eleven

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📌 London, Paris.

ANY GABRIELLY

Aquilo não devia estar acontecendo. Sentir a maciez dos lábios de Noah, sua mão em minha cintura me puxando para perto de si, não devia me deixar com aquelas sensações.

Não poderia me entregar daquele jeito. E o que ele pensava que eu era? Não estava ali para aquele tipo de coisa.

Recobrando minha sanidade mental, coloquei minha mão em seu peito, com o máximo de força de vontade para manter o foco e o empurrei. Não foi um empurrão muito forte.

Eu nem saberia dizer se ele sentiu que minha vontade era afastá-lo. Mas assim que o fiz, Noah deu um passo atrás, soltando-me sem dificuldade.

Não conseguia olhar para cima, estava com medo de encarar seus olhos, sua boca, todo seu rosto. Mas a fúria que foi me tomando, era devastadora.

Eu não estava ali para aquilo. Não queria que ele tivesse me beijado, e não poderia ter deixado acontecer. Minha respiração foi ficando cada vez mais pesada.

Quando finalmente levantei minha cabeça, olhando para hacker, ele também me encarava, como se esperasse a minha reação. E ela veio. Talvez não da forma como ele esperava.

— O que você está pensando? — Dei um passo à frente e, com a mão fechada em punho desferi um soco em seu peito.

Noah não disse nada, apenas ficou me encarando, como se não entendesse nada do que estava acontecendo ou do que eu dizia. Nem mesmo meu soco pareceu afetá-lo.

— Você não tem o direito de fazer isso? Está pensando o que? — Aumentei meu tom de voz.

— Any, se acalma. — Ele ia mesmo me pedir calma? Mas não ia mesmo.

Com as duas mãos em punho, parti para cima dele, socando-o onde eu conseguia alcançar.

— Não me peça calma. Você não tem esse direito. Eu não sou esse tipo de mulher com o qual você está acostumado. — Com um pouco mais de agilidade do que eu, Noah segurou minhas mãos, sem fazer muita pressão nelas, apenas para que eu parasse com os ataques.

— Eu sei que você não é esse tipo de mulher. Eu não pensei em mais nada de mais. Foi apenas um beijo.

— E você considera um beijo uma coisa leviana? Sem significado? — Ele apenas fez um leve movimento com os ombros, dando a entender que sim, um beijo para ele era apenas isso, uma coisa cotidiana, que ele dava em várias em uma noite só.

Decepcionada e bufando, virei as costas para ele, passando pelo balcão para pegar meus óculos, fui caminhando até a sala, onde minha bolsa ainda estava do dia anterior.

Mas antes que eu pudesse sair daquele lugar, meu braço foi novamente agarrado, um pouco acima do cotovelo. Não foi um aperto para me machucar, apenas para que eu parasse, e assim que o fiz, Noah me soltou.

— Por favor, me escute. Eu sei que você não é do tipo de mulher que eu estou acostumada. Você é muito melhor. — Ele falava com uma voz tão calma, doce, gentil, que eu estava quase caindo em seu papo.

— Tanto que eu não me lembro de ter passado uma noite inteira com uma mulher, sem ela tirar a roupa. — Ah, ele tinha que soltar alguma pérola, não é mesmo?

Desvencilhei-me dele, passando por toda a extensão da sala, pegando minha bolsa e caminhando em direção à saída. Mas novamente Noah veio em meu encalço.

— Onde você vai? — ele perguntava como se não tivesse dito nada de mais.

— Sério mesmo? Você ainda tem dúvidas de que eu não quero ficar mais nem um minuto do seu lado? — usei de ironia.

— Mas o que eu falei de errado? — Revirei os olhos. Ele não era tão inocente assim, mas eu sabia que não tinha tato com mulheres. Justamente por saber disso, respirei fundo, tentando manter a calma sobre a situação.

— Eu vou para a minha casa, Noah. Não devia ter passado do horário aqui. Nos falamos na segunda-feira. — Não deixei brecha para que ele me respondesse e caminhei para a porta da casa, saindo por ela e batendo-a logo atrás.

NOAH URREA

Eu já não sabia quantas cervejas havia bebido. Ou quantas doses de uísque. Assim que Any foi embora, Beto me ligou e eu acabei falando mais sobre o que não devia, e ele apareceu na minha casa minutos depois, com uma caixa de cerveja na mão e o litro do destilado na outra.

— Então, como andam essas feridas aí? — Beto já havia tirado sarro de mim várias vezes, mas a piada parecia nunca morrer para ele. Sorte dele que já havia pegado quando criança.

— Estou melhorando aos poucos. — Levantei o copo de cerveja para o alto, como se brindasse aquele momento. Confesso que já havia passado um pouco do meu limite para bebidas.

— Mas me conta, como foi a noite com a secretária gostosa? — Levantei um dedo em riste.

— Não fala dessa forma da Any. Ela não merece. — Minha língua já estava toda embolada.

— Mas foi muito bom. Fazia muito tempo que eu não passava uma noite na companhia de uma mulher tão agradável. E ela é melhor do que eu no FIFA.

— Não acredito...

— Pois acredite... — eu provavelmente estava usando um tom sonhador de mais.

— E o beijo que trocamos pela manhã... — deixei a frase no ar, sem completar.

— Você ainda não me contou sobre esse beijo. Como foi? — a pergunta foi feita como quem não está dando muita importância ao fato. Pelo menos foi isso que eu entendi.

Fechei meus olhos, inspirei fundo e comecei a me lembrar da sensação do corpo de Any contra minha mão, sua boca tão macia se movendo junto com a minha.

Provavelmente eu suspirei, pois Beto fez um barulho de reprovação com a boca.

— Há muito tempo eu não sentia o que eu senti hoje. Foi quase mágico. Eu fiquei chocado com um beijo, mexeu tanto comigo. Foi um toque tão simples, em comparação a outras coisas que eu já fiz por aí, sem nunca sentir um terço disso tudo. — Eu estava abrindo meu coração sobre os verdadeiros sentimentos que eu tive. O que uma bebedeira não fazia com a pessoa.

— E você vai tentar uma aproximação dela? — Assim que fez a pergunta, Beto começou a mexer no celular, demonstrando que realmente estava fazendo aquelas perguntas para puxar um papo, mas que na verdade, não estava interessado.

— Ela não está muito afim de uma aproximação minha, não. Saiu daqui muito brava, mas nem sei o que eu disse de errado. — Mas pretendo insistir nela. Estou me encantando com a beleza de Any.

Eu estava sim, começando a me encantar com aquela mulher. Ela era excêntrica, tinha muita beleza, interior e exterior. E a noite passada ela me mostrou o quanto ela pode ser maravilhosa.

Talvez eu estivesse começando a prestar muita atenção nela.

My Boss ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora