o campus se transformou em um cenário de guerra. O som das explosões e balas de borracha ecoavam onde há pouco entoávamos o nosso coro de protesto. Além das bombas, tiros e cassetetes voavam em nossa direção. Vidros foram quebrados, pessoas corriam desesperadas tentando se proteger e rastros de sangue pintavam o chão. Alguns tentavam revidar arremessando pedras ou qualquer coisa que encontrasse. Um helicóptero acompanhava tudo do alto e transmitia as imagens do confronto ao vivo.

Para onde eu olhava, eu via a situação piorar. Um policial acertou as costas de um aluno com o cassete, outro foi derrubado e arrastado pelo chão. Jamais imaginei que a situação sairia do controle dessa maneira. Eu me perguntava como havíamos chegado àquele ponto. Nós sequer resistimos. Esse ataque certamente era uma demonstração de força do Baretta.

Pus a blusa sobre o rosto para me proteger da fumaça. Meus olhos lacrimejavam e ardiam tanto que parecia que foram lavados com pimenta. A ardência alcançou minha garganta e eu curvei o corpo, apoiando as mãos nos joelhos, tentando respirar, mas o gás invadiu meus pulmões e eu tossi, um pouco tonta. Outra bomba explodiu perto de mim e o barulho assustador me paralisou. Eu estava em choque quando senti alguém me puxar pela cintura.

Olhei para trás e no meio da fumaça vi Ariana. Ela segurou firme na minha mão e me guiou até o auditório. Assim que entrei na sala, me joguei no chão e levei minha mão à garganta. Uma ânsia me invadiu e tudo girou. Shawn veio ao nosso encontro e me ofereceu uma garrafa de água. Bebi tudo em um gole desesperado.

— Ok, isso foi desproporcional. — Shawn me abanou e eu fechei os olhos apreciando o vento. — Nós precisamos denunciar esses policiais para a corregedoria.

— E você acha que vai adiantar alguma coisa? — Ariana se levantou e cruzou os braços sobre o peito — A polícia e aquele rato estão de conluio.

Dava para ver as engrenagens trabalhando no cérebro de Ariana enquanto ela andava em círculos, com o polegar sobre o queixo, procurando uma solução. Nesse meio tempo, Shawn deu uma olhada pela janela e o cenário estava mudando. Já não havia mais alunos no pátio e a polícia circulava apenas para manter a ordem. De repente Ariana parou. Seus olhos se iluminaram e ela sorriu ardilosa. Se abaixou perto de nós e sussurrou:

— Já sei! Vamos revidar, a gente precisa de coquetel molotov, vamos juntar pedaços de pau, pedra e...

— Não, Ari! — Eu a interrompi e me levantei. — Agir assim só vai nos desmoralizar e é exatamente isso que ele quer. — Minha garganta secou e eu tossi antes de continuar. — Ele quer corromper nosso movimento e aí fechar o Diretório, dizendo que nós somos criminosos.

— A Mila tem razão. — Shawn disse. — Não vamos cair na armadilha preparada pelo Baretta. Nós temos que ser mais inteligentes do que ele.

— Os três para a sala do reitor — Um policial, empunhando um cassetete, interrompeu nossa conversa — Agora! — Ele gritou.

A sala do reitor nunca me intimidou. Antes do Baretta assumir a reitoria, nós tínhamos reuniões semanais lá. Mas, agora, confesso que me sentia como uma gazela caminhando para a cova do leão.

Atravessamos a ante sala e vi Baretta soltando fogo pelas ventas. O homem estava vermelho e franzia a testa diante das imagens que passavam na televisão, balançando a cabeça de um lado para o outro sem parar.

Cadela - Camren GIPOnde histórias criam vida. Descubra agora