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📌 London, Paris.

ANY GABRIELLY

A vida era cheia de surpresas, isso todo mundo sabia. E a minha não era diferente. Trabalhar com Noah Urrea não estava na minha programação de vida.

Essa era mais uma das surpresas que eu tinha. Isso era uma coisa boa? Provavelmente não. Comecei já levando um sermão do meu pai na sexta-feira mesmo, quando aceitei o convite do Sr. Nate.

Ele reforçou, e muito, que Noah era um galinha, que geralmente não respeitava as mulheres, e muitas outras coisas que ele havia pontuado e eu não gostaria de me lembrar, sabendo que agora ele era o meu chefe e estava na sala ao lado.

Mas de uma forma geral, ele poderia ser o mesmo moleque babaca que eu havia conhecido anos atrás, porém esperava realmente que houvesse mudado em algo.

Após me deixar sozinha, liguei o computador e comecei a tentar organizar algumas coisas. A última pessoa que havia passado por aquela mesa, não era muito boa nisso. Tanto que a agenda de Noah estava uma bagunça.

Abri no drive com o e-mail e senha que estavam anotados ao lado do computador, mas nem lá estava atualizado. Decidi então perguntar ao próprio onde poderia ter acesso.

Levantei respirando fundo, pensando se não seria melhor esperar a mulher que ele dissera que me ajudaria, mas ao mesmo tempo tendo a certeza de que era melhor começar no trabalho logo.

Parei em frente à sua porta e puxei o ar com força antes de bater. Confesso que antes de entrar, imaginei encontrar um homem procrastinando, jogando golfe com aqueles tapetes pequenos e verdes, sem o paletó. Mas eu não poderia estar mais enganada.

Assim que entrei, notei que a sua sala era muito iluminada, além de bem organizada, com uma estante que cobria uma parede inteira, cheias de livros. Não havia nada de golfe, pelo menos ao alcance da minha visão, e Noah estava sentado atrás do computador, com uma expressão séria, como alguém que realmente estava trabalhando

Ele poderia até mesmo estar resolvendo um jogo de paciência, mas estava com um vinco na testa e semblante de alguém que realmente tentava resolver problemas — não que paciência de certa forma não fosse.

— Posso te ajudar em alguma coisa?

— Eu gostaria de saber onde posso achar a sua agenda atualizada, porque a que esta no drive, e na de mão, aparentemente está bem desatualizada.

— Tenho uma no meu drive pessoal, que tento manter o máximo atualizada possível. Mas pode ter alguma falha.

— Teria como me passar? — Ele desfez o vinco da testa e afastou a cadeira da mesa, parecendo relaxar um pouco.

— Claro, vou anotar aqui para você. — Arrumei os óculos com um dedo e esperei que ele anotasse os dados para me aproximar. Assim que ele esticou o pedaço de papel na minha direção, aproximei-me para pegá-lo, mas Noah não o soltou de imediato.

Levantei os olhos para ele, erguendo uma sobrancelha e respirei fundo enquanto esperava ele falar alguma coisa.

Após alguns segundos de silêncio, onde ele apenas me observava, por fim soltou o papel.

— Você se tornou uma mulher muito bonita, Any — ele soltou quando eu estava prestes a me virar para sair de sua sala.

— Agradeço o elogio, Noah. Mas gosto de ser elogiada por minha competência, e não pela aparência. — Dizendo isso, virei as costas para ele e saí da sala, fechando a porta ao passar.

Fui até o computador e acessei o drive que ele havia me passado, sem olhar para qualquer outra coisa, apenas a agenda.

Atualizei o sistema que tinha acesso, e não demorou muito para uma mulher que disse ser secretária de nate aparecer para me ajudar.

O dia correu tranquilo daquele momento em diante, e o único contato com Noah foi quando ele passou por mim, avisando que sairia mais cedo, mas que quando eu terminasse, era só desligar tudo da minha mesa, que na sala dele já estava tudo pronto.

E assim terminei meu primeiro dia na empresa Tavares. Até que havia corrido tudo muito bem.

Peguei o elevador e desci até o estacionamento, entrei no meu carro e a primeira coisa que fiz foi tirar os sapatos que apertavam meus dedinhos.

Não que eu não fosse adepta a sapatos sociais, mas preferia sempre que possível o meu bom e velho All Star. Joguei os sapatos do lado do passageiro e sintonizei o som em uma rádio qualquer, com a mente já começando a pensar no que eu faria no próximo dia.

Assim que cheguei em casa me enfiei embaixo do chuveiro, tomando um banho de água quente para relaxar o corpo. Quando saí, notei que meu pai ainda não havia chegado, então coloquei a janta para esquentar e subi para ver minha mãe.

Ela havia sofrido um acidente há alguns anos, onde infelizmente tinha perdido uma das penas, o que a levou a entrar em depressão.

Era difícil saber o dia em que ela estaria bem, ou quando queria apenas ficar sozinha. Mas na maioria das vezes ela se animava em conversar comigo.

Bati à sua porta e esperei que autorizasse minha entrada, e assim que o fez, coloquei apenas a cabeça para dentro do quarto.

— Quer conversar?

— Com você? Sempre. — Minha mãe deu uma batidinha com a palma da mão na cama, para que eu me sentasse ao seu lado.

E assim que entrei no quarto, ela jogou um lençol por cima da perna que havia amputado. Era uma coisa com a qual ela ainda não havia aprendido a lidar, apesar de tudo o que eu já havia conversado com ela.

Mas minha mãe se sentia mal com a falta de um membro, e eu poderia apenas despejar todo o meu amor por ela, pois apesar de tudo, sempre foi a melhor mãe que eu poderia ter.

Quando ela sofreu o acidente, meu pai saiu do serviço. Ela passou por um período delicado de recuperação, e gastamos quase tudo o que tínhamos com hospital e remédio.

Ainda não possuíamos condições de levá-la à terapia, e nem mesmo de comprar uma prótese, que era o que ela vivia pesquisando escondido.

Queria que o novo trabalho desse certo, para que nossa condição melhorasse um pouco mais e eu pudesse retribuir tudo o que ela sempre fez por mim.

Deitei-me na cama ao seu lado, colocando a cabeça apoiada em seu ombro. Havia ignorado o fato dela esconder sua perna de mim, e não comentaria nada.

— Como foi o primeiro dia hoje? — Ela provavelmente já sabia o que estava me afligindo.

Era impressionante como era simples, apenas chegar perto dela, e simplesmente já saber o que eu precisava.

— Estou com medo de o papai ter razão — desabafei.

— E o que te leva a ter esse medo?

— Pelo primeiro dia de convivência, acho que Noah pode ser o mesmo de quando o conheci. Na verdade, pior, porque agora ele é um homem adulto com desejos.

— Você sabe que o seu pai só quer proteger a bonequinha dele. É claro que Noah pode ter os casos dele. Mas isso não quer dizer que ele não vai te respeitar. — Respirei fundo enquanto pensava naquilo.

— Mas ele tem cara de galinha. — Minha mãe caiu na gargalhada com a frase que soltei.

Sua risada era encantadora, conseguia preencher todo o local e colocar uma esperança no meu coração. Às vezes eu sentia falta daquele som.

— Você está julgando pelas aparências, Any. E não foi isso que eu te ensinei.

— Eu sei, Dona Sofia. Mas... — deixei a frase inacabada no ar.

— Você apenas tem que fazer o seu trabalho, filha.

— Eu sei, mas vai ser difícil conviver com aquele homem.

— Você ainda não tem como saber disso. Seja paciente com ele, e o seu valor será reconhecido como deve ser. — Minha mãe tinha razão.

Apesar de tudo, eu deveria dar uma chance para ele. Pelo menos na parte profissional, é claro.

Com carinho, minha mãe passou a mão pelos meus cabelos enquanto eu descansava em seu colo.

Ela sempre fora uma mulher sábia, então apesar de tudo, eu deveria levar o que dissera em consideração, mesmo achando que Noah acabaria me decepcionando.

My Boss ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora