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📌 London, Paris.

ANY GABRIELLY

As coisas na minha casa nunca foram fáceis. Eu sabia disso. Nunca levamos uma vida boa, com mordomias e regalias, como diria meu avô.

Mas ao mesmo tempo, eu não poderia reclamar, pois tínhamos o que precisávamos para sobreviver, e nunca passamos necessidades.

Meu pai sempre garantiu o sustento da casa, como estava designado para ser, novamente, como meu avô sempre dizia.

Passei rápido pela minha sessão preferida no mercado, a dos doces, para não cair em tentação, já que o dinheiro que eu tinha estava contado e fui para a área das carnes.

Conferi a lista que levava e pedi um quilo de carne moída. Assim que passei toda a compra no caixa, recebi o troco, conferindo e não resisti ao notar que sobrou o suficiente para uma barrinha pequena de chocolate.

Não me julgue, cada um tem o seu vício, e o meu era esse. Caminhei pelo estacionamento, embaixo de um céu nublado de uma tarde de sexta-feira em direção à Brasília. sim, amarela

estava na minha família há uns quarenta anos. Eu não reclamava daquele carro, apesar de ter ouvido muitas piadas sobre, mas era o único que eu tinha, e me levava para onde eu queria.

Coloquei a compra no porta-malas e entrei, tentando sintonizar o rádio. Assim que consegui ouvir uma música sertaneja, abri minha barra de chocolate e degustei calmamente, fechando os olhos e absorvendo cada nuance do seu sabor.

Enquanto mastigava o último pedaço, dei partida no carro e comecei a dirigir para minha casa. Não estava muito longe, assim não demorei a parar na garagem.

Era uma casa em que eu morava com meu pai e minha mãe. Também estava na família por mais tempo que eu conseguia me lembrar, já que meu pai fora criado ali, e depois que meus avós faleceram, nos mudamos para lá. Era simples, um andar, dois quartos, sala, cozinha e um banheiro, mas o que eu amava nela, era o quintal, que eu me lembrava de correr enquanto brincava com meu avô ouvindo minha avó brigar com ele, falando que estava velho para ficar correndo com uma criança.

Saltei do carro com um sorriso no rosto ao ter essa lembrança. Apesar de ser muito nova quando eles partiram, eu ainda sentia muita falta.

Por estar envolvida com lembranças tão gostosas, não notei o carro parado próximo ao portão. E olha que seria muito difícil não notar um daqueles, grandes e provavelmente muito caros em um bairro como o que eu morava. Entrei levando as sacolas do mercado e fechei a porta atrás de mim com o pé.

— Pai, cheguei — anunciei enquanto tirava o calçado sujo ainda na entrada. Fui em direção à cozinha, colocando todas as sacolas sobre a pia.

— Pai, quer que eu comece a preparar a janta? — Lavei minha mão ali na cozinha mesmo e comecei a desempacotar tudo.

Mas antes que eu desse prosseguimento na atividade, meu pai chegou à porta da cozinha, interrompendo-me.

— Any, temos visita hoje. — Parei o que estava fazendo, virando—me de frente para ele, ajeitando o óculos no nariz com a ponta do dedo.

— Desculpa, pai, não tinha visto. — Virei para enxugar minhas mãos em um guardanapo e estava pronta para cumprimentar quem quer que fosse, assim que me voltei novamente para a porta.

Fazia um bom tempo que eu não via aquele homem. Lembrava—me das raras vezes de tê—lo visto na sua grande mansão em um bairro nobre da cidade, com o seu carro chique e grande.

Era o ex-patrão do meu pai, para quem ele sempre trabalhou como motorista, um CEO muito poderoso. Eu sempre ouvia histórias sobre quando meu pai trabalhava para ele e teve que parar para cuidar da minha mãe que havia sofrido um acidente.

Eu sabia que os dois ainda se falavam de vez em quando, mas não sabia que se viam e muito menos com constância ou que eram tão amigos assim para um CEO poderoso vir nos visitar em um dia de semana. Estendi a mão meio sem jeito para ele.

— Boa tarde, tudo bem? — Eu me fiz de simpática.

— Any, Nate Urrea, não sei se você lembra, mas trabalhei para ele por um tempo.

— Sim, claro, lembro sim. — Dei um sorriso para ela, que retribuiu.

Não que eu o visse com muita frequência, era quando minha mãe passava comigo pelo serviço do meu pai, ou ele me levava por não ter com quem me deixar. Eu até mesmo cheguei a conhecer o filho dele, que eu odiava na época.

— Ele quer falar com você. Em particular.

Meu pai era um homem alto, sisudo, que poderia assustar quem o visse pela primeira vez, mas quem o conhecia de verdade, sabia que por trás daquela carranca brava, existia um dos maiores sorrisos que eu já vi. Mas no momento ele não se mostrou muito satisfeito com a situação.

Desviei os olhos para o homem que me esperava na porta, ainda sem dizer uma única palavra.

Ele era um pouco mais baixo que meu pai, de estatura mediana, mas a sua aparência toda elegante, dava-lhe um ar superior, até mesmo dentro de nossa casa.

Saí da cozinha deixando meu pai para trás e fui acompanhada pelo homem até a sala, onde ele se sentou em um dos sofás e eu no outro , com uma mesinha de centro à nossa frente.

— Você cresceu bastante desde a última vez em que eu te vi. — Ele finalmente falou, assim que nos acomodamos.

— Faz muito tempo...

— Estive em contato com seu pai por todos esses anos, e ele sempre me falava muito bem de você. O quanto é estudiosa e dedicada.

— Obrigada. — Apenas agradeci. Aquilo era uma verdade, já que eu vinha me empenhando muito para concluir a faculdade de turismo e realmente era dedicada em tudo o que fazia.

— Eu estou com um problema na minha empresa, precisando de uma pessoa de confiança. Como conheço seu pai há muito tempo, sei a pessoa honesta que ele é e como criou a filha, pensei em você.

— Eu? — Franzi o cenho, encarando-o.

— Sim, pois além de ser de confiança, preciso mais ainda de uma pessoa centrada, alguém que seja competente no seu trabalho, mas que tenha também uma postura um pouco mais profissional que as pessoas que estão passando pelo cargo. — Aquilo estava me deixando um pouco curiosa sobre o tal cargo.

— E por que acha que eu seria a pessoa certa para isso?

— Como eu disse, conheço seu pai há muito tempo, ele é um amigo para mim, e sei que você precisa de um emprego, e eu de alguém. Foi a primeira pessoa em quem pensei.

— Compreendo... — Realmente um emprego agora me cairia como uma luva, era algo que eu estava procurando há pouco tempo, mas para uma garota sem experiências, era um pouco mais complicado.

— E qual seria o cargo? — O homem à minha frente pigarreou, arrumou a postura uma, duas vezes. Ele não parecia muito confortável em me responder.

— Olha, você trabalharia com o meu filho. E ele precisa de uma pessoa centrada, que seja realmente focada no trabalho. — Respirei fundo lembrando-me do moleque que eu havia conhecido na infância, que só queria brincar de luta e fazer bullying com outras crianças.

Mas as pessoas mudam, não é mesmo? E ainda mais quando se é rico. Provavelmente recebia uma educação muito mais privilegiada e melhorara com a idade adulta.

— E que cargo eu ocuparia? — perguntei novamente.

— Você seria secretária do meu filho. — Era diretamente com o demônio de criança que eu havia conhecido.

Olhei para o Nate, e ele tinha os olhos tão esperançosos, como se eu pudesse ser a única pessoa a ajudá-lo naquele momento.

Mas era totalmente o contrário, já que era ele quem me oferecia um emprego em um momento como aquele.

Ajeitei novamente os óculos enquanto respirava fundo. Era uma oportunidade que eu não poderia jogar fora.

— Tudo bem, quando eu posso começar? — Assim que ouviu minha resposta, o homem soltou a respiração que aparentemente vinha prendendo e me abriu um enorme sorriso.

Era como se eu estivesse lhe prestando um favor, uma ajuda.

Só esperava não me arrepender da minha escolha.

My Boss ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora