Capítulo 3

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POV Camila

Uma semana havia se passado. Baretta cumpriu sua palavra e aumentou o repasse das verbas do Diretório Acadêmico. Ele também nomeou duas mulheres para o alto escalão. Tudo bem que ambas são conservadoras e compactuam totalmente com os pensamentos retrógrados daquele rato, mas foi um avanço.

Depois de uma semana de suspensão, eu estava de volta ao campus, que em nada lembrava o cenário de guerra de alguns dias atrás. Desembarquei do ônibus e consultei o relógio no celular. Percebi que daria tempo de tomar café antes do início da primeira aula.

Quando morava com meus pais, eu detestava café. Mas, depois que comecei a estagiar, por influência da doutora Lauren, passei a apreciar o gosto amargo da bebida e já começava a sentir falta do líquido quente descendo pela minha garganta.

Lauren era viciada em café. Na sua sala, havia uma garrafa térmica exclusiva para ela e a copeira a trocava pelo menos duas vezes ao dia. Mesmo assim, não eram raras as vezes em que ela ia até à secretaria, onde eu e os outros trabalhavam, atrás de um pouco mais do líquido precioso.

Por falar nela, desde aquele encontro na sala do reitor, eu só a vi de relance algumas vezes, passando apressada pelos corredores do Fórum. Mas, ontem, depois que ela encheu sua caneca e girou o corpo para voltar à sua sala nossso olhares voltaram a se cruzar.

No início da semana, eu fui transferida para uma mesa perto da copa. A mesa era pequena e apertada e mal cabia o computador que eu usava para trabalhar. Eu estava imprensada entre a mesa e a parede em uma posição desconfortável. Tinha um livro e um caderno apoiados sobre a perna, que estava dobrada, e tentava equilibrar tudo junto com algumas canetas coloridas, quando Lauren me olhou.

Ela levou a xícara aos lábios enquanto seus olhos passeavam por mim. Ela mantinha o semblante fechado e seus olhos foram subindo devagar pelo meu corpo até que nossos olhares se cruzaram e um arrepio me atingiu, me fazendo ofegar levemente. Ela me encarou e mais uma vez estávamos em uma batalha silenciosa. Mordi os lábios e me mexi na cadeira, cuidando para não deixar nada cair. Por mais que eu desejasse sustentar aquele olhar, eu fui a primeira a quebrar o encanto e baixei a cabeça, como se fizesse uma reverência involuntária à sua presença. De canto de olho a observei e notei o esboço de um pequeno sorriso nos seus lábios.

Atravessei o campus com essa lembrança. Cheguei à cantina e fiz meu pedido. Sorri quando peguei o copo e o segurei com as duas mãos, na tentativa de aquecê-las. Dei um gole e senti o líquido amargo me esquentando por dentro. Quando virei, me deparei com Shawn.

— Bom dia, Mila. — Ele me cumprimentou mostrando aqueles dentes perfeitamente alinhados em um sorriso encantador — Estudou para a prova?

— Dei uma olhadinha.

Shawn fez uma careta que denunciou que ele não havia estudado nada. Eu ri e o abracei pela cintura e enquanto caminhamos em direção à sala, repassei a matéria com ele, torcendo para que aqueles minutos fossem suficientes para enfiar alguma coisa naquela cabecinha de vento do meu amigo. 

Mais tarde, depois das aulas, Shawn me acompanhou até o ponto. Enquanto esperávamos o ônibus passar, ele me convidou para ir à uma festa "muito excluisva".

Há tempos eu sentia que minha vida estava parada demais. Eu já não conseguia me lembrar a última vez que tinha beijado alguém, transar então nem se fala. Ultimamente estava vivendo em função da universidade e imersa nas coisas do diretório e do estágio. Ponderei que um pouco de diversão me cairia bem e por isso decidi aceitar o convite, embora o evento fosse ocorrer na cidade vizinha e demandasse que nós dormíssemos por lá.

A viagem de duas horas até Paranaguá, no litoral, foi tranquila. Nos hospedamos no hotel no centro para bebermos à vontade e aproveitar a cidade no dia seguinte. Combinamos de passar o sábado na Ilha do Mel e eu estava empolgada.

Cadela - Camren GIPOnde histórias criam vida. Descubra agora