Dias a menos

98 17 19
                                    

Desde que Benjamin se recuperara e voltara à lida no rancho, Hanna permanecia atenta a cada passo dele. Sua preocupação era palpável, e durante as noites ela se pegava na porta do quarto de Benjamin, observando-o dormir. O leve movimento de seu tórax, subindo e descendo suavemente, a confortava e assegurava que ele estava bem.

Para ajudar na recuperação de suas forças, Hanna preparava refeições nutritivas e até fazia seu bolo de fubá preferido. Era seu jeito de cuidar dele, mesmo que silenciosamente. Durante o dia, ela ficava com ele no celeiro, compartilhando a tranquilidade do espaço. Quando ele trabalhava no curral, ela se sentava na cerca, observando-o e oferecendo sua companhia sem precisar dizer muito.

Benjamin, por sua vez, tentava se concentrar no trabalho. Era difícil não deixar que seu sorriso escapasse e denunciasse o quanto gostava de ter Hanna por perto. Cada vez que seus olhos se encontravam, ele sentia o coração bater mais forte, mas disfarçava, focando nas tarefas do dia.

Nas madrugadas, Benjamin descia sorrateiramente até a sala onde Hanna deixava sua Bíblia. Ele a abria e lia, encontrando conforto nas palavras e na proximidade indireta que isso lhe proporcionava com ela. Seu coração palpitava a cada página virada, sabendo que era o mesmo livro que ela lia diariamente. Ele se lembrava de todas as vezes que a afastara, sem saber como expressar seus sentimentos. Palavras bonitas nunca foram seu forte, então, ele orava.

Conforme lia tantas lembranças emergiram, sua família sempre fora fiel. Sua mãe lia para ele e Solange todos os dias.

Uma noite, enquanto lia a Bíblia, Benjamin fechou os olhos e fez uma prece: “Senhor, não sei como dizer a ela o que sinto. Mas sei que a amo. Ajude-me a encontrar as palavras ou os gestos certos para mostrar o quanto ela significa para mim.”

Ao terminar sua oração, Benjamin sentiu uma paz tomar conta de seu coração. Talvez não precisasse de palavras grandiosas, mas de pequenos gestos, daqueles que Hanna já conhecia bem. E com essa certeza, ele fechou a Bíblia, voltou para seu quarto e dormiu com um sorriso nos lábios, sonhando com um futuro onde não precisaria esconder mais nada.

Terminava a ordenha, quando avistou sua esposa caminhando até o curral. Os raios solares faziam seus cabelos brilharem. Ele sorri embebecido.

- Bom dia Ben! – diz colocando as mãos sobre a cerca.

- Bom dia! – responde sem conseguir parar de olhar para ela.

Como pode a achar fraca? Ela tinha tanta força, era determinada. Seus olhar vai para a casa, as mudanças eram claras. Abre a porteira  liberando o gado para o pasto.

Volta a se concentrar nela enquanto caminha com o balde de leite em suas mãos. Ao ver como se abraçava franze a testa.

- Não deveria sair sem blusa! – a voz sai mais dura do que pretendia e ao ver a mudança em seu semblante se recriminou.

- Acha que na cidade não faz frio? – retrucou voltando para a casa.

- Seu burro! – murmura  baixinho, antes de seguir ela.

Ao chegar na cozinha e envolvido pelo calor do lugar. O aroma de café e bolo permeia todo o ambiente, no entanto Hanna não está a vista.

Respirando fundo põe o balde sobre o fogão, pendura o chapéu e vai procura- lá. Como imaginou ela estava na sala. Sentada no sofá com a manta sobre as pernas e uma xícara de café nas mãos.

A imagem sempre o atingia em cheio, queria ser um pintor para eternizar esses momentos. Percebendo sua presença o olha rapidamente, Mas logo volta seu olhar para a xícara.

Caminhando devagar se senta ao seu lado. Passa a mão pelo cabelo.

- Me desculpa! – pede se virando na direção dela, que o olha com os olhos arregalados e ele sorri -  não quero que pegue um resfriado.

CORRESPONDÊNCIA PARA O AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora