22º Capítulo

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SIDNEY

Os primeiros raios de sol da manhã invadiam sorrateiramente o quarto de Harvey, buscando refúgio nas frestas das cortinas que cobriam as janelas e nos impediam de ver o mundo do lado de fora. Isto não era um problema para mim. Eu não precisava ver o que estava do outro lado daquelas janelas, se tudo o que eu mais havia desejado na vida estava bem ao meu lado, compartilhando a mesma cama que eu após tantos anos de espera.

Seus cabelos louros, espalhados pelo travesseiro, pareciam ainda mais dourados diante da luz do sol; e enquanto ele ressonava ao meu lado, tranquilo como jamais parecia ter sido antes de nos reencontrarmos, tracei o contorno de suas costas com o dedo indicador, lentamente. Era sábado. A vontade que eu tinha era de não precisar deixar aquele quarto até que precisasse voltar ao mundo real, na segunda-feira. As coisas que eu havia compartilhado com Harvey durante aquela madrugada ainda pareciam flutuar ao nosso redor, como se fossem pequenas nuvens.

Harvey se remexeu na cama, virando o rosto para o lado oposto. Ele parecia exausto, assim como eu também estava, mas me sentia impedida de dormir, tamanha era a felicidade que estava sentindo naquela manhã. Numa tentativa quase falha de despertá-lo, rolei sobre a cama e me deitei sobre suas costas, fazendo-o grunhir baixinho.

ー Bom dia, Harvey Clifford ー sussurrei, beijando seu ombro nu.

Os lábios dele se curvaram em um meio sorriso.

ー Bom dia, Sidney Pryor ー disse, apertando as pálpebras para se livrar da claridade. ー Como você dormiu?

Eu ri, mordendo-o devagar.

ー É engraçado que me pergunte isso, já que foi o responsável pela minha completa falta de sono durante a noite passada ー eu disse, fazendo-o rir.

Num movimento rápido, Harvey girou o corpo sobre a cama e me puxou para cima dele. Ficamos deitado feito duas múmias coladas uma à outra. Apoiei meu queixo nas mãos que mantinha cruzadas sobre o peito dele e sorri, sentindo seus dedos brincarem em meus cabelos.

ー Devo considerar isso um agradecimento ou uma crítica? ー perguntou.

ー Um agradecimento, é claro ー falei, fazendo caracóis em seu peito com a ajuda do dedo indicador.

Harvey riu, daquele jeito que eu adorava. Seus olhos pareciam ainda mais claros quando estavam contra o sol, o que fazia com que ele se tornasse uma miragem diante de mim, uma mentira.

ー Estou curioso para saber uma coisa, Sidney ー disse, deslizando os dedos pelas minhas costas.

ー O quê?

ー Foi como você imaginava? ー perguntou, e eu sabia a quê ele estava se referindo. ー Digo, nós dois, a noite passada... foi como você havia imaginado?

ー Foi muito mais do que eu havia imaginado, Harvey ー falei, me aninhando em seus braços como se aquele fosse o meu lugar desde que nasci. ー E eu não estou dizendo isso apenas porque finalmente estamos juntos, mas porque agora eu sei que você não estava mentindo quando me dizia que, quando chegasse o momento, eu seria sua e você seria meu.

ー Não te parece estranho que tenhamos passado a vida vagando por aí, em busca de pessoas que preenchessem lacunas que só podiam ser ocupadas por uma única pessoa no mundo? ー ele perguntou, beijando os meus cabelos com carinho.

ー Estranho e injusto ー eu disse, analisando-o com cautela. ー Sempre tive a certeza de que acabaríamos nos reencontrando, de um jeito ou de outro, mas nunca pensei que teríamos a oportunidade de recomeçar exatamente de onde paramos.

ー Em pensar que tudo poderia ter sido diferente se você não tivesse me visto com outra naquele dia em que voltou para Norfolk...

ー Tudo aconteceu exatamente como deveria acontecer, Harvey. Seguimos com as nossas vidas, conhecemos outras pessoas, nos tornamos quem gostaríamos de ser, e agora estamos aqui, juntos novamente.

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