Prostrada contra o assoalho rústico, esfrego-o continuamente enquanto lágrimas se derramam de meus olhos e se misturam as manchas escarlates que tão avidamente tento fazer sumir.
Agora o corpo dele se foi. Foi retirado desta sala. Arrastado para longe, numa parca tentativa de me fazer esquecer o fato.
Mas como esqueceria? Essa imagem nunca mais vai sair da minha mente.
Minha única alternativa tem sido me dedicar a fazer desaparecer os rastros desta morte. Talvez assim as coisas melhorem. Talvez ao não contemplar seu sangue — derramado no assoalho como o resultado de uma tempestade violenta — eu possa me conformar como se ele nunca houvesse existido.
Empurro o trapo ao longo da madeira e paro por um instante, já que uma nova onda de lágrimas enevoa minha visão, deixando tudo terrivelmente avermelhado.
— Não chore, princesa — recomenda-me Javier em tom amável. — Há coisas das quais não se pode fugir e em lutas como as que enfrentamos, eventuais mortes são justamente uma destas coisas.
— Detesto isso — choramingo, para logo depois, observar a coloração rubra de meus dedos. — Detesto que haja tantas atrocidades e que haja pessoas dispostas a cometê-las.
Não adianta... Não vou conseguir limpar isso.
— Infelizmente, costuma ser fácil para nós, meros humanos, cedermos à corrupção — afirma o príncipe, exalando um longo suspiro. — É um mal que se instalou no mundo deste o principio das eras, mas nosso descanso é saber que um dia ele terá seu fim.
Comovida por suas palavras, encaro o rosto de Javier e deparo-me com sua figura compassiva, descansando na poltrona, cheio de feridas nos braços, tendo ao seu lado alguém que enfaixa cuidadosamente o maior dos ferimentos.
— Deixe isso aí! — pede-me Dente, parando um instante com o afazer para poder me observar pesaroso. — Não se atormente com isso. Depois limparemos tudo. Precisa descansar, Panny.
Assim, sorrio um sorriso triste e levanto-me devagar, agradecida somente pelo fato de ainda poder ouvir sua voz. Pelo fato de vê-lo ileso.
Afinal, aqueles haviam sido os segundos mais longos de minha vida.
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À Espera da Coroa - LIVRO 4 - CIR.
Ficción históricaO casamento real se aproxima e a corte toda está em polvorosa! Exceto por uma pessoa... O que seria um fato isolado, e até irrelevante, se essa pessoa não fosse justamente a noiva. Panny Delyon recebeu a notícia que mais temia, ou que aprendera a te...