Vortex

27º Capítulo

HARVEY

Há uma certeza inquietante que se instala em você quando percebe que está sendo observado. É aquela sensação opressiva de estar sob inúmeros olhares, a paranoia constante de ser seguido a cada virada de rua, aquele olhar furtivo que te faz olhar por sobre o ombro repetidas vezes. Essa é a realidade de quem, aos olhos da lei, se torna poderoso e intocável; nós nos transformamos na presa, enquanto eles, os caçadores, aguardam pacientemente, prontos para dar o bote.

Como se marca um encontro numa manhã quando a cidade está tomada por agentes federais? Como se evita os olhares curiosos dos policiais enquanto você se esgueira por uma rua que grita suspeita, tanto quanto dirigir um furgão preto com placas falsificadas? Você começa a montar um plano apenas quando nota que o cerco está se fechando, que a rede está se apertando ao seu redor. Era nessa situação precária que eu me encontrava, completamente submerso em um destino do qual parecia impossível escapar.

— Paulie, é essencial que você vá até a Golden Barrel se encontrar com a Lena — falei, ajustando o colarinho da minha gravata. — Precisamos continuar distribuindo com força as nossas bebidas. Temos um novo concorrente em ascensão. E é claro que eu preciso desviar qualquer atenção indesejada enquanto me movo por aí.

— Estamos paralisados há mais tempo do que o previsto, Harvey — Paulie observou ignorando a tudo que eu tinha dito, mexendo sua colher no café.

— E o que você sugere que façamos? — indaguei, encarando-o diretamente.

— Temos que achar um jeito de manter nossa joia em movimento. Se ficarmos estagnados, vamos apenas nos enfraquecer mais — Paulie franzia o cenho, sua expressão séria.

— Esse é justamente o problema, Paulie! Estamos acuados. Transportar as joias para fora do país já não é uma opção! — exclamei, lembrando que todo o esquema envolvia figuras poderosas como um barão turquês e o seu filho, o príncipe herdeiro.

— Ainda podemos fazer o dinheiro circular, Harvey! Gali pode assumir essa tarefa para nós. Os Cerbeone têm influência no norte — argumentou Paulie, circulando ao meu redor. — Imagine só, Illinois, Indiana, Missouri, Kentucky. Temos uma área imensa à nossa disposição.

— Então, sua ideia é lavar dinheiro e espalhar mais contrabando de joias pelo... Kentucky, Paulie? — comentei com um sorriso irônico nos lábios. — Eu tenho um plano, mas eu ainda não posso contar com você. Portanto, faça o que eu tenho pedido sem questionar.

— Harvey, você está tão focado em parar com o contrabando que está perdendo a visão do negócio principal. Já considerou contrabandear livros didáticos? Imagina só, a adrenalina de passar pela alfândega com um carregamento ilegal de álgebra avançada! — Paulie provocou irritado enquanto batia na mesa.

— Envolver os Cerbeone é brincar com fogo. E eu prefiro não me queimar, especialmente com a máfia Scangalero no jogo — respondi, mantendo minha postura pragmática. A última coisa que eu queria era aumentar o alcance de nossos inimigos russos, o que é justamente o contrário que eu faria naquela manhã.

— Ah, Harvey, desde quando você tem medo de um pouco de calor? — Paulie riu debochado, como se a ideia de temer as consequências fosse completamente estranha para ele. — Pense nisso como um churrasco entre famílias. Só que, neste caso, algumas das famílias querem ver a outra no espeto. Vamos espetar o Vladmir com sua língua presa.

— Um churrasco que pode acabar com todos nós sendo assados, Paulie. Não, obrigado — rebati, sem achar graça na comparação. Estava claro que nossas visões sobre como lidar com a situação eram fundamentalmente diferentes. E eu preferia deixar aquele churrasco para Anastasija.