Epílogo

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Benjamin afrouxou o laço e, imediatamente, o bezerro correu. Tirando o chapéu, limpou a testa com a costa da mão. Observando a altura do sol, caminhou até Raio, montou e troteou de volta para casa.

À medida que se aproximava, seu sorriso se expandia. O colorido das rosas do vasto jardim e o varal repleto de fraldas alvejadas balançando ao vento encheram seu coração de alegria.

Sem querer, sua mente alçou voo. Lembranças de tempos mais difíceis voltaram como um relâmpago.

Voltando para casa com o coração aos pedaços, muito tempo após o pôr do sol. A casa, coberta pela escuridão, o aguardava. Seu corpo dolorido e exaurido reclamava.

Pisca rapidamente, passando a mão sobre a nuca. Agora, ansiava por voltar. A escuridão não tinha mais lugar no rancho, nem dentro dele.

No celeiro, levou o cavalo à baia, tirou a sela, pôs água e feno.

— Papai! Papai!

Seu peito inchou e seu rosto acendeu. Marchou para a porta, e antes de alcançá-la, duas crianças toparam com suas pernas, risadas infantis enchendo seus ouvidos.

— O senhor chegou, eba! — O pequeno gritou, esticando os bracinhos. Benjamin o agarrou, logo o lançando ao ar, provocando gargalhadas estridentes.

— Ele parece adivinhar quando você chega. É impossível manter o Davi longe do celeiro.

Benjamin firmou o pequeno em um braço, pegou o chapéu com a outra mão e o pôs na cabeça da criança, que fez uma careta.

— Eca! Esse chapéu está fedido!

— Você ama usar meu chapéu, Laila, confessa! — implicou, mas pegou o chapéu e o colocou em Davi, que bateu palminhas. Laila revirou os olhos o fazendo sorrir.  Não ter adotado aquela menina era impossível. Ela o tinha cativado de primeira. Suas vidas se transformaram, mas Deus ainda tinha novos planos. Mais uma vez, as lembranças o tomaram.

Tinha acabado de chegar do curral com o leite. Hanna estava no fogão, pronta para passar o café. Deixando o balde ao lado, se aproximou, envolvendo sua esposa pela cintura e depositando um beijo em sua bochecha.

— Bom dia, menina da cidade! — cumprimentou e riu ao levar uma cotovelada.

Hanna despejou a água no coador e se virou para ele. Benjamin a trouxe para mais perto e deu um beijo em sua testa. Pensava que nunca seria feliz. Ali, no aconchego da cozinha, com o aroma do café e sua esposa em seus braços, agradecia a Deus por não desistir dele.

Se assustou ao ser empurrado por Hanna, que saiu correndo da cozinha com a mão sobre a boca.

Franziu a testa e foi atrás. Seu peito se apertou ao ver ela ser sacudida por ânsias enquanto vomitava. Correu até ela, segurando sua cintura para ampará-la com uma mão e com a outra tirando seu cabelo da frente.

— Querida, o que está acontecendo? — perguntou, tentando amenizar, mas tremendo por dentro, enquanto seus pensamentos eram um emaranhado de possibilidades. O medo apertou seu estômago.

— Estou melhor, obrigada!

— Está pálida!

— Vá tomar o café, já entro. — pediu, endireitando a postura e respirando fundo.

— Não vou te deixar. Vem — passou a mão por seus joelhos, a levantando em seus braços.

— Onde está indo? — questionou, passando o braço pelo pescoço dele ao ver passar da cozinha.

— Para o quarto — respondeu, e ao ver que ela ia reclamar, olhou carrancudo e continuou — não está bem. Vou te pôr na cama e você vai descansar.

CORRESPONDÊNCIA PARA O AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora