Vortex

7º Capítulo

HARVEY

Anastasija Rabbit era uma mulher cujo nome evocava tanto respeito quanto temor no submundo em que operávamos. Não havia quem buscasse sua ajuda e se visse desamparado; ela era implacável em fornecer suporte, mas seu preço não era monetário. Ela não exigia amizade, nem tampouco se importava com a capacidade financeira daqueles que a procuravam por favores.

Para Anastasija, a moeda de troca era algo muito mais valioso: o respeito irrestrito por ela e o reconhecimento de seu poder. Aqueles que se aproximavam dela sabiam que seu apoio era incondicional, desde que proclamassem sua organização no mundo do contrabando. Não importava quão desesperadora fosse a situação ou quão insignificante o suplicante parecesse ser; Anastasija abraçava a causa com um vigor que poucos poderiam igualar.

Era de conhecimento comum que, uma vez sob a asa de Anastasija, seus problemas encontrariam solução, mas isso vinha com o entendimento implícito de que, quando ela chamasse, você responderia. Seu compromisso com aqueles que a respeitavam e reconheciam sua posição era absoluto, mas exigia uma reciprocidade inquestionável.

Nos círculos que frequentávamos, seu nome era sinônimo de uma aliança poderosa, uma força a ser reconhecida não apenas por sua habilidade em navegar as águas traiçoeiras do contrabando, mas também por sua determinação inabalável de manter seus aliados próximos. Anastasija não fazia promessas vazias, nem recuava diante de desafios; ela estava sempre pronta para agir, esperando que aqueles que se beneficiavam de sua generosidade estivessem igualmente preparados para apoiá-la quando necessário, especialmente quando se tratava de seus vastos empreendimentos ilegais.

A noite estendia seu manto escuro sobre nós, e com ela, a decisão de ajustar as contas com Vladmir, essa incessante pedra em meu sapato. Estava claro que esse confronto testaria até o limite de nossas habilidades em preservar a frágil paz que havíamos meticulosamente construído desde os turbulentos dias da última guerra entre máfias, que assolou as ruas de Norfolk na década de 90.

Aquela guerra, marcada pela violência e pelo sangue derramado em cada esquina, deixou cicatrizes profundas na memória da cidade, uma lembrança constante do preço da disputa pelo poder. Resolver minhas pendências com Vladmir não era apenas uma questão de ajuste de contas pessoais; era um passo necessário para assegurar que a história não se repetisse em um ciclo interminável de vingança e destruição.

— Ah, Harvey, — Vladmir começou, seu suspiro pesado se espalhando pela sala enquanto ele se acomodava na poltrona. — Quando tocamos no assunto de compromisso e pontualidade, é impossível não recordar de Don Scangalero, aquele filho da puta italiano que nos fazia de tolos sempre no segundo dia útil por trinta e oito anos. Você deve ter ouvido essa história, não? Seu pai, Neil, conhecia bem os detalhes.

— Aqui está o seu dinheiro, Vladmir. Ajustado, considerando os atrasos. Enfrentamos alguns contratempos recentemente, — eu disse firme, mantendo a voz, enquanto entregava a bolsa.

Na cidade de Norfolk, onde o poder se mede tanto pelo dinheiro quanto pelo medo que você é capaz de incutir nos corações dos outros, a presença de Vladmir e sua herança mafiosa russa é uma veracidade constante de uma ordem estabelecida há décadas. Pagar a Vladmir não é uma escolha; é uma necessidade, um tributo ao domínio de uma família que moldou os contornos escuros dos negócios em que estamos imersos.

— Ah, os contratempos, Harvey. Sim, estamos todos às voltas com problemas. Fiquei sabendo da sua carga perdida — ele comentou, um sorriso cruel desenhando-se em seu rosto.

Meu desconforto era crescente ao ouvir aquelas palavras, a menção dos meus problemas recentes tocando um nervo exposto.

— Harvey, parece que os ventos não estão soprando a favor dos seus negócios ultimamente. E como vai a sua mãe, Dana? Ouvi dizer que ela não está muito bem. Seria uma verdadeira tragédia se ela viesse a faltar os medicamentos de que precisa, não acha? — A ameaça em sua voz era clara, um golpe baixo que visava atingir onde mais doía.