Erva venenosa

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"Se porta como louca, achata bem a boca
Parece uma bruxa, um anjo mau
Detesta todo mundo, não para um segundo
Fazer maldade é seu ideal"


Os olhos castanhos abrem-se com dificuldade, a luz extremamente branca lhe deixando cego por alguns segundos. Sua garganta está seca e ele mal consegue abrir a boca, seus lábios parecem colados. A cabeça lateja e seu cérebro está confuso, o lugar que ele consegue observar rapidamente não parece familiar.

- Bom dia, docinho. – O tom doce é falso, mas Silvano não nota.

Uma loira sorridente o cumprimenta, olhos verdes lhe encarando profundamente.

Parece um anjo, ele pensa.

- Á-agua... – A voz sai estrangulada e Anita dá um menear de cabeça para a mulher do outro lado da sala. Verônica despeja em um copo de plástico um pouco de água e tenta entregar para Silvano.

- Eu não vou dar água na sua boca, filhão. – A morena resmunga e ele pega o copo descartável com dificuldade.

Silvano engole o líquido pesarosamente, mas sua garganta finalmente se recupera minimamente, assim como sua voz.

- O que aconteceu? – Finalmente questiona atordoado.

- Tentaram te dar cabo. - Anita conta, aproximando-se da cama de hospital. – Mas você tinha um anjo da guarda: eu. – Ela sorri sarcástica.

- Quem é você? – Seu cenho franze em confusão.

- A mulher que vai salvar sua pele. – A loira debocha. - Seguinte, sem enrolação. Sou delegada da Polícia Civil. – Ela descruza os braços, respirando fundo antes de começar o texto que ensaiou: - Balearam você na entrada de casa, a polícia estava na sua cola e um agente conseguiu impedir que eles socassem bala em você. Eu sei quem te baleou e acho que você também sabe. Também sei o que você guarda em casa, no que você trabalha realmente. – O olhar do homem se arregala com as informações, Anita não sabe de metade daquelas informações realmente, mas blefa para que ele confesse.

- Eu trabalho com tecnologia... – Ele tenta argumentar.

- Em uma Startup? – Ela pergunta e ele acena em concordância rapidamente. – Com a porra do nome de Silvano? Você acha que alguém acredita nisso?

O homem fica surpreso com a ofensa maldosa, a loira solta uma risada.

- Eu sei muita coisa, mas não sei quem são seus chefes. – Ela aproxima-se como um gato. – Tenho material para foder sua vida: fizemos batida no seu apartamento e achamos substâncias ilegais, também tenho um carro no seu nome ligado a 4 homicídios. Você sabia que eles abandonaram o carro perto da última desova? Queriam foder você mesmo. – Ela ri divertida. – Imagine, pegar pena por contrabando, tráfico, homicídio, abuso sexual. Caralho, você vai virar princesa na cadeia.

O anjo que Silvano achou ter visto quando acordou transforma-se em uma mensageira do inferno, de repente as roupas vermelhas da mulher e o rosto bonito parecem uma personificação do diabo.

- Eu posso te ajudar. – Ela continua. – Podemos fazer um acordo, se você abrir a boca e contar tudo, posso aliviar sua barra. Uma delação premiada, sabe? – Seu tom é cínico. – Você pode não querer depois de falar com seu advogado, ele pode dizer que consegue aliviar os crimes. Mas quero te dar um aviso: - Ela aproxima-se do rosto do homem, inclinando-se até ficar assustadoramente cara a cara com ele – Eu vou foder você, com tudo que tiver ao meu alcance. E eu não sou muito ética, sabe.

Ela sorri, parecendo um personagem de Alice no País das Maravilhas, um olhar insano e sádico no rosto.

- Mas caso ainda assim, você não aceite. – Ela se afasta, cruzando os braços e jogando os cabelos loiros para trás. – Estou te dando escolta policial, tem dois agentes meus na sua porta. Você sabe que seus ex amigos não vão cansar até cancelar seu CPF, né? Ainda mais depois do seu contato com a polícia. Você vai virar picadinho sem segurança e se você não aceitar meu acordo, não vai ter policial que vai atender seu chamado. – Verônica arregala os olhos, fitando a loira. - Pensa nisso. Posso fazer você sumir, ir morar longe e ter uma vida tranquila. Você só tem que abrir a boca.

Teto de VidroOnde histórias criam vida. Descubra agora