twenty-four

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📌 London, Paris.

NOAH URREA

"Eu serei pai."

Essa pequena frase não saía da minha cabeça. Apesar de assustado, com medo. Aquela notícia era maravilhosa. Mas ver Any naquele estado foi mais assustador ainda. Eu queria acalmá-la, dizer que ela não estaria sozinha.

E foi um pouco complicado fazê-la entender isso, que eu estaria com ela.

Eu seria pai.

Havíamos combinado de que iríamos para a casa dela, já que ela queria contar logo para os pais e pediu minha presença. Como se eu fosse mesmo capaz de deixá-la em um momento como aquele.

Any demonstrava nervosismo, não parava de mexer as mãos e nem as pernas. Levei uma das mãos ao seu joelho sem desviar os olhos da estrada, para que ela entendesse que eu estava ali, com ela, e que poderia contar comigo.

— O que aconteceu com a sua mãe? — tentei fazer com que ela falasse, para descontrair do nervosismo.

— Você disse algo, quando estava nervosa.

— Mas também havia ficado curioso. Eu a vi apenas uma vez, depois que Any foi trabalhar comigo, quando a busquei para a viagem, mas não notei nada.

Ela respirou fundo, parecendo cansada de tudo aquilo.

— Ela sofreu um acidente onde teve que amputar a perna. Não é algo como se ela tivesse uma doença grave. Mas isso a levou a entrar em depressão. Eu queria dar uma vida melhor para ela. — Esperei que ela falasse mais alguma coisa, mas não veio nada.

— Eu tenho certeza de que você faz o possível.

— Mas não é o bastante. Ela precisava de um acompanhamento psicológico, o que se recusa a fazer. E eu não posso dar para ela o que mais deseja. — Olhei para ela de canto e a vi fitando a estrada à frente, compenetrada, como se fizesse um grande esforço para não entrar em crise novamente.

— E o que ela deseja?

— Ela pensa que não sabemos, mas minha mãe não é boa escondendo as coisas. Ela vive fazendo pesquisas. Ela deseja uma prótese. — Ouvi um minuto de silêncio e a vi limpando uma lágrima solitária que escorria por sua bochecha. Esperei que ela encontrasse seu tempo para continuar falando.

— Eu andei pesquisando. Mas é um valor muito alto. E agora com isso. — Ela acariciou a barriga, simbolizando que "isso" era o bebê. — Não estou jogando a culpa na criança. Não é isso. Eu tenho que arcar com minhas decisões, e arcarei. Mas no momento eu me sinto assustada.

— Você não fez nada sozinha. — Coloquei a minha mão sobre a sua, que ainda estava na barriga. — Eu não vou deixar que um filho nosso seja um peso para você. — Any enxugou outra lágrima que começava a brotar em seus olhos e colocou a outra mão sobre a minha, fechando sua barriga em um casulo.

Era uma coisa nova, totalmente nova. Mas que poderíamos dar conta juntos. Eu não esperava ser pai. Não era uma coisa que eu pensava nem mesmo em meu casamento. Mas assim que recebi a notícia, foi como se eu esperasse por aquele momento. E com Any. Era como se fosse certo tudo aquilo.

Any relaxou no resto do caminho. Mesmo que o silêncio ao lado dela fosse algo reconfortante, colocamos uma música para não dar espaço para que nossas mentes fossem invadidas por pensamentos intrusivos. Estacionei o carro e ficamos os dois lá dentro, apenas com o som da música nos embalando.

Tocava uma música que não condizia muito com o momento, era um lançado recentemente, que tocava em todas as rádios, o dia todo.

Era para ser um clima tenso, permeado de inseguranças, mas a música fez com que tudo se esvaísse. Any começou a rir, primeiro uma risada discreta, mas logo ela estava gargalhando. Era tão contagiante que me embalei junto com ela, e logo estávamos os dois rindo.

Em alguns minutos nos recompomos e Any se virou na minha direção, desta vez seria.

— Você vai comigo mesmo? — ela ainda continha um pouco de insegurança no tom de voz.

— Claro que sim. — Segurei sua mão, tentando passar o máximo de conforto que conseguia.

Saltamos do carro e caminhamos lentamente para sua casa, Parecia que cada passo que dávamos era significativo para aquela história, Ela destrancou a porta e me deu passagem para entrar.

Assim que estávamos dentro da casa, uma mulher estava na sala, em pé.

— Você chegou cedo. — Sua mãe está na cama. Estava te esperando. A mulher me lançou um olhar, de cima a baixo, analisando-me.

— Obrigada, Beti. — A tal Beti esperou um pouco, provavelmente querendo que Any explicasse minha presença ali, mas como não veio mais nada de sua parte, ela pegou uma bolsa sobre o sofá.

— Bom, eu vou indo, qualquer coisa que precisar, já sabe. — Any agradeceu, abrindo a porta e despedindo-se dela.

Assim que estávamos a sós, ela me explicou que aquela era uma vizinha que ajudava quando ela e o pai estavam fora.

Any me conduziu pelas escadas, levando-nos a uma porta que estava fechada. Com delicadeza ela levantou a mão em punho e bateu à porta. Vi que ainda estava tremendo, mas resolvi não comentar nada.

Ela abriu a porta sem esperar respostas, colocando a cabeça pela fresta em seguida. Eu já havia visto sua mãe, ela me conheceu quando mais novo. Mas um nervosismo começou a tomar conta de mim também.

Eu iria falar com a mãe da mulher que esperava um filho meu, Quando acordei naquela manhã, não fazia ideia de que meu dia acabaria daquele jeito.

— Preciso falar uma coisa com você, mãe — a voz dela estava meio embargada e provavelmente sua mãe percebeu.

Any abriu mais a porta, dando-me passagem. Assim que entrei no quarto, vi os olhos de sua mãe se arregalaram, como se não acreditassem no que viam.

Reparei que assim que entrei, ela rapidamente jogou mais as cobertas sobre a perna, cobrindo provavelmente o lugar que havia sido amputado.

Os olhos dela passaram de mim para Any em uma clara indagação muda.

My Boss ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora