SIDNEY
— O gato comeu a sua língua? — Bruno indagou, depois de achar que o meu silêncio já estava durando tempo demais.
Continuei encarando a rua à minha frente, pensando no que deveria responder. Dentre todas as pessoas que eu esperava que pudessem me flagrar fazendo aquilo, Bruno com certeza não estava entre elas. O encarei pelo espelho retrovisor, temendo que seu próximo passo fosse pegar o celular e ligar para Dylan, contando para ele sobre a minha aventura noturna.
— Pryor, eu estou esperando uma resposta! — ele disse, com sua voz cortando o silêncio do carro como um trovão inesperado.
— Eu não sei o que espera que eu diga — falei, tentando manter a calma.
Ele estalou a língua, indignado com aquela resposta medíocre que eu havia acabado de dar a ele.
— Que tal a verdade?
— Você pretende contar sobre isso para o Dylan? — Perguntei, em busca de uma garantia qualquer.
— Dependendo do que você está tramando, sim.
— Eu não estou tramando nada, Nolan — disparei, na defensiva. — Eu estava apenas checando uma informação antes de repassar uma nova denúncia ao departamento responsável.
Vi quando ele balançou a cabeça negativamente, incrédulo com a minha forma de fazer as coisas.
— Será que algum dia você vai aprender, Pryor? — Perguntou, sem esperar por uma resposta minha. — Há um motivo para você ter sido afastada do trabalho, e nem recebendo uma segunda chance parece que você está disposta a fazer a coisa certa desta vez.
Senti meu rosto enrubescer ao ouvir aquilo. Bruno já estava passando dos limites com aquelas insinuações. Nós nos conhecíamos há apenas um dia e ele já agia como se eu fosse a menor dentre todos eles.
— Você não sabe nada sobre mim — disparei, na defensiva. — Sei que você e os outros pensam que me conhecem e sabem o que aconteceu para que eu chegasse ao nível de estresse que cheguei para precisar ser afastada do trabalho, mas vocês não sabem. Nós não nos conhecemos e eu não admito que você fale comigo dessa maneira, Nolan.
Ele permaneceu em silêncio por alguns instantes, pensativo. Às vezes eu achava que ele sentia prazer em me provocar, porque sempre permitia que aquele silêncio incômodo durasse mais do que o necessário quando estávamos próximos.
— Por que você não me conta então, e aí, quem sabe, eu saia do time daqueles que te julgam pelas péssimas decisões que tomou e passe a ser alguém que te ajuda no que for preciso para que você consiga reverter essa situação o mais depressa possível?
Ponderei o que ele havia acabado de falar, e não pude deixar de rir. Ele só podia estar brincando comigo. Numa hora ele invadia o meu carro e perguntava que merda eu estava fazendo, e na outra se colocava à disposição para me ouvir e entender o meu lado naquela história toda. A coisa era pior do que eu pensava, disso eu tinha certeza.
— Por que está fazendo isso? — Perguntei, me recompondo.
— Isso o quê?
— Se colocando à disposição para me ouvir logo agora.
— Eu gosto de você, Pryor. Sei que não parece por conta do jeito como tudo começou entre nós dois, mas acho que você é uma boa agente, e que é só questão de tempo para lembrar ao pessoal do FBI qual é o seu valor. Você só precisa deixar de meter os pés pelas mãos e tudo vai ficar bem.
Encarei o volante à minha frente e pensei um pouco sobre aquilo. Eu estava metendo os pés pelas mãos? E se eu de fato estivesse fazendo isso, quais seriam as consequências? Quanto tempo levaria para que eu me ferrasse novamente?

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Vortex
RomanceImpelida a afastar-se de sua carreira como agente do FBI, Sidney Pryor retorna à sua cidade natal disposta a recomeçar sua vida. Contudo, o destino a reconduz ao epicentro do vórtex que acredita nunca ter deixado. Envolvida em um redemoinho de amor...