3º Capítulo

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HARVEY

       Conforme o sol começava a se pôr, tingindo o céu de uma cor laranja ardente que poderia muito bem ter saído de uma das cenas de um épico criminoso, eu e Paulie nos dirigíamos ao escritório de Lena Finney. Era como se estivéssemos navegando por um território familiar, mas sob circunstâncias que tornavam tudo mais sombrio. A cidade ao redor parecia observar em silêncio, cúmplice dos segredos que carregávamos conosco.

       Lena, com sua aura de calma e controle, sempre foi mais do que uma ex-namorada para mim; ela era um farol de estabilidade em um mundo que frequentemente parecia estar à beira do caos. Saber que estávamos indo ao seu encontro, naquele momento crítico, trazia uma mistura de conforto e ansiedade.

       Não era apenas o peso da situação que me acompanhava, mas a sombra da mensagem de Abby ainda ecoava em minha mente, uma distração que eu sabia que não podia me dar ao direito de ter. Enquanto eu dirigia, sentia o peso da responsabilidade pressionando contra meus ombros, uma sensação familiar para qualquer um de nós que tivesse escolhido caminhar nesse fio de teia entre o poder e a perdição.

       — Como isso pôde acontecer, Paulie? Que inferno! — Questionei completamente irritado, a tensão em minha voz tão potente quanto a pressão em minhas mãos sobre o volante.

       — Isso me soa como sabotagem, Harvey. Não confio nesses russos. Já teríamos resolvido isso se você não insistisse tanto na diplomacia — Paulie retrucou, com um vislumbre de desafio em sua voz.

      — Você está enganado, Paulie. Isso não tem relação alguma com os russos — respondi, tentando manter a calma —, já disse, vamos resolver o problema com o Vladmir e continuar seguindo a ordem.

       — E como você pode ter tanta certeza? Esse contêiner poderia estar flutuando em direção a qualquer canto do Atlântico agora. Se chegar ao Cabo Verde, estamos acabados — ele argumentou, a preocupação evidente em seu tom de voz.

       — Pelo menos se fosse para o Cabo Verde, teríamos alguma coisa. Temos contatos lá — lembrei-o, buscando um vislumbre de solução em meio ao caos.

       — Harvey, desde quando você se tornou tão cauteloso ao extremo? A situação exige ação, não deliberação eterna. Se não agirmos rapidamente, as consequências...

       — Foda-se! Eu entendo as consequências, Paulie. Mas agir precipitadamente pode ser ainda mais danoso. Precisamos de algo que nos mantenha dois passos à frente, não apenas reagindo ao caos. E se a situação for critica demais, usaremos o plano de contingência. Você tem que parar de bancar o Don Corleone, Paulie. Quem manda nesta organização sou eu.

       Paulie suspirou, frustrado.

      — E o que você sugere? Que sentemos e esperemos que o contêiner caia do céu?

      — Não. Vamos utilizar nossos contatos. Precisamos de informações precisas sobre a localização atual do contêiner. Além disso, precisamos reforçar nossa rede. Se realmente foi uma sabotagem, precisamos saber quem está por trás disso.

      — Isso soa como se você já tivesse algo em mente. Harvey, você sempre foi o estrategista entre nós dois. Mas lembre-se, qualquer plano que envolva os russos...

      — Eu sei. Os riscos são altos. Mas também sei que deixar o receio nos conduzir é a receita para o fracasso. Vamos começar a mobilizar nossos recursos. E quanto aos russos, vamos manter as linhas de comunicação abertas, mas com cautela, você entendeu bem, Paulie? — Perguntei.

      — Cautela, cautela, sempre cautela... Espero que você esteja certo, Harvey. Porque se não estiver, não serão apenas os russos com quem teremos que nos preocupar.

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