Curiosidade e embate

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Pastora

Hoje me assustei, já faz um mês que me casei. A saudade de vocês está enorme.
Por aqui estou bem. O céu noturno daqui tem tantas estrelas que fico encantada com tanta beleza.
As hortaliças estão crescendo. A senhora ficaria emocionada.
Estou trabalhando no jardim também. Mau posso esperar para ver as flores coloridas.

PS: fale pra Layla que não sei desenhar. Peça desculpas a ela por mim.

Hanna rancho Zerut.

Dias e noites foram passando devagar e um mês se foi. No entanto, no rancho as coisas não mudaram muito. Hanna e Benjamin criaram uma rotina. Ele saia antes do alvorecer, fazia a ordenha e deixava o leite na cozinha. Hanna levantava com o nascer do sol e preparava o café. Pouco tempo depois, Benjamin aparecia, tomava o desjejum e partia para a lida novamente. Com insistência Hanna tentava conversar, se aproximar, mas após receber apenas resmungos estava ficando desmotivada.

A vivacidade e brilho que Benjamin, viu em seus olhos pouco a pouco estava se apagando. Dentro dela mantinha a certeza de estar ali debaixo da permissão de Deus, porém tentava achar onde estava errando.

Sem ter o que fazer, Hanna decide ir ao celeiro, não havia reparado bem no lugar até aquele dia. Para uma jovem entediada, aquele lugar era um mapa para procurar tesouros escondidos. Em um canto ela avistou vários baús e logo se dirigiu até ali. Alguns ela percebeu estavam trancados, mas não desistiu e continuou tirando os de cima daquela pilha até encontrar um que estava aberto.

Ao levantar a tampa num arquejo surpreso, coloca a mão na boca e outra sobre o coração. Por cima de tudo uma fotografia de uma bela menina, aparentemente de uns 8 anos. Os cabelos ruivos chegavam até a cintura, os olhos verdes davam a impressão de travessura. Ao analisar os traços percebe que aquela era a irmã de Benjamin, Solange. Com extremo cuidado pega a fotografia e coloca de lado, descobrindo outra ainda mais encantadora. Nela um casal segura um bebê, a pose protetora do pai, o olhar de amor e encantamento davam a Hanna a dimensão do amor capturado naquela imagem, com o coração emocionado se pôs a imaginar se era Benjamin ou sua irmã. Sua imaginação criou diversos cenários para família. A foto estava amassada, então passa a mão por ela tentando alisar os vincos.

Aquelas fotos levaram lágrimas aos olhos da jovem. Ali pode visualizar realmente o tamanho da perda de Benjamin. Sem perceber, abraça a fotografia em suas mãos.

“ Jesus, o que devo fazer? Tantas perdas fizeram Benjamin se fechar. Ele não está disposto a me dar uma chance. Minhas forças estão se findando Pai! Eu poderia ser a família para ele, dar uma família para Benjamin. Mas as muralhas que ergueu ao seu redor tem se mostrado mais forte que minhas palavras.” — o rosto molhado, abatido, a vontade de largar tudo e voltar ao aconchego do orfanato vai aumentando — “Espírito Santo me ajuda.” — enxugando as lágrimas respira fundo e decide continuar a exploração.

— Que lindo!— Exclamou encantada com os vestidos infantis que desembrulhou. Ela podia imaginar aquela criança correndo por aquele rancho atrás de seu irmão usando esses vestidos. No fundo, um vestido de mulher encanta a jovem moça. Era azul-escuro de bolinhas brancas, mangas bufantes com punho. O busto era transpassado com um belo babado branco bordado em vermelho. A cintura marcada por um cinto vermelho e a saia soltinha. Junto havia um chapéu de abas, branco, enfeitado com duas fitas, uma vermelha e outra azul. Colocando a frente de seu corpo, poderia ter sido feito para ela. Estava tão entretida que não percebeu o tempo passar, então se assusta quando Benjamin entra no celeiro.

— O que pensa estar fazendo com essas coisas? — A desaprovação constante no rosto do marido dá lugar a uma fúria que ela ainda não vira.

Benjamin salta do cavalo e marcha em sua direção. Hanna por instinto dá um passo para trás. Ele toma o vestido que ela segurava o embola e joga no baú. Porém, no momento que seus olhos pousaram sobre as fotos, ele paralisa.

CORRESPONDÊNCIA PARA O AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora