TRÊS MÊSES ANTES
SIDNEY
Ponto de ruptura. O momento em que o inevitável finalmente acontece; a direção recém adicionada à uma bússola velha que sempre esteve disponível para quem jurava conhecer o caminho decor e salteado. O ponto em que os vitrais de uma vida inteira se partem ao meio, deixando às vistas de todos aquilo que sempre esteve ali, mas que há muito precisou aceitar um lugar junto da escuridão, apenas para que o mundo não se chocasse com aquilo que ainda desconhecia.
— Você pode nos dizer o seu nome enquanto olha para aquela câmera ali? — O homem sentado sobre uma cadeira de ferro do outro lado da sala perguntou, me analisando com cautela.
— Eu pensei que vocês já soubessem o meu nome — respondi, após longos segundos em silêncio. Meu olhar, pesado e lânguido, denunciava o estado de espírito em que eu me encontrava há horas, sem contar que minha cabeça latejava mais que um tambor de fanfarra. Bum, bum, bum.
— E sabemos, mas por protocolo, precisamos que diga novamente, olhando para a câmera desta vez, por favor — ele pediu, apontando para a câmera novamente.
Bum, bum, bum. Fechei os meus olhos. As luzes pareciam mais brancas que o normal; pelo menos o suficiente para darem a sensação de que eu terminaria aquele interrogatório cega de pelo menos um olho.
Cruzei as mãos sobre a mesa fria à minha frente. Os dedos enegrecidos pela fuligem faziam com que eu mantivesse bem vivo em minha memória o motivo pelo qual eu estava sentada atrás daquela mesa, sendo interrogada por alguém que sequer acreditava na minha inocência, mas que tinha um trabalho a fazer e não se desviaria dele nem por um segundo, nem mesmo por conta de suas impressões pessoais a respeito do assunto.
Esfreguei o polegar e o indicador um no outro, tentando ter uma visão mais nítida das minhas próprias digitais. Eu me sentia assustadoramente abalada com tudo o que havia acontecido naquelas últimas horas, e além disso, precisava urgentemente de um bom banho, o que eu tinha certeza de que só teria quando finalmente resolvesse abrir a boca.
— Será que você consegue me arrumar um analgésico? Estou com muita dor de cabeça — falei, coçando a cabeça com força, a fim de me livrar dos resquícios de fumaça e poeira que estavam impregnados nos fios.
— Você já tomou dois — ele rebateu, cruzando os braços na altura do peito —, não acha melhor esperar que esses dois façam efeito para tentar algo mais forte?
Cruzei os braços também, imitando-o. Recostei as costas na cadeira e ri, balançando a cabeça.
— Você por acaso é médico?
— Não. Sou apenas um colega preocupado com a sua saúde.
— Preocupado com a minha saúde? — repeti, incrédula. — Há duas semanas eu passei pela cozinha e vi você rindo com os seus amigos de algo que também dizia respeito à minha saúde, e adivinhe só? Além de não achar engraçado, eu me lembro de ter mandado você ir se foder mentalmente durante todo o caminho até em casa.
— Certo, Sidney, eu acho que você já está indo longe demais, ok? — ele disparou, perdendo a paciência.
— Não, você é quem está indo longe demais — respondi, batendo o punho contra a mesa com toda a força que consegui. De repente, eu já estava em pé atrás da mesa, fuzilando o homem com os olhos. — Onde estão os meus superiores? Eu me recuso a prestar qualquer tipo de depoimento para alguém como você!

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Vortex
RomantizmImpelida a afastar-se de sua carreira como agente do FBI, Sidney Pryor retorna à sua cidade natal disposta a recomeçar sua vida. Contudo, o destino a reconduz ao epicentro do vórtex que acredita nunca ter deixado. Envolvida em um redemoinho de amor...