twenty-three

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📌 London, Paris.

ANY GABRIELLY

Eu sempre pensei que sabia como Noah era. Sabe aquele homem padrão, que você olha e já sabe o quanto ele é mulherengo, que gosta de uma balada e sai sempre com várias mulheres a tiracolo.

Mas ele me surpreendia cada vez mais.

Desde a noite em que passei na sua casa, que ele estava doente, eu vinha conhecendo uma pessoa diferente da que estava na minha cabeça. Ele era educado, gentil, carinhoso. Além de outros detalhes... Que só de me lembrar causavam um arrepio na coluna.

Mas nada me surpreendeu mais ao saber que ele já foi casado. Que se entregou verdadeiramente a uma mulher. Saber que ele perdeu alguém de quem tanto gostava — já que não confessara que a amara — fazia meu coração se apertar um pouco por ele.

O luto muitas vezes poderia ser complicado de superar. E ainda com a pressão da sociedade, colocando um pensamento na mente da pessoa que está sofrendo, pode ser totalmente prejudicial. A consulta foi rápida, e o médico pediu um exame de sangue.

Como estávamos em um dos melhores hospitais da região, já que Noah havia insistido, dizendo que seria por conta da empresa, pois passei mal no serviço, o resultado não demoraria muito. Estava novamente na sala de espera, junto com Noah que não fora embora.

— Mas de verdade, não precisa ficar aqui por mim. Eu estou bem, já melhorei. — Era a terceira vez que eu insistia.

— Você sabe ser teimosa quando quer. Já disse que vou ficar com você. Não vai pegar carro para voltar para casa. Ou até para a empresa, onde você deixou o seu. — Revirei os olhos diante da teimosia dele, mas acabamos os dois rindo.

O resultado realmente não demorou a sair, e em pouco tempo o médico batia à porta. Como ele tinha um sorriso no rosto, eu fiquei um pouco mais aliviada, já imaginando que não seria nada grave. Ou talvez eu não devesse respirar tão tranquilamente assim. Noah parecia mais tenso do que eu mesma, e foi ele quem cobrou o médico.

— E ae, doutor, o que deu? É algo grave?

— Bom, não há nada de errado com a sua mulher. — Noah olhou para mim, enquanto eu fazia o mesmo com ele. Provavelmente por estarmos juntos, e com ele tão preocupado, o médico tirou suas próprias conclusões.

— Ele não é meu marido, doutor — eu estava um pouco sem graça. Noah fez um meneio de cabeça e deu um pequeno sorriso de lado.

— Me perdoem, então. Mas a notícia que eu tenho é boa. — Imediatamente minhas pernas falharam. Para a minha sorte, eu permanecia sentada, enquanto Noah se mantinha perto do médico.

Minha cabeça começou a girar, e eu vi tudo rodar. Eu não era tão inocente. Já vira aquela cena em vários filmes, li em muitos livros. Um médico com um exame de sangue em mãos dizendo que a notícia era boa. Se tinha notícias, então é porque existia algo. Ou alguém...

Vendo que eu começaria a ficar tonta, Noah se apressou para o meu lado, sentando-se e segurando minhas mãos. Ele provavelmente não entendeu o que o médico estava querendo dizer ainda.

— O que ela tem, doutor? — o tom urgente em sua voz não me passou despercebido.

— Ela tem um bebezinho a caminho. Parabéns, mamãe. — O médico me estendeu o exame, mas eu não conseguia ver nada, muito menos focar em alguma coisa à minha frente. Tudo girava muito rápido.

— Grávida? Você está grávida? — Noah me questionava.

— Vou deixar vocês dois a sós. — E assim o médico saiu, deixando—me com aquela bomba no meu colo. Ou no ventre.

Quando comecei a sentir as coisas ao meu redor pararem um pouco de girar, foquei em Noah, que estava na minha frente segurando um copo de água. Peguei-o de sua mão e levei-o à boca, ainda tremendo.

— Você está grávida, Any... — eu não conseguia identificar se seu tom de voz era felicidade ou incredulidade.

Mas eu estava em total desespero. Não que eu não quisesse ter um filho, ou que não fosse algo... bom, de certa maneira. Mas naquelas circunstâncias? Do meu chefe? Eu estava grávida do meu chefe, do primeiro homem que me levou para a cama.

Eu estava entrando em pânico.

Noah ainda me encarava com aquele sorriso que para mim era uma incógnita. Ele me olhou nos olhos, franziu as sobrancelhas e ficou sério por alguns instantes.

— É meu? — Só nesse momento que reparei em sua mão na minha barriga, acariciando onde crescia um bebê.

Fiz apenas que sim com a cabeça, sem forças para discutir aquele assunto com ele. É claro que o bebê era dele. Ele foi meu primeiro e único homem. Mas enquanto confirmava, lágrimas começaram a rolar no meu rosto.

Várias questões começaram a passar na minha cabeça. Como eu cuidaria de uma criança? E a minha faculdade? Eu não poderia colocar mais esse peso sobre meu pai, ele já tinha minha mãe para se preocupar.

E quando eu não puder mais trabalhar?

O que seria daquele bebê?

Quem me ajudaria?

Coloquei o copo de lado e levei as mãos ao rosto, cobrindo o choro e começando a soluçar.

Eu ainda estava tremendo quando Noah muito gentilmente segurou minhas mãos, descobrindo meu rosto.

Ele me encarava como se eu fosse um bicho estranho, que ele não conhecia e tinha medo de se aproximar. Eu estava ali, olhando para o meu chefe e agora pai do meu filho. O homem com quem eu não deveria me relacionar.

Em um impulso de desespero levantei e saí em disparada pela porta. Eu precisava respirar, de ar. Estava me sentindo presa dentro daquelas quatro paredes brancas. Quando parei de correr, dei-me conta de que estava no estacionamento, que era a céu aberto.

A tarde já havia caído, e havia um sol lindo se pondo. Mas eu não conseguia absorver nada daquela beleza. Ainda respirando ofegante, sentindo meu coração pulsar a uma velocidade assustadora em meu peito, olhei para todos os lados, buscando onde eu poderia me refugiar.

Mas Noah apareceu logo atrás de mim, chamando-me.

— Por favor, se acalme. Respira.

— Como você posso ficar calma? Eu estou grávida, Noah — gritei.

Falar aquela frase em voz alta foi o mesmo como digerir uma verdade dura. Eu me senti culpada no mesmo instante por estar naquele estado, culpando um serzinho que mal existia ainda, e não tinha culpa naquela história. Respirei fundo, tentando controlar minha respiração.

— Eu não posso ter um filho agora. Não com uma mãe de cama, enfrentando uma depressão. Eu não consigo me dar conta disso sozinha. — Desta vez o medo me pegou forte, fazendo novamente todos os músculos do meu corpo tremerem e lágrimas brotarem do meu rosto.

E Noah fez a coisa que eu menos esperava naquele momento. Ele me abraçou. Passou os dois braços pelo meu corpo, rodeando-me inteira e apertando-me contra o seu corpo. E eu não esperava sentir-me tão acolhida naquele momento.

— Você não está sozinha. Eu estou aqui com você. E não vou te abandonar com nosso filho. — Ele repetiu essas frases em meu ouvido, baixinho, até que eu comecei a parar de chorar.

Assim que meu corpo foi relaxando dentro dele, fui levada a sentar, no chão, no meio do estacionamento e com Urrea de terno.

Ele dobrou as pernas, fazendo com que eu me sentasse entre elas, mas sem nunca me soltar de seu abraço.

— Promete não me abandonar? — não deveria ter falado isso, mas não falei soando com segundas intenções. Era apenas um apelo de uma pessoa com medo, que começava a ver o seu futuro virar de cabeça para baixo.

— Prometo. Vou ficar do seu lado o tempo todo. — Ele puxou minha cabeça de encontro ao seu peito, colocando meu ouvido de encontro com o seu coração.

E o barulho daquele turu turu foi me acalmando cada vez mais.

My Boss ⁿᵒᵃⁿʸOnde histórias criam vida. Descubra agora