HARVEY
Eu estava convencido do que meus olhos viram; não era possível que estivessem me enganando. Será que tudo não passava de uma estranha coincidência? Eu suspeitava que não. Uma espécie de pressentimento me assombrava. A caixa de chocolates, a maneira como Sidney reagiu ao vê-la, aquele estranho na loja insistindo em como agradar uma mulher, os chocolates preferidos dela... Tudo isso me fazia questionar. Ao voltar para casa, me confrontei com o caos que se tornou o que antes era um santuário. A capacidade da nossa mente de influenciar nossas ações e percepções é inimaginável. Enquanto percorria os vestígios da destruição, lancei mais um olhar para a piscina, sentindo uma urgência avassaladora de apagar aquela memória, tão intensa que palavras não podem descrever.
Mesmo sabendo que minha mente às vezes me engana, eu estava determinado a desvendar a verdade sobre a morte do meu filho naquela noite fatídica, mas é claro que isso incluiria muitas coisas. Afundei no sofá, com os pés ainda marcados pelas feridas, mas isso não me desviava do curso que havia estabelecido no dia anterior. Eu buscava afastar da mente as lembranças turbulentas da última noite, todas exceto aquelas que envolviam Sidney, que surgiu como um anjo na minha vida. O toque suave dela nos meus pés, no meu rosto, e seu olhar profundo, como se visse através de mim, me transformavam de maneiras que eu mal podia compreender.
— Como isso aconteceu? — Lena entrou, cautelosa como quem atravessa um campo minado. A presença dela aqui era rara, e eu mal notei sua chegada.
— Devo ter batido a cabeça e descontado na sala — murmurei, deitado, encontrando seu olhar fixado ao meu.
— Harvey, você está...
— Em estado lamentável — cortei-a abruptamente.
— Você precisa de cuidados — Ela se agachou ao meu lado, examinando meus pés enfaixados.
— Sidney cuidou bem de mim — sorri, ignorando a tensão ao mencionar o nome que causava calafrios em Lena.
— Ah, Sidney! — Lena resmungou, e percebi sua insatisfação ao ouvir seu nome. — O que realmente aconteceu aqui, Harvey?
Indiquei com o queixo a piscina, e ela, conhecendo bem minha dor, compreendeu sem precisar de mais explicações.
— Por que não se livra disso? Enterra esse lugar de uma vez por todas, Harvey! — ela questionou com seu olhar fixo no espaço vazio.
— Enterrar esse lugar seria como me enterrar junto — admiti.
— Isso não faz sentido, Harvey! Aquele lugar é um gatilho para você — ela insistiu, virando-se para me enfrentar.
— Não quero entrar nesse assunto, Lena! — falei, me erguendo bruscamente e me dirigindo ao escritório. — E quanto aos assuntos em Londres, resolveu? — indaguei, sem olhar para ela, enquanto seguia para o escritório. Abri uma garrafa de whisky e me sentei.
— Consegui um contato confiável em Cambridge — respondeu ela, retirando a garrafa de minhas mãos, distanciando-me da bebida.
— Estamos aqui para tratar de negócios ou você vai tentar me monitorar? — abri os braços, exasperado. — Sabe que estive com ela ontem, certo? Aquela mulher... não suporto desde sempre.
— Você realmente acredita que isso vai funcionar, Harvey? Tenho minhas reservas. Mas, no final das contas, a decisão é sua — disse Lena, apoiando-se na mesa enquanto cruzava os braços.
— Se não funcionar, apelaremos para o plano B, a contingência. — Afirmei, percebendo o arrepio que percorria Lena ao ouvir isso. Ela permaneceu de braços cruzados, evitando meu olhar.
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Vortex
RomanceImpelida a afastar-se de sua carreira como agente do FBI, Sidney Pryor retorna à sua cidade natal disposta a recomeçar sua vida. Contudo, o destino a reconduz ao epicentro do vórtex que acredita nunca ter deixado. Envolvida em um redemoinho de amor...