Voltando

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De olhos fechados, respira fundo. O cheiro mentolado invade suas narinas. O que antes gerou mal-estar agora acalentava.
Se despedir na estação foi natural, estranho como mudamos em pouco tempo. Amava o orfanato e todos dali, todavia não se sentia mais em casa.

Sorria desde que avistou as primeiras fileiras ordenadas de eucaliptos.

Conforme o trem se aproximava, seu coração se acalmava.

A primeira vez que fizeram tal caminho, seu peito quase explodia de ansiedade. Tantas coisas passavam por sua cabeça. Agora ansiava por chegar.

Estaria Benjamin sentindo sua falta como sentiu a dele. Esperava por ela? Suspira.

Ao avistar a vila, seus pés ficam inquietos. Seus olhos correm de um canto a outro. O apito soa e Hanna salta de pé.
Desce sorrindo, quando o sol bate sobre ela e o cheiro a envolve seu sorriso aumenta.

“Enfim cheguei!”

Semicerra os olhos e observa a sua volta, seus ombros caem e um bufo sai de seus lábios.

— Já de volta! Benjamin não está aqui! — Mary pronunciou se aproximando. — ainda parece uma menina da cidade. — fala torcendo os lábios e segue seu caminho sem dar tempo de Hanna responder.

Piscando, acompanhou a outra com os olhos. O sorriso sumiu.

Pega a mala e vai até a Delegacia.

— Com licença! — pede abrindo a porta.

— Hanna! — se põe de pé — já voltou.

— Essa frase de novo! — resmungou séria.

— Tudo bem? — o delegado quis saber confuso.

— Sim- respirou fundo.

— Sente aqui — indica uma cadeira — Benjamin não me avisou que viria hoje? — cruza os braços e se encosta na mesa — ele sabia?

— Sabia, falei que voltaria em três dias — a voz sai desanimada.

— Deve ter acontecido algo — diz pensativo — Vamos pra minha casa e depois do almoço te levo até o rancho.

— Pode ser, obrigada! Estou com saudades do Tobias. — concorda com o semblante mais alegre.

— Não deixe Lily ouvir isso ou vai ficar com ciúmes. — Cleiton brinca gargalhando. — diz que todos se esqueceram dela agora.

Ele põe o chapéu, pega sua mala e juntos caminham em silêncio.

— Lily, olha quem está aqui!

— Hanna! — corre ao seu encontro a abraçando — achei que ia ficar lá para sempre.

— Aí amiga, foram só três dias — se afasta rindo — e cadê o lindinho do Tobias?

— Tá vendo Cleiton, agora é assim — finge limpar uma lágrima — cadê  o Tobias? Ninguém me dá atenção.

— Eu avisei! — diz a Hanna, que o olhou pedindo socorro dando de ombros.

—  Também senti sua falta,mas... Mas...

- Estou brincando! - Replica rindo  - Tobias está no berço vamos lá. - passa o braço pelo de Hanna e seguem para o quarto.

O cheiro do bebê acalenta o coração dela, passa o dedo pela bochecha dele suavemente.

- E aí como foi a viagem?

- Maravilha - conta sorridente - foi muito bom rever todos.

- Mas?

-  Mas o que? - questiona desatenta, prestava atenção ao pequeno em seu colo e seus olhos vivos.

- Fala sério Hanna! Se sentiu bem lá?

- Sim e não! - contou com um suspiro - era bom, mas não parecia mais o certo. - para pensativa antes de continuar - você me entende? - questiona levantando o olhar suplicante a esposa do delegado.

- Mais do que imagina. - confirma pegando na mão  do seu filho.

Hanna estava no quarto de Lily, seu coração pesado como chumbo. Ao chegar ao povoado, esperava ansiosamente encontrar Benjamin, mas a ausência dele a deixou desolada. No entanto, ela temia revelar seus sentimentos, receosa do que os outros poderiam pensar.

Enquanto observava a paisagem pela janela, uma sensação de deslocamento a invadiu, tornando tudo ainda mais difícil.

O almoço com Cleiton e Lily foi agradável, mas por mais que se esforçasse para se alegrar, a tristeza persistia em seu peito. No entanto, a presença do bebê trouxe um raio de luz à tarde, e ela se permitiu desfrutar da inocência da criança até o entardecer.

Quando o delegado finalmente a chamou para partir, Hanna sentiu um aperto no coração. Temor misturado com ansiedade. Com um suspiro pesaroso, ela se despediu de Tobias, o que gerou reclamação de Lily novamente.

- Sabia que só veio aqui por ele.

- A amiga, deveria ter sido atriz.

Rindo se despedem com um abraço e Cleiton a ajuda subir na carroça.


O sol começava a se pôr no horizonte, tingindo o céu de tons dourados enquanto a carroça sacolejava pelo caminho poeirento de volta ao rancho de Hanna. Ela estava ansiosa para chegar em casa depois de passar três dias visitando o orfanato. A sensação de deixar as crianças para trás era agridoce, mas agora ansiava pelo conforto de sua própria casa.

Ao seu lado, o delegado, que desistiu de conversar com ela ao receber poucas palavras, conduzia os cavalos com uma expressão séria. Hanna se perguntava por que seu marido, Benjamin, não veio buscá-la . O coração dela se apertava com a incerteza, mas ela se forçou a afastar esses pensamentos, focando na paisagem que se desdobrava diante dela.

Quando finalmente chegaram ao rancho, o coração de Hanna deu um salto de esperança. Mas sua alegria se transformou em decepção quando não viu Benjamin à espera dela. Ele só apareceu tarde da noite, agindo como se não tivesse sentido sua falta.

- Onde você esteve? - perguntou Hanna, tentando esconder a mágoa em sua voz.

Benjamin deu de ombros, um sorriso indiferente nos lábios.

- Coisas para resolver , sabe como tenho trabalho  aqui- respondeu vagamente.

- Pensei que me buscaria, Cleiton teve que me trazer.

- Não me lembrei que era hoje. - responde e vai para a cozinha.

Hanna se esforçou para manter a calma, mas a sensação de abandono a consumia. Ela esperava que Benjamin a recebesse com os braços abertos, que demonstrasse pelo menos um pouco de saudade. Mas suas esperanças foram mais uma vez frustradas.

Enquanto se preparava para dormir naquela noite, Hanna se viu lutando contra as lágrimas. Ela se sentia sozinha, perdida em um mundo onde seu marido parecia mais distante, voltou a ser como se conheceram. Mas mesmo em meio à escuridão, uma chama de determinação ardia dentro dela. Ela não desistiria de lutar por seu casamento, por sua família. E mesmo que Benjamin não mostrasse,  sabia que dentro dele estava lutando.

E esperava com fé que um dia seu coração se abrisse.

               🌲🌲🌹🐎🌹🌲🌲

O segundo capítulo de hoje!

O que será que a espera?

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CORRESPONDÊNCIA PARA O AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora