SIDNEY
— Eu quase não acreditei quando me disseram que você havia pedido transferência para Norfolk, Sidney — meu pai disse, encarando a câmera de seu celular como se olhasse diretamente em meus olhos. — Com tantos lugares no mundo, com todos os escritórios que o FBI tem espalhado pelo país inteiro, você vai lá e escolhe justamente esse buraco de onde eu te tirei anos atrás?
Repousei a cabeça no encosto da cadeira e revirei os olhos, tentando detestar menos aquele drama que ele estava fazendo a respeito do assunto.
— Pai, esta é a minha vida, e sou eu quem decido o que fazer com ela; para onde quero ir, com quem quero me relacionar, e tudo o mais. O senhor não acha que eu já estou bem grandinha para ficar levando sermão por conta das coisas que faço ou deixo de fazer?
— Sim, é claro que eu acho. Mas é inconcebível que você tenha escolhido justamente esse lugar para recomeçar a sua vida — ele protestou. — Por acaso você se esqueceu de tudo o que passamos aí? Há uma cicatriz em sua clavícula que deixa bem claro o motivo pelo qual eu tomei a decisão de tirar vocês de perto dessa gente, Sidney!
— Eu escolhi Norfolk por causa da tia Andrea, pai — disparei, irritada com aquela conversa. — Eu preciso ficar perto de alguém que eu conheça neste momento, de alguém que me ajude a não enlouquecer com a minha própria vida; será que o senhor consegue entender isso, ou é muito difícil?
Ele balançou a cabeça negativamente, demonstrando sua afetação com aquele assunto. Era mais do que óbvio que teríamos aquela conversa assim que ele soubesse sobre a minha transferência; eu havia assumido os riscos assim que escolhi a cidade para onde iria.
— Então por que é que você não aceitou a oferta do Wesley para vir trabalhar em Londres, hein? Não pense que ele não me contou sobre a sua recusa, Sidney! — ele disse. — A sua família toda está aqui; a sua mãe, a sua irmã, os seus sobrinhos e eu. Não somos bons o suficiente para você, é isso?
Não pude deixar de rir ao ouvir aquilo. Era ridículo. Todas as vezes em que Norfolk foi mencionada em alguma de nossas conversas, aquela sempre era a melhor reação que ele conseguia ter. Meu pai sempre precisava apelar para o lado sentimental da coisa; dando a entender que nenhum lugar do mundo seria melhor do que aquele em que ele e o restante de nossa família estavam.
— Se a minha tia não está aí, então a família não está completa, pai — rebati, apoiando os meus pés na mesa, disposta a aproveitar aquela hora de descanso para finalmente colocar tudo em pratos limpos com ele. — Sei que vocês às vezes se esquecem que ela existe e que nós a deixamos para trás algum dia, mas comigo não é assim, está bem? Vou ficar em Norfolk e recomeçar a minha vida aqui, quer vocês gostem ou não.
— Eu sei qual é o motivo por trás dessa sua mudança de ares repentina — ele acusou, adquirindo aquele tom que ele sempre usava quando falava sobre alguém em específico. — Você só me desafia dessa maneira quando está prestes a ir contra tudo aquilo que eu acho que pode ser bom para a sua vida; não pense que eu não te conheço.
— Pai, eu já tenho trinta e dois anos, está bem? Nunca protestei contra a ideia de irmos embora de Norfolk porque na época eu não tinha escolha e nem podia ficar para trás, mas agora que posso decidir por mim mesma, é aqui que eu quero ficar, e eu lamento muito se isso te decepciona, mas não posso fazer nada quanto a isso.
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Vortex
Roman d'amourImpelida a afastar-se de sua carreira como agente do FBI, Sidney Pryor retorna à sua cidade natal disposta a recomeçar sua vida. Contudo, o destino a reconduz ao epicentro do vórtex que acredita nunca ter deixado. Envolvida em um redemoinho de amor...