Logo após Hanna embarcar, Benjamin volta para o rancho. A tarde transcorreu normalmente.
O trabalho o manteve ocupado. Evitou pensar nela, contudo fora impossível. Ao anoitecer se aproxima da casa, notando a escuridão que a envolvia a sensação avassaladora de solidão o atinge.
Ergue os ombros, respira fundo seguindo o resto do caminho. Leva Raio para o celeiro e cuida de tudo ali, inconsciente enrola, mais uma vez usa o trabalho para encobrir suas dores. Algum tempo depois, se alonga. A dor nas costas irradia até o quadril. Suspira olhando em volta.
— Já chega por hoje né, companheiro? — fala passando a mão na clima negra. Entra na cozinha e o frio do local o invade. Para todo lugar que olhava via um toque de sua esposa. A cesta no centro da mesa coberta com um pano rendado. A arrumação do lugar e até o cheiro remete a ela. O silêncio da casa parece o sufocar. Se dá conta que a falta que o incomoda, não é de sua família.
Benjamin sente um turbilhão de emoções dentro de si. Não imaginava que sentiria tanto a falta dela. Durante todo o dia a sensação de que algo faltava o atormentou, o vazio da casa refletia a estranha sensação de vazio em seu coração. A raiva surge sorrateira, raiva de si mesmo por permitir que ela se aproximasse. Não se dera conta do quanto se envolvera e agora sentia as consequências. Tira seu chapéu, o joga na mesa e marcha para fora novamente.
— Preciso de um banho frio.
De banho tomado, volta, mas sem ânimo, come apenas uns pãezinhos com leite. Na sala se senta no sofá, ao seu lado a bíblia aberta lhe chama a atenção. A página toda marcada o deixa curioso. Vencendo sua resistência a pega e começa a folhear, cada página continha inúmeras anotações. Benjamin reconhece a letra. Conforme vai passando começa a ler. Algumas anotações o fazem rir “se fosse Daniel teria perdido o sono depois desse sonho”. Outras o deixam confuso, ou pensativo a ponto de o levar a ler os versículos. Até que um em especial o afeta. I Coríntios 13; 4 O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não trata com leviandade, não se ensoberbece. 5 Não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal; 6 Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade; 7 Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
Não os versículos em si, mas as anotações “— Senhor me ajude a amar o Benjamin assim!” Ficou olhando aquelas palavras até as letras começarem a dançar e ficarem embaçadas. Uma lágrima cai sobre o papel logo seguida por outras. Não sabia reconhecer o que tanto havia mexido com ele. Dormiu ali mesmo emocionalmente esgotado pela intensidade das emoções que o cercou.
Acordou com a cabeça doendo e o pescoço doido. Mais uma vez o vazio, o incomodava, sai de casa as pressas e se força a trabalhar até a tarde. Volta para casa quando a dor no estômago se torna insuportável. Prepara uma refeição simples, arroz com feijão e carne seca. Na mesa a fome parece sumir. Fecha os olhos. Aperta os talheres na mão.
— Você quer me fazer sofrer de novo? Por quê? — Brada socando a mesa. Odeia se sentir vulnerável, então seu furor se vira contra Hanna.
— Com aquela cara toda inocente me fez querer protegê-la, devia ter te mandado de volta! — joga o prato na parede. Os cacos lhe são familiares, muitas vezes se sentiu assim. As paredes pareciam se fechar, a sensação de estar preso dentro de casa se intensifica então marcha para fora, todavia O cheiro de rosa invade suas narinas. Num acesso de fúria incontrolável arranca várias flores.
— Não posso! Não posso! — cai de joelhos ainda com flores em suas mãos. A dor de reprimir o choro fecha sua garganta. Sua respiração acelera se tornando superficial. Massageia o peito tentando aliviar a sensação de sufocamento. Suas mãos ficam frias, náuseas e tontura o atinge com força. Em pânico sente o coração acelerado.
— Ben! — ouve acima do retumbar de seu coração. — Meu Deus me ajuda! Benjamin! Respira! Respira! Olha para mim. — Enxerga a imagem do delegado borrada. A voz de Cleiton traz certa calmaria — Estou aqui amigo. Isso respira devagar.
Benjamin sente o braço dele no seu ombro o amparando. O desespero vai diminuindo, a dor no peito regredindo. Cleiton ora ao seu lado, o timbre conhecido devagar o faz relaxar, sua visão clareia. Ainda sente o coração acelerado e um cansaço fora do comum toma seu corpo.
— Venha comigo, vamos para dentro. — o amigo o ajuda ficar de pé e somente graças a ele não vai ao chão, suas pernas estão pesadas e parecem dormentes. — calma, devagar.
O delegado o leva até o sofá e se agacha a sua frente, a preocupação nubla seu olhar fazendo pequenas rugas aparecerem perto de seus olhos.
— Graças a Deus! — Exclamou ao ver Benjamin respirar normalmente — achei que te perderia amigo — a emoção transborda nas palavras. — vou pegar um copo com água para você. – Benjamin vê o amigo correndo, deita a cabeça para trás e passa as mãos no rosto. Já passou mau antes, mas dessa vez achou que morreria. — Toma. — Pega o copo e toma a água de uma vez. O frescor é bem-vindo. — O que foi isso? — questiona movimentando as mãos.
— Perdi o controle. — responde simplesmente. Era a única explicação que não o exporia demais, contudo Cleiton via mais do que ele imaginava.
— Benjamin sei que a vida te acertou com força, e você se impôs a solidão. Essa foi sua reação. Sei que recomeçar pode ser uma tarefa desafiadora — levanta a mão impedindo que o amigo o interrompesse — Hanna te impactou de maneira que você não queria ou poderia ter previsto. Tenho visto que está tentando confinar seus sentimentos crescentes por ela, seu coração colidiu com seus desejos. Está acostumado a estar sozinho por tanto tempo que a proximidade dela te assusta. Aqui no rancho você lida com tudo, mas quando se trata de sua vida pessoal você está perdido, porém, você merece ser feliz novamente! — para ao ver Benjamin negar. Olha para o céu e continua — Não se esqueça Benjamin que a felicidade é um processo contínuo, e está tudo bem não estar sempre feliz. O importante é estar aberto e continuar trabalhando para alcançá-la. Contudo, faz o oposto. Tem trancado seu coração, suas emoções e afastado todos de você — enfatiza sério, passa a mão pelo cabelo frustrado — do que tem medo? — pergunta abrindo os braços. Benjamin se retrai com a pergunta. Cleiton acertou onde mais doía. O desnudou de forma precisa e se sentia exposto demais. Odiava essa sensação.
— Me deixa em paz! Volta para a sua vida perfeita — o ataque vem como defesa. — Benjamin! — Vai embora! Está surdo? — Grita apontando a porta.
— Pelo visto melhorou — anuncia desanimado — Se precisar sabe onde me encontrar. Que Deus abra seus olhos antes que seja tarde.
Cansado, Benjamin encosta o cotovelo nos joelhos e apoia a cabeça nas mãos cruzadas. A cabeça parece oca.
“ — Filho, a vida é para ser celebrada. Temos que passar por certas coisas para aprender a valorizar o que temos. Se todos os dias fossem dias de sol, não saberíamos o cheiro da chuva, não teríamos o arco-íris. Sabe o que realmente importa? Ter Deus ao seu lado tanto nos dias de sol quanto os de chuva.” “ — Mãe porque faz esse doce de casca de laranja se é tão difícil? — Benjamin ouve a pergunta de Sol e por incrível que pareça também havia se perguntado o mesmo. — Por amor! — responde sorrindo, limpa as mãos em um pano e olha para os dois — é o doce preferido do seu pai.” “ — Quando crescer vou ser corajoso como o senhor que não tem medo de nada. — afirma o pequeno Benjamin montado a frente do pai. — Quem disse que não tenho medo? — responde rindo. — Amar alguém não é fácil. Ser responsável por uma família é apavorante, mas o que recebo de volta vale o risco. Sentir medo é normal, porém se você deixar o medo te impedir de viver perderá grandes oportunidades.”
As lembranças trazem um misto de dor e saudade.
— Ah, pai queria tanto que estivesse aqui! Não tenho conseguido, o medo tem vencido.
Deita ali mesmo e conforme a noite chega vai perdendo a consciência. Sua noite e recheada de pesadelos e ao acordar parece ter sido pisoteado por um cavalo selvagem.
- Vamos lá, é só mais um dia! – Sussurra para a casa vazia.
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Já estamos em maio 😱
Que Deus abençoe vocês. Que esse mês seja um mês abençoado!
Tadinho do Benjamin 🥹
Troquei a capa 😍 o que acharam?
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CORRESPONDÊNCIA PARA O AMOR
SpiritualUma jovem órfã em busca de um milagre. Assim está Hanna as vésperas de seu 18° aniversário. Benjamin um rancheiro solitário endurecido pelas perdas em sua vida. Um anúncio e algumas cartas depois ambos se conhecem... Hanna se encontra em um...