24º Capítulo

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HARVEY

Refletir e agir, essas são as forças que governam a mente, moldando nossas ações em busca de conforto ou desafiando destinos já traçados. É nesse complexo jogo de controle mental que nos encontramos fazendo escolhas que, sob a luz fria da lógica, pareceriam impensáveis. Ao me deparar com Sidney em seu refúgio, senti-me como se estivesse navegando por um passado não tão distante, quase como se eu pudesse capturá-lo entre meus dedos.

Havia algo tanto bizarro quanto eletrizante em vê-la manusear aquela arma com tanta destreza, um prenúncio do que ela se tornaria – e de fato se tornou: uma caçadora de criminosos, sejam eles vilões ou mocinhos. Era um contraste perturbador imaginar Sidney nesse papel, mas era a pura verdade. Eu, de certa forma, estava do lado oposto da lei, e ali estava ela, com o controle da situação literalmente em suas mãos. A vida tem esse jeito peculiar de nos fazer acreditar que estamos à beira de alcançar nossos desejos mais profundos, apenas para, no instante seguinte, nos desestabilizar completamente.

— Senti sua falta hoje. — Confessei, traçando um caminho com minha mão por entre seus cabelos até alcançar a nuca.

— Eu também senti a sua. — Ela se entregou ao toque de minhas mãos, como se cobiçasse por esse gesto há tempos.

De fato, o anseio havia se acumulado ao longo dos anos desde nossa separação, mas as memórias da última vez que compartilhamos aquele espaço permaneciam vívidas em minha mente. Mesmo com Andrea atenta no andar inferior, tentando captar qualquer som que pudesse indicar o que ocorria aqui em cima, ou nas noites de tempestade, com ela à espreita atrás da porta, cuidando para que ficássemos bem. Éramos dois jovens entregues à intensidade de um sentimento que parecia destinado a se desdobrar — era só Sidney e eu.

— Qual é o sabor que você carrega? — Questionei, meus lábios percorrendo a linha de sua orelha, descendo até o queixo, buscando cada partícula de sua pele com a minha boca, uma ação tão instintiva que poderia me perder nela pela eternidade. Sidney, perdida em seu próprio abandono, incapaz de formular palavras, apenas se entregava ao momento com uma fervorosa paixão enquanto eu navegava pela extensão de sua pele.

— Harvey... eu — ela conseguiu dizer em um sussurro tão leve, soando como música para mim. O som do meu nome em sua boca, tão doce e leve como a brisa que acaricia as folhas novas na primavera.

Banhados somente pela luz da lua, nosso refúgio estava livre de intrusos, permitindo-nos existir em um momento suspenso, exclusivamente nosso. Sidney, com uma delicadeza reservada apenas para mim, beijou-me, suas mãos traçando caminhos conhecidos em meus cabelos, uma intimidade que apenas ela poderia manifestar. Com a paciência de quem desvela um segredo, desfiz-me de suas vestes, mantendo os olhos fixos nos dela, um silêncio eloquente entre nós. Ela me auxiliou a me libertar da minha camisa, e, quase sem notar, encontramo-nos em um estado de igualdade reminiscente da noite anterior. A harmonia de nossos corpos, em contraste e sintonia, parecia predestinada, entrelaçada no ato mais puro de amor já conhecido.

Conforme nossos corpos se alinhavam sob o manto estrelado, as palavras pareciam tão desnecessárias quanto distantes. Ainda assim, entre os suspiros e o silêncio, a minha Sidney encontrava palavras.

— Você... sempre — ela sussurrou, sua voz tão frágil quanto à luz da lua refletida em um rio sereno do outro lado.

— Sempre — eu respondi, meu tom cheio de promessa tão profunda quanto as sombras que dançavam ao nosso redor. Cada toque, cada respiração compartilhada, construía um entrelaçado de emoções, um mosaico de alegria, desejo, e uma vulnerabilidade crua. Nossas mãos exploravam, memorizando contornos e curvas como se fossem preciosidades ocultas.

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