íris • pejao

Capítulo 34 ; p.o.v Pedro

Toda a turnê Anti-Heroi tem sido emocionalmente pesada, tanto para mim, quanto para João. A cada show sinto que ele sai mais desgastado do palco e cada nova cidade ele usa o público para ser feliz, pelo menos por algumas horas.

Admiro seu talento e o quão incrível ele é enquanto artista e pessoa. Mas não tem sido fácil. Não teve mais recaídas, nossa convivência se tornou exclusivamente profissional desde o lançamento do álbum e até mesmo a viagem para Buenos Aires para gravar o clipe de Essa eu fiz para o nosso amor, foi distante e estranho.

— Apesar de vocês saberem qual é a próxima música, queria dizer algumas coisas antes — não tínhamos preparado nada para esse momento, então sou completamente pego de surpresa — essa música tem um peso para mim e especialmente hoje, eu escolheria não cantar — o público vai a loucura, gritando palavras que não consigo definir — ao mesmo tempo que sinto que preciso, então vou pedir a ajuda de vocês, porque sei que em alguns momentos a voz vai falhar.

O instrumental de Enquanto me beija, essa música é especialmente difícil para o João, mas para mim também. Porque eu sei exatamente o que ele sente, não por se sentir igual, mas por conhecer ele tão bem.

Teu olhar me diz

Eu até gosto de você
Mas só gostar não faz feliz

Quem te adora assim até doer

Uma das coisas mais doloridas que aprendi nos últimos meses, é que amar, mesmo que pareça, não é suficiente. Não quando você não se sente suficiente para si mesmo, que é exatamente como me sinto, ou quando não se sente suficiente para o outro, que é como João se sente.

À noite rindo juntos

Meio sem intenção

Eu te chamei de amor

"Cê" me chamou de Jão

O pequeno discurso dele sobre a música me levou para lugares que a algum tempo não visitava e o término, assim como às consequências dele, veio com força.

A música foi acontecendo, às pessoas cantando, a voz de Jão emocionada e se antes eu estava na dúvida, agora tenho certeza.

Nós nos perdemos em nós mesmos. E precisamos nos achar sozinhos.

☆

— Me desculpa por ter fugido do roteiro — Jão disse assim que nos encontramos no backstage.

— Tudo bem, eu sou seu diretor, mas no fim o show é seu — respondo sorrindo, mas me sinto cansado, com toda a energia drenada.

— Pedro, você está bem? — ouço a voz de Malu, mas ela parece longe e baixa, quase como um sussurro.

Pisco algumas vezes, não sei em que momento deitei no sofá, mas a luz parece muito mais forte agora. Minha cabeça doi.

— Ele acordou — a voz de Malu é alta, atinge minha cabeça com força.

— Por favor, não grite — peço baixo — o que aconteceu?

— Você desmaiou — ela diz preocupada — Renan foi chamar os bombeiros que ficam de prontidão.

— Não precisa, eu estou bem — digo me sentando.

João está sentado no sofá ao lado, me olhando. Um misto de preocupação e irritação em seu rosto.

— Você está irritado porque eu desmaiei? — Perguntei confuso.

— Claro que não — ele diz bravo — mas porque você não tem se alimentado direito, nem dormido muito e se sobrecarregando com preocupações que nem ao menos está em seu alcance resolver.