Você não entendera para que serve a oração, até entender que a vida é uma guerra

85 17 13
                                    

Hanna desperta desorientada. Os primeiros raios de sol entram pelas frestas. A dor no pescoço a faz gemer. Notando o silêncio, senta rapidamente, sua mão ainda segura a de Benjamin. Nenhum gemido. Lágrimas se formam.

“ — Não, por favor Deus!…” — pensou levando a mão a boca tentando abafar o soluço. A mão dele estava gelada. Dor rasga seu peito, que massageia numa tentativa vã de alívio. Buscando coragem, corre os olhos por ele, gravando seus traços. O rosto antes contrito agora sereno. Mesmo com visão embaçada, nota que ele está todo suado. Sua camisa grudada ao peito. Ela arregala os olhos e pisca tentando reter as lágrimas. No entanto, chora ainda mais. Caindo de joelhos aumenta o aperto de suas mãos.

Um alívio imenso a deixou trêmula ao notar o leve subir e descer de seu tórax. Por um instante achou que tinha perdido Benjamin para sempre. Tirando o cabelo dele do rosto, agradece a Deus, pois estava sem febre. Era a primeira vez em três dias.

Mais calma, decide tomar um banho rápido e tentar comer alguma coisa. Ficar parada aumentava sua aflição, então decide preparar uma sopa. Algo que não demorasse. Não queria se ausentar do quarto por muito tempo. Tentaria dar o caldo a Benjamin.

Seu corpo inteiro doía, os olhos inchados ardem. A água morna alivia um pouco, mas ao pegar o sabonete o cheiro de lavanda traz lembranças que apertam ainda mais seu coração. Como queria poder deitar no colo da pastora Zoe ou ouvir o pastor Elias dizer que tudo ia ficar bem. Respirando fundo, termina o banho e agiliza a sopa. Sempre atenta a qualquer barulho.

Quando tudo está no fogo corre até o quarto. O medo a deixa enjoada e seu coração acelera sempre que sai do quarto. Não sabe como encontrará Benjamin. Dessa vez ele ainda estava como o deixou. Aparentemente parecia estar dormindo, porém, essa inércia deixa Hanna temerosa. Agitada, abre a janela. O dia estava lindo, mas naquele momento não conseguia apreciar.

“ — Pai, estou com medo! Aqui dentro ta uma bagunça. Espírito Santo interceda por mim, pois não sei nem mais o que falar.” — Hanna ora, falar com Deus a acalmava. As horas vão passando e Benjamin permanece desacordado, imóvel e em silêncio para desespero de Hanna. O único movimento dele é sua respiração.

Devagar ergue a cabeça dele do travesseiro e a firma em seu braço, com cuidado verte pequenas quantidades de água em sua boca. Havia feito aquilo muitas vezes.

O volta para o travesseiro, busca uma bacia com água morna e com delicadeza limpa o rosto dele. A barba havia crescido e passar a mão por ela emocionou a jovem.

Largando o pano afasta o cabelo do rosto dele.

As lágrimas mais uma vez se fazem presente.

— Senhor, por que ele não acorda? Espírito Santo move neste lugar. Traz vida, preciso dessa bênção, que ele vença essa enfermidade. Pai… — O planto lhe rouba as palavras. Confiava no poder de Deus para mudar aquela situação se fosse de Sua perfeita vontade.

 Muitas vezes pensou que tendo fé não haveriam lágrimas nem dor, mas havia aprendido que era humana, e confiar não a isentava do sofrimento. Ter fé e crer no poder de Deus não a impedia de chorar. Sentia dor, medo, todavia sabia que não estava só, tinha a quem recorrer.

 Enquanto orava suas forças eram renovadas, seus fardos eram divididos. Se não fosse a presença do consolador teria sucumbido ao desespero.

— Acorde Ben! Volte para mim! Acorde! — deita a cabeça no peito dele. As batidas do coração dele retumbavam em seus ouvidos. A cadência a embalou, devagar seus olhos foram se fechando.

Algo a acordou pouco tempo depois. Ela endireitou a postura. E ao ouvir novamente arregala os olhos e congela.

— Hanna, água — a voz fraca chega como calmaria em meio a turbulência vivida.

CORRESPONDÊNCIA PARA O AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora