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📌 London, Paris.

NOAH URREA

As pessoas poderiam falar o que quisessem de mim, menos que eu era relaxado com o meu trabalho.

Eu era dedicado, cuidadoso e muito bom no que fazia, modéstia à parte. Até mesmo porque eu seria o herdeiro daquela empresa.

Mas não havia parado de pensar na menina que eu havia conhecido na infância trabalhando comigo.

— Noah, está me ouvindo? — Pisquei algumas vezes, até desviar a atenção para meu pai, que me chamava.

Estávamos na sala de reuniões, onde ele tinha me passado algumas obras para visitar, junto com uns relatórios, e isso ainda eram oito da manhã. Mas já tínhamos encerrado o assunto profissional, então juntei os papéis que estavam sobre as mesas.

— Estou sim, pode falar.

— Como eu dizia, hoje Any vai começar a trabalhar com você, e espero de verdade que a trate bem, e não se engrace para o lado da menina. — Olhei para ele com uma sobrancelha erguida.

Mas ele não estava errado em me dar aquele conselho. Das cinco mulheres que passaram pelo cargo de minha secretária, apenas duas eu não precisei fazer muito para caírem na minha cama.

Mas se Any seguisse no mesmo padrão de quando a conheci, a menina nerd, respondona e feia, meu pai poderia ficar despreocupado com relação a isso.

— Não se preocupe, Sr. Nate, vou me comportar, prometo. Até porque, aquela menina não faz o meu tipo. — Ouvi uma risadinha escapando do fundo da garganta dele, mas não mencionei nada.

— Eu espero um comportamento bom vindo de você. Eu sou amigo do pai dela, e ele não ficou muito contente com a proposta dela vir trabalhar justamente com você, por já saber da sua fama.

— Estou sendo tão reconhecido assim? — usei de ironia.

— Aparentemente, sua fama de pegador é muito bem propagada. — Levei a mão ao nó da gravata, mexendo como se estivesse orgulhoso disso.

— Seu filho sabe seguir com a vida muito bem.

— Eu sei que faz isso apenas para esconder a dor que ainda sente, meu filho. — Olhei torto para ele.

Era um assunto que eu não gostava de entrar. A morte de Violet havia me matado um pouco também. Ela era a mulher que eu mais amei, quem eu havia jurado perante Deus, que amaria para toda uma eternidade.

E é claro que eu ainda sentia uma dor muito grande com a perda dela, e não gostava de falar sobre isso, justamente para não sofrer.

Mas antes que eu pudesse responder qualquer coisa, ouvimos uma batida na porta, que me salvou.

Meu pai autorizou a entrada, e eu esperei que a pessoa entrasse.

E não estava preparado para a mulher que entrou. Ela era alta, com cabelos da cor de chocolate que batiam um pouco abaixo do ombro, havia uma franja bagunçada que lhe caia como um chame.

Ela vestia uma roupa clara, um suéter em um tom de marrom, que contrastava com os seus olhos. Esses que me prenderam a atenção por último. Por trás dos óculos quadrados, mas muito estilosos, o olhar era marcante, ainda mais com aquela cor uísque.

Ela me olhou de cima a baixo, parecendo me avaliar por inteiro.

— Noah, essa é a Any, da qual eu te falei. — Ela caminhou até meu pai, cumprimentando-o com um aperto de mão e ele a puxou para um abraço, como se fossem velhos amigos.

Assim que eles se afastaram, ela se dirigiu a mim, desfazendo o sorriso que havia direcionado ao meu pai.

— É um prazer conhecê-lo, Noah. — Esticou a mão na minha direção.

Aceitei seus cumprimentos sem ainda conseguir falar nada.

— Vou ter que deixar vocês, pois tenho uma reunião em alguns minutos. — Meu pai se virou para a mulher à minha frente.

— Qualquer coisa, é só me procurar. Noah vai te mostrar o andar e tudo o que você precisa conhecer. — Any apenas concordou com a cabeça e meu pai saiu da sala, fechando a porta ao passar, sem nem trocar uma única palavra comigo.

Finalmente puxei o ar para meus pulmões e virei-me para ela. Any já me encarava fixamente, como se me analisasse de dentro para fora.

— Não sei se você vai se lembrar, mas já nos conhecemos.

— Quem eu conhecia, era um garoto bobo e muito chato. Espero que ele não exista mais. — Ok, ela ainda era respondona. Isso não perdera.

— As pessoas não me chamam mais de bobo. De chato às vezes, mas garanto que elas estão erradas quanto a isso. — Dei um sorriso de lado, tentando deixar o clima mais leve. Mas ela não estava muito a fim de pegar leve.

— Gosto de tirar minhas próprias conclusões. — Ao dizer isso, ela ajeitou a bolsa no ombro, finalmente desviando os olhos dos meus e analisando a sala em que estávamos.

Muito raramente uma mulher me deixava sem jeito, ou sem palavras. Muito menos uma que estava começando a conhecer. E eu não sabia dizer se era por minha beleza, conversa, ou até mesmo o dinheiro que possuía.

Mas Any parecia não dar a mínima importância para nenhum desses fatos. Ela estava praticamente ignorando minha presença naquele momento.

— Você quer conhecer o lugar? — Apontei para a porta. Ela acenou com a cabeça e eu lhe dei passagem para que fosse à frente.

— Eu ouvi falar muito de você por esses dias.

— Sério? Andou pesquisando ao meu respeito? — dei um sorriso de lado novamente.

— Digamos que fui obrigada a ouvir algumas coisas.

— Espero que boas.

— Você ficaria orgulhoso, certamente. — Ela foi me contando que havia passado no RH, onde a mandaram subir direto, então lhe mostrei a copa, onde ficavam os banheiros e a mesa na qual ela trabalharia. Era o último andar, onde ficavam instaladas apenas a minha sala e a do meu pai, e cada uma em uma extremidade com a sala de reuniões no meio.

Paramos em frente à mesa onde seria o local de trabalho de Any.

— E aqui, é o teu lugar. Espero que tenha gostado do local, e qualquer dúvida pode me perguntar. Vou ver se a secretária do meu pai pode vir aqui te ajudar, passar algumas coisas para você.

— Eu agradeço muito.

Fiquei parado olhando para ela, enquanto ajeitava os óculos com um dedo. Sem ter muita noção do que fazia, mordi o lábio inferior, o que aparentemente passou uma mensagem errada para ela, que me olhou com uma cara feia.

— Acho melhor iniciar meus trabalhos. — Ela se colocou atrás da mesa, ligando o computador sem se importar com a minha presença.

Apenas balbuciei qualquer coisa e saí de perto dela, partindo para a minha sala e me fechando lá.

Eu não poderia estar mais enganado sobre a mulher que começou a trabalhar comigo. Ela havia mudado completamente, da garotinha que eu havia conhecido, para a mulher linda que estava trabalhando para mim. Menos a parte respondona.

Respirei fundo e balancei a cabeça, como se para espantar aqueles pensamentos. Eu não poderia ter nada com Any, havia combinado com meu pai.

E ela parecia não me querer, então estava tudo indo bem...

My Boss ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora