seven

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📌 London, Paris.

NOAH URREA

A vida é basicamente feita de: e se.

E se eu tivesse respondido aquilo, e se eu tivesse feito isso, e se eu não fosse assim, e se eu não estivesse lá...

Essas duas junções poderiam te prender em um eterno looping, se assim fosse permitido. Mas em alguns momentos, esses pensamentos vinham sem pedir permissão, entrando em nossas veias e possuindo nosso sistema, apossando-se de cada pensamento que viéssemos a ter.

Eu vinha aprisionando esses invasores muito bem. E não deixaria que nada me abalasse de novo. Ou faria o máximo para isso não acontecer.

Uma batida na minha porta me tirou dos pensamentos. Ergui os olhos e encontrei Any com a cabeça em uma fresta da porta.

Ela usava o cabelo preso em um coque, e alguns fios soltos na frente. Vestia roupas claras, o que sempre lhe dava um ar jovial, algo como se ela carregasse uma luz. Assim que viu que tinha minha atenção, entrou na sala.

— Eu preciso que assine esses papéis para mim. — Ela colocou uma pilha pequena em cima da minha mesa.

— E seu primo está aí fora, posso deixá-lo entrar? — Olhei para ela de cima a baixo e um elogio sobre sua beleza veio na ponta da minha língua, mas me segurei, lembrando-me do que dissera na última vez.

Eu havia tentado mais algumas vezes, mas nunca obtive respostas, ou melhor, ela sempre falava que preferia receber elogios pela sua competência, então eu resolvi seguir seu conselho, e elogiá-la quando fazia algo.

Engoli minha vontade de falar junto com a saliva e respirei fundo.

— Obrigado. Pode mandá-lo entrar. — Ela fez um aceno com a cabeça e me deu as costas.

Any já estava trabalhando comigo há quase uma semana, e ela era realmente muito boa no que fazia. Dedicada e prestativa, aprendia muito rápido, além de ser a melhor secretária que eu já tive.

Assim que ela saiu, não demorou muito para minha porta ser escancarada e a voz de Beto invadir meus ouvidos.

— E aí, priminho, quanto tempo? — Beto entrou, fechou a porta e sentou à minha frente.

Desviei a atenção dos papéis que estava lendo, os mesmo que Any havia me trazido, e olhei para ele.

— Boa tarde também, Beto. Já está fora do serviço a uma hora dessas? — Meu primo era advogado, trabalhava em um escritório próximo à empresa.

— Vim visitar um cliente e resolvi dar um oi. — Levantei—me e dei a volta na mesa, indo até meu primo e cumprimentando-lhe com um abraço.

— Como estão as coisas? — perguntei enquanto me dirigia ao sofá que ficava em um canto da minha sala, sendo acompanhado por Beto.

— Naquela mesmice de sempre. Trabalhando muito. Diferente de você, que é dono de uma empresa. — Dei uma risada, um pouco forçada.

Não adiantava o quanto eu explicasse para Beto que trabalhava tanto quanto qualquer outro, ele não acreditava, e apenas enxergava os louros de ter uma empresa.

— Bom seria se fosse assim. — Beto se sentou no sofá enquanto eu servia uma xícara de café para nós dois.

Gostava de manter uma máquina daquelas por perto, para alimentar o vício. Entreguei-lhe uma das xícaras e me sentei ao seu lado.

— Mas me conta, e essa nova secretária? É uma gata. — Revirei os olhos.

— Meu pai contratou — respondi como se não fosse nada.

— Tio agora está contratando para você? E o melhor que ele arrasou na escolha da vez.

— Ele fez questão de fazer isso, dizendo que eu não fazia boas escolhas, e que as meninas não duravam muito.

— Não sei se essa durará muito tempo também. — Ela tem cara de quem se apega muito rápido.

— Estou proibido de tentar qualquer coisa com ela. — Beto me olhou enquanto franzia as sobrancelhas.

— Como assim? A moça gosta da mesma fruta que você?

— Não, não é nada disso — apressei-me em dizer.

— Pelo menos acho que não. Mas meu pai está no meu pé. Ela é filha de um amigo dele... sabe como é. — Beto se esticou, colocando a xícara sobre a mesinha de centro e voltou virando-se para mim.

— Como assim, você escuta o que seu pai fala agora? A mulher é uma gata, e das boas, e você vai deixar passar? — Respirei fundo, recostando-me no assento.

— Ela me parece ser diferente das mulheres que já passaram por esse cargo.

— Mas tem uma coisa em comum com as outras. É mulher. Você nunca dispensa uma. — Beberiquei um gole do café que estava na minha mão.

— Ih, será que o maior garanhão que eu conheço, está perdendo os encantos? O que aconteceu com o Noah de algumas semanas atrás?

— Não é isso. — Eu não estava a fim de discutir aquilo com meu primo.

Não precisava explicar para ele que não queria fazer joguinhos com Any. Era como se no fundo, eu sentisse uma necessidade de protegê-la.

Muito provavelmente por tê-la conhecido ainda criança, não saberia explicar. Mas conseguia sentir que ela não passaria na minha vida como as outras mulheres que haviam estado comigo nos últimos anos.

— Vai mesmo pular fora dessa? Posso me beneficiar com a gatinha? — Novamente revirei os olhos e não respondi nada.

Observando isso, Beto voltou a pegar sua xícara, olhando-me de canto.

— Eu aposto que você não aguenta um mês. Ou melhor, vamos apostar. Eu jogo que você está perdendo os encantos de conquistador. — Soltei um som como se fosse de desdém.

Não era certo apostar aquelas coisas. Não era certo jogar com os sentimentos de uma mulher. Mas acabei não falando nada, deixando a aposta de Beto no ar, como se concordasse com aquilo.

Era melhor do que discutir com alguém teimoso como ele.

My Boss ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora