twenty-six

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📌 London, Paris.

NOAH URREA

Fazia um tempo que não entrava na casa do meu pai. Como sempre o via na empresa, não achava necessário me deslocar até sua casa para fazer uma visita.

Mas lá estava eu, entrando no condomínio em que ele morava e batendo à sua porta. Fui recepcionado por Lúcia, a governanta da casa, que me conhecia desde bebê, e sempre que me via era a mesma coisa.

— Menino... — ela me saudou assim que abriu a porta, puxando—me para um abraço.

— Quanto tempo. Você está bem? Está se alimentando direito? Parece tão magrinho.

— Estou bem, Luh. — Dei um beijo estralado em sua bochecha gordinha.

Lúcia já beirava os seus sessenta anos, com certeza, mas tinha uma vitalidade que eu não via em qualquer mulher. Era daquelas típicas avós que viviam com um avental amarrado no pescoço, preparando as coisas gostosas na cozinha. Baixinha e gordinha. Eu sentia saudade da minha infância só de olhar para ela.

— Mas o que te traz aqui? E tão tarde? — Lúcia sabia que eu não era dado a visitas ao meu pai, por isso o questionamento.

— Preciso falar com meu pai, Luh. Ele está?

— Está no escritório, como sempre. Vai adorar saber que você está aqui. — Ou não, pensei.

— Então eu vou lá falar com ele. — Aproximei—me dela, dando mais um beijo estralado.

— E você vai descansar, já acabou o horário de expediente.

— Eu estava lendo um livro. — Ela apontou para a sala, onde havia um livro sobre o sofá. — Mas já estou indo deitar mesmo. — Despedi-me dela e caminhei em direção ao escritório.

Já era tarde, pois havia demorado na casa de Any. A conversa com o pai dela foi amenizando com o tempo, quando Sofia foi conversar com ele. Apesar de Any não ter dito não, quando falei que me casaria com ela, também não disse sim.

Seus pais a aconselharam a esfriar a cabeça, pensar nas coisas com cuidado, e resolvermos fazer isso. Mas eu havia agido de forma errada. Pedir que Any se casasse comigo daquela maneira, faria com que ela pensasse que foi por impulso, uma mera coincidência por ela ter engravidado.

Mas na realidade, não era. Apesar de tudo, Any merecia um pedido de casamento decente. Porém o que permeia meus pensamentos naquele momento era a hora de contar para o meu pai o que havia acontecido.

Ele provavelmente ficaria uma fera. Não por eu ser pai, mas porque me avisou para tomar cuidado com Any. Bati três vezes à sua porta e ele me autorizou a entrar.

— Noah ? Que surpresa vê-lo aqui. — Nate era um homem de negócios sério, respeitado, mas tinha seus momentos informais. Naquele momento, por exemplo, ele vestia uma camisa de um time de futebol com um calção mais largo.

Estava sentado em uma das poltronas perto da estante repleta de livros, com um deles em mãos. Ele se levantou assim que me viu, fechando o livro e colocando sobre uma mesinha ao lado da poltrona.

— Queria mesmo falar com você. Mas já havia ido embora quando passei na sua sala. Achei que estaria em alguma festa com Beto. — Cumprimentamo-nos e ele nos conduziu para o sofá, sentando-se ao meu lado.

— E o que o senhor gostaria de falar comigo?

— Não era nada importante. Somente para matar a saudade de pai e filho. — Ele deu um tapinha camarada nas minhas costas. Arqueei uma sobrancelha, esperando que ele explicasse aquele momento. — Há um tempo não conversamos nada que não fossem assuntos daquela empresa. E eu venho recebendo notícias, e vendo também, que você vem... Melhorando. Vem se comportando. Fiquei sabendo que não sai com tantas mulheres como antes.

— Na verdade, faz tempo que só saio com uma — falei baixo, mas ele escutou.

— Você está gostando de alguém? — ele pareceu surpreso ao fazer a pergunta.

— Bom... Sim.

— Eu me surpreendi muito com você, positivamente nesses últimos meses. Estou gostando disso. Mas me conta, posso saber quem é a donzela que está conquistando seu coração novamente?

— Talvez você não goste muito do que eu tenho para falar. Mas... — Fiz uma pausa, molhando os lábios e me preparando. — Eu vou ser pai. E é dessa mulher de quem eu estou gostando. — O lugar ficou em silêncio por um tempo, até que meu pai resolveu falar.

— Um filho não é um problema, se você está gostando dela. E eu sabia que isso aconteceria mais cedo ou mais tarde.

— Quem está grávida, esperando um filho meu, é Any. — Fiquei olhando para ele, vendo seu semblante mudar de entretido para curioso, e logo mais para revoltado.

— Eu não falei para você não mexer com a moça. — Ele deu um tapa inesperado na minha cabeça, fazendo com que eu me assustasse.

— Como você ousou fazer isso?

— Eu não fiz o filho sozinho, pai. — Coloquei as mãos sobre a cabeça, em uma tentativa de me defender. — E como falei, estou gostando dela. — Assim que a última frase saiu da minha boca, meu pai abaixou a mão, parando com os ataques.

— Você realmente sente algo pela menina? Ou é mais uma das secretárias com quem você está brincando?

— Você sabe que eu não brinco com sentimento de mulher nenhuma. — Olhei feio para ele. — Mas sim, pai. O que estou sentindo por ela é até diferente do que eu sentia por Violet. É mais forte. Eu não sei explicar. — Vi meu pai respirando profundamente. Ele se levantou, caminhou até a mesa e pegou uma foto que estava sobre ela. Parou por breve instantes, observando-a, mas logo retornou, sentando-se novamente ao meu lado e me entregando a foto.

Tratava-se de um porta-retrato antigo, uma foto dele com minha mãe, bem novos, e ela com uma barriga enorme, ainda grávida.

Eles eram um casal lindo, e meu pai era apaixonado por ela, sofreu muito quando um câncer a levou.

— Sua mãe foi o meu primeiro amor. Mas não foi minha primeira paixão — ele falava com nostalgia na voz.

— Eu era como você. Adorava uma farra. Tanto que tive várias paixões. — Ele inspirou fundo, como se pudesse sentir o cheiro da adolescência novamente.

— Como você diferenciou o amor da paixão? — eu não conseguia tirar os olhos daquela foto.

Ela era uma das minhas favoritas. Passava tanta alegria, como se eles estivessem completos, formando uma família.

— Eu apenas me senti mais completo. Era como se sua mãe fosse a minha luz. Só de olhar para ela, já me alegrava. Eu não tinha aquele desejo de passar uma noite com ela apenas fazendo sexo...

— Pai... — o repreendi, fazendo cara de nojo e ele apenas riu.

— Você já está grande para essas frescuras. Mas voltando. Eu poderia passar noites em claro, apenas conversando com ela. Ou mesmo olhando—a dormir. — Eu sentia meu coração preenchido. No momento em que passamos uma noite apenas conversando, eu decidi que ela seria a mulher da minha vida.

Aquela conversa me remeteu à lembrança de Any na minha casa, na noite em que jogamos videogame. Ela estava lá ao meu lado, não era nada demais, mas eu me senti feliz naquela noite. Será que era isso que eu sentia por Any ? Eu a amava?

— Se você decidir que é isso que sente pela moça, não a deixe escapar. — Meu pai pegou a foto das minhas mãos, e eu o vi encarar a foto com muita saudade estampada no rosto.

Ele se levantou, parou ao meu lado, dando um tapinha no meu ombro e saiu, indo guardar o porta-retrato. 

My Boss ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora