íris • pejao

Capítulo 35 ; Pedro

O último show da turnê chegou e com ele algo que me pegou completamente de surpresa. Jão oferecendo sociedade na UFO.

— Nós podemos conversar sobre isso depois do show? — pergunto um pouco sem jeito.

— Claro que sim, mas eu queria muito pelo menos subir no palco sabendo que existe a chance de você aceitar ou não — ele diz de forma calma.

— Jão por favor, agora não é a melhor hora.

— Pedro, apenas me responde se existe a possibilidade de você aceitar.

— Não — respondo de forma simples e curta.

— E porque não? — Jão insiste.

— Depois a gente conversa sobre isso.

— Não vou subir naquele palco sem saber o que você tem para me dizer, você não diz muitas coisas Pedro, mas essa eu preciso saber antes de ir lá e entregar o melhor show da vida de cada um presente — é nítido que ele está sem paciência.

— Viver o anti-heroi foi a coisa mais difícil que eu já fiz na minha vida, nós dois nos machucamos muito durante todo o processo — eu disse deixando às lágrimas caírem — é óbvio que eu fico feliz com a proposta de ser sócio na empresa, é óbvio que trabalhar com você é um sonho se realizando, mas eu não posso mais fazer isso. Eu não posso mais continuar te destruindo e não posso mais deixar você me destruir, então muito obrigado Jão, eu sou muito grato pelo convite e pela oportunidade que vocês me deram. Mas esse show é também o meu último dia, o Renan já sabe, eu iria te contar depois, me desculpa.

— Então que o último show seja o melhor das nossas vidas — ele diz e sai, me deixando sozinho no camarim. As folhas do contrato de sociedade se mantém em cima da mesa.

☆

— Essa tem sido uma música bem difícil de cantar nos shows — Jão começa dizendo, é possível ouvir como sua voz está embargada — e essa música tem muitas camadas, alguns de vocês já devem saber, outros imaginam, mas ela foi um áudio de desabafo para um alguém e desse áudio surgiu a letra e desta letra surgiu a música. E eu não queria que ela estivesse na playlist.

É possível ouvir um aaaaaa do público, apesar de ser uma música triste, eles gostam dela.

— Seria de fato uma pena se ela tivesse ficado de fora — Jão responde sorrindo — me propus tentar a cantar, no primeiro show da turnê foi difícil, mas com o tempo fui usando esse momento para me entender com ela e comigo mesmo.

Jão respira fundo, sei que não deveria ter falado com ele antes, mas me senti completamente pressionado com a situação.

— Mas hoje é um dia especialmente difícil para mim cantá-la, é o nosso último show, nosso último dia aqui, fazendo o que tanto amamos — o público faz barulho nessa hora, mas eu sei que ele não está falando sobre o fim da turnê, está falando sobre nós — Então talvez ela não saia bonita como nos outros shows, porque especialmente hoje, ela doi. Então eu peço que vocês essa noite, seja minha segunda voz e até mesmo a primeira quando eu precisar — ele diz respirando fundo antes de começar — e eu vou precisar. Anti-heroi, ou me desculpa — ele sussurra antes de começar a tocar.