(Notas da Autora: Esse capítulo pode conter gatilhos pra pessoas sensíveis a temas como auto cobrança, Depressão e suicídio. Se este for caso não índico a leitura.)
Pov's S/n
O barulho da sirene era ensurdecedor, eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Eu perdi, depois de dias tentando trazer ela de volta e fazendo de tudo pra lhe acalmar, eu acabei de perder a Vanessa, aquela que fecha os olhos ao sorrir igual a Sofia e que mais instigava meu lado maternal e eu sinto que devia ter feito mais, eu devia ter tirado ela da sala ou implorar de novo por atendimento medico, eu devia ter gritado com eles e dizer que aquilo estava saindo do controle antes, é minha culpa não ter sido boa o suficiente pra ajudar ela.
Eu vi ela se perdendo a cada dia mais e agora estou aqui, me sentindo uma ameba enquanto a vejo sair por aquela porta pra nunca mais voltar.
Subi pro quarto magia porque senti que iria explodir, aquilo era demais pra mim, aquele programa era demais pra mim.
- É culpa minha, é culpa minha, eu não fui o suficiente, eu não sou o suficiente, eu devia ir embora, não mereço estar aqui, ela merecia, ela é só uma criança e eu não pude salvar ela da maldade desse lugar porque sou uma inútil - Dizia andando de um lado pro outro sozinha no quarto enquanto todos arrumavam as malas dela no outro andar.
Não consigo parar de pensar nessas coisas e quando vejo a raiva se torna incontrolável e começo a socar tudo o que vejo pela frente na busca de me punir por não ter sido o suficiente.
Pov's Yasmin
"Yasmin atenção, auxiliar no quarto Magia."
Quando essa mensagem apareceu, senti todo ar saindo no meu pulmão, eu vi ela subindo logo após a Vanessa sair do programa, ela não chorava então pensei que só precisava de espaço e tentei lidar com meus próprios sentimentos quanto a tudo aquilo.
Mas assim que li a mensagem sai correndo, quando cheguei no quarto encontrei ela ajoelhada ao chão com lágrimas escorrendo pelo seu rosto e sangue pela sua mão, ao lado dela tinha um abajur quebrado.
- Desculpa, eu estava com raiva e acabei derrubando o abajur enquanto socava algo e quando fui juntar os cacos me cortei - ela disse entre soluços
Abracei ela tão forte que nossos corpos poderiam se fundir, eu só queria que todo aquele sentimento passasse, porque eu enxergava a dor nos olhos dela.
S/n foi definitivamente a pessoa que mais lutou pelo bem estar da Vanessa ali, foram dias dormindo no chão ao lado dela e tentando acalmar todas as loucuras que surgiam naquela cabeça, mas já estava fora do nosso alcance, algo mais sério aconteceu ali.
- S/n, aí meu Deus o que aconteceu?- Disse Isabelle entrando no quarto e pegando um pano para estancarmos o sangue.
"Atenção S/n, confessionário."
Acompanhei ela ao confessionário enquanto estancávamos o sangue que insistia em sair da sua mão.
- Meu Deus, o que aconteceu? Como você se machucou assim? - perguntou Wanessa quando chegamos na sala
- Amiga, isso é sangue? Meu Deus, abram logo esse confessionário - Dizia Marcos desesperado.
- Calma gente foi só um corte pequeno, pediram pra irmos ao confessionário, vai ficar tudo certo - Disse tentando transparecer o máximo de calma que eu poderia ter quando a luz verde acendeu ela entrou sem dizer uma palavra.
- Amiga, o que aconteceu? - disse o Marcos assim que a porta fechou.
- Eu não sei amigo, acho que a porra desse programa ta fudendo o psicológico de todo mundo. Quando cheguei no quarto ela já estava com aquele corte e me disse que foi tentando juntar os cacos do abajur quebrado.
- Yas, eu sinto que mais do que um abajur foi quebrado hoje, você viu o olhar dela? - Disse Wanessa.
É claro que vi, aquele olhar me quebrou em mil pedaços também.
Pelo canto dos olhos vi Isabelle sentada de frente a porta do confessionário quieta e com a roupa suja de sangue e sinto que eu não deveria estar muito diferente.
Pov's S/n
Eu não sei ao certo quanto tempo passei no confessionário, os médicos precisaram dar 3 pontos em minha mão e a psicóloga entrou logo em seguida pra tentar me acalmar.
Eu sei que a forma como lidei com tudo isso não foi a melhor, mas estou sem me alimentar direito, faz dias que não durmo tentando acalmar a Vanessa e ver ela sair daquela forma quando eu nem a reconhecia mais, acionou algo incontrolável em mim.
Quando abri a porta, dei de cara com a Yasmin com o olhar aflito me esperando em frente a porta e só consegui murmurar um "desculpa" antes dela me abraçar com toda força que tinha e foi quando eu chorei, mas não só pela Vanessa e sim por tudo que isso me lembrou.
- Vamos conversar? Eu quero te explicar o que aconteceu
Ela concordou com a cabeça e fomos pra área externa procurar um lugar afastado de todos e que desse pra olhar o céu. Ela se sentou, me chamando pra me aninhar entre suas pernas o que fiz.
Ficamos um tempo em silêncio olhando as estrelas, eu quase podia ouvir a voz de Sofia dizendo " Mamãe, ta vendo aquela estrela mais brilhante de todas? Eu tenho certeza que é a Tia Lu, você lembra como ela brilhava naquela foto?" e foi ai que voltei a chorar
- Eu sou quebrada Yas. - Respirei fundo - Ou melhor, eu fui quebrada mais vezes do que consegui me reconstruir.
- Ta tudo bem. - ela disse tentando secar minhas lágrimas que insistiam em cair
- Ver a Vanessa sair por aquela porta depois de dias tentando trazer ela de volta me lembrou minha irmã, eu era adolescente quando ela começou a ficar cada dia mais triste e distante, nós éramos melhores amigas e do nada ela mal falava comigo e com qualquer pessoa, ela não comia e passava todo o tempo na cama chorando. Foi quando descobrimos os hematomas em seu corpo que minha mãe se desesperou, eu tinha 16 anos e ouvia minha mãe implorando pra ela deixar que alguém a ajudasse, mas ela não queria e tudo o que tentávamos só piorava a situação - Lembrar daquela cena era como quebrar meu coração novamente.
- Mas chegou um momento que ela melhorou, voltou a participar dos jantares em família e aparecia no meu quarto durante a noite pra me contar sobre as aventuras das noites em festas que ela ia na faculdade, parecia que eu tinha ela de volta e minha mãe chorava me agradecendo por estar conseguindo "Salvar" minha irmã, mas ela não fazia ideia do peso dessas palavras pra mim. Eu me sentia tão feliz em ouvir isso Yas, eu me orgulhava mais a cada sorriso que tirava dela.
Ela começou a beijar meu rosto onde as lágrimas escorriam, eu senti como se ela quisesse colocar curativos onde doía.
- Uma semana depois eu cheguei em casa e encontrei o corpo dela no chão sem vida, eu senti que a culpa era minha, eu não tinha feito o bastante e então quando vi também estava quase na mesma situação que ela. Eu lutei muito desde que perdemos a Lúcia, foram anos de terapia e medicação pra sair da depressão, mas eu fiquei estável. Porém, quando completei 18 anos eu fugi pra Europa e tentei esquecer tudo aquilo, óbvio que não adiantou, porque não adianta mudar quando o problema está em você, mas depois voltar pra terapia consegui entender que não havia nada que pudesse fazer. Enfim, toda essa situação com a Vanessa acionou esses sentimentos da S/n de 16 anos e eu me senti culpada, depois de conversar com a psicóloga entendi que fiz tudo o que pude, mas quis te contar tudo isso porque vi seu olhar assustada e não quero que tenha medo de mim.
- Eu nunca teria medo de você S/n, tenho admiração ainda mais depois de te conhecer assim, todo mundo tem demônios e o que me importa é saber que está disposta a lidar com eles.
- A Van vai ficar bem lá fora né? - Disse me acomodando melhor nela
- Com toda certeza, as vezes o que mais precisamos é estar perto de quem amamos. - Ela disse me abraçando.
-Acho que é por isso que sempre termino procurando você.
(Notas finais: Não importa o quão grandes e assustadores sejam seus Demônios busque ajuda pra enfrentá-los, se perdoe de suas próprias acusações e acolha suas feridas, você é muito mais do que isso e pode viver muito melhor depois disso.)
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Never be Alone
RomanceDizem que sua forma de ver o amor depende das experiências amorosas que você tem, mas o que acontece quando um amor muda tudo o que você pensava ser amor? E se isso acontecer durante a experiência mais louca da sua vida, você teria coragem de se jo...