4º Capítulo

136 7 443
                                    

SIDNEY

— Quase não acreditei quando recebi os seus documentos para realizar a sua transferência para Norfolk — Dylan disse, me guiando pelos corredores do prédio da delegacia. — Não é sempre que recebemos filhos pródigos aqui nesta delegacia, sabia?

  Dei um sorriso amarelo. Dylan era um velho conhecido do meu pai; ambos haviam trabalhado juntos no departamento de investigação criminal durante os anos noventa, o que parecia ser um grande motivo de orgulho para os dois, já que quando falavam um sobre o outro era sempre em tom saudosista e orgulhoso.

— Fiquei sabendo sobre o FBI — ele declarou, abrindo a porta de uma sala de fim de corredor para mim. Na porta, havia uma plaquinha de metal com os dizeres "Agente Pryor", uma falha tentativa de fazer com que eu me sentisse em casa. — Tenho certeza de que vai recuperar a confiança dos federais em breve.

— É, com certeza — eu disse, sem entusiasmo algum. Aquele assunto fazia o meu estômago revirar. — E então, Dylan, alguém costuma vir até a minha sala, ou o senhor me colocou aqui porque acha que estou precisando de um pouco de paz?

  Ele deu um sorriso franco, tomando a liberdade de abrir as persianas para mim. Seu terno estava tão justo na barriga saliente que eu me sentia tão sufocada quanto aqueles botões pequenos da camisa branca que ele usava por baixo do paletó.

  — Não, minha querida — ele garantiu, espanando algumas partículas de pó de cima da mesa —, o que acontece é que fui orientado a não pegar tão pesado com você agora que vai fazer parte do nosso time. Sabe, os federais costumam ser bastante cuidadosos com os seus, então eu não pretendo ir contra as orientações deles, pelo menos não por enquanto.

— Obrigada pela sua preocupação, Dylan — falei, querendo dar um soco na cara dele. — Já podemos falar sobre qual será a minha função por aqui?

— Claro — ele concordou. — Costumamos considerar este o departamento perfeito para aqueles que ainda estão engatinhando na carreira policial, justamente por ele ser, você sabe, o mais tranquilo e fácil de lidar.

— E por que é que eu estou aqui? — perguntei, indignada. — Já tem muito tempo desde que deixei de engatinhar, sabia?

— Eu sei, Sidney, eu sei. Mas você sabe como as coisas são, e deve saber também que a decisão de manter você em cargos com funções menos estressantes não partiu de mim, não é, filha? — Ele demonstrava preocupação ao falar comigo, mas como eu poderia deixar bem claro que não ligava para nada disso sem parecer ingrata ou desrespeitosa?

— Certo — respondi, consternada. — Então, o que é que eu tenho que fazer aqui neste calabouço travestido de sala?

Dylan tentou esconder sua vontade de rir levando a mão à boca. O velho estava mesmo achando que eu estava fazendo piadas porque estava gostando da coisa.

— É exatamente como trabalhar uma versão feminina do seu pai, sabia?

— Deve ser por isso que todos nos dizem que somos parecidos — rebati.

— Então, Sidney, fazendo um breve resumo de qual será a sua função por aqui, precisamos de alguém que receba as denúncias anônimas que recebemos diária e semanalmente, de modo que possamos filtrar e dar um grau de importância a cada uma delas, sempre se atentando, é claro, às muitas denúncias falsas que também costumamos receber. Você sabe, algumas pessoas costumam brincar com coisas sérias, e a nossa missão é impedir que denúncias reais sejam deixadas de lado por conta de uma estupidez como essa.

— Vou passar o dia anotando recados para o seu pessoal, é isso?

Dylan apressou-se em negar, ficando nervoso com a minha reação.

VortexOnde histórias criam vida. Descubra agora