Capítulo 59 ; p.o.v Jão

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Paris, França


— Vem, vamos dar uma volta — ouço Lissa dizer ao se aproximar e passar um dos braços pelo meu.


— Lissa eu não quero conversar...


— Imagino que não, mas eu acho que seria importante você me ouvir — ela diz apoiando a cabeça em meu ombro — se depois ainda assim não quiser conversar, ou tocar no assunto, podemos encher a cara na margem do Sena em um completo silêncio.


Dou risada pela forma que ela faz parecer tranquilo ter uma conversa agora.


— Então pode falar...


— Sei que você está com raiva do Pedro — ela começa.


— Acertou, porque estou mesmo.


— Eu também estaria — ela diz dando de ombros — e é importante você saber que não estou aqui para defender ele e a escolha dele de não te contar antes, estou aqui para te contar o que eu vivi com Pedro durante nossa adolescência e como eu, sem nem ao menos te conhecer, me apaixonei por você pelos olhos do Pedro.


Paro de andar, ponderando se quero mesmo ouvir, mas ser curioso às vezes não nos dá muitas opções.


— O Pedro sempre amou você e isso moldou toda a pré adolescência dele, a adolescência e a vida adulta também — ela diz voltando a andar ao meu lado.


As ruas de Paris são convidativas para conversas como essa, faz tudo parecer mais mágico e bonito.


— Não sei como é se apaixonar, eu nunca me apaixonei — ela diz dando de ombros — mas sei que quando acontecer, quero que seja tão lindo quanto é ver o amor de vocês, dolorido sim, mas muito bonito.


— Às vezes um pouco mais dolorido do que o necessário...


— Sim, de fato — ela diz segurando em minha mão e a apertando — mas a questão é que quando o Pedro nos contou sobre o garotinho que ele conheceu aos onze anos, ele sempre falou com admiração, era gostoso de ouvir ele falando sobre um garoto animado, feliz e curioso, que adorava andar ao seu lado fazendo questionamentos sobre tudo, que dizia sem medo nenhum que não se sentia ele mesmo, mas que aos olhos de Pedro, aos onze anos, parecia que aquele garoto sabia exatamente o que queria ser, mesmo que ainda não tivesse total consciência disso. E ele vivia se questionando o que aconteceu com você, como eram seus dias, se você continuava com a mesma curiosidade e pela mesma ânsia de descobrir o mundo igual antes. Foram algumas noites deitados na cama dele, onde ele dizia 'Melissa, o que será que ele vai ser quando crescer?' e mesmo sem qualquer contexto, eu sabia exatamente de quem ele estava falando.


Sinto um nó se formar em minha garganta, aperto a mão de Lissa conforme vamos chegando mais perto da torre Eiffel, quem vê de fora, até pode nos confundir com um casal emocionado por estar na cidade juntos. Não poderiam estar mais enganados.

íris • pejaoOnde histórias criam vida. Descubra agora