"E nesse desespero em que me vejo
Já cheguei a tal ponto
De me trocar diversas vezes por você
Só pra ver se te encontro"As olheiras profundas mal escondidas de Verônica denunciam a péssima noite de sono. Após a conversa com Anita, seu único ímpeto foi isolar-se em casa e beber toda a garrafa de gin barato que achou na geladeira. Seus lábios bêbados praguejaram Anita, a xingando sozinha para o vazio do apartamento, sua raiva se mesclando a memórias sexuais que a deixavam frustrada em não poder mais ter aquilo.
A ânsia de ter, mas nunca o tédio de possuir. Pelo contrário, a obsessão desenfreada de possuir cada vez mais e mais.
Ela não poderia possuir mais, porque Lima deu com a língua nos dentes e Anita era uma covarde.
Verônica estava cansada de pisar em ovos nos sentimentos conflitantes da delegada. Por que ela sempre era cuidadosa quando Anita agia como um tanque de guerra passando por cima da outra mulher sem se preocupar com os ossos e sentimentos que quebrava no caminho?
As camadas de corretivo no rosto da escrivã não conseguem esconder nada de Heloísa, que sabe o que aconteceu apenas de ver a expressão perdida da mulher naquela manhã. Ela não faz comentários, apenas afagas as costas de Verônica e a puxa para sua sala.
- Você vai me ajudar hoje! – Helô anuncia sorridente e Verônica acena sem muito humor.
A morena observa a delegada federal puxar um quadro de vidro branco grande, apoiado em um cavalete, fotos de Victor e Silvano ligadas por pinceladas vermelhas. Interrogações, frases desconexas e perguntas postas por todo o espaço.
- Você assistiu muito CSI, hein? – Verônica provoca, levantando uma sobrancelha e Helô rola os olhos.
- Engraçadinha. – A delegada mostra a língua em implicância. – Seguinte, estou com uma teoria e quero uma opinião. Não quero enfiar os pés pelas mãos. – O tom que Heloísa assume é sério.
Torres se senta em uma das cadeiras duras da sala de Heloísa, jogando os pés sobre a mesa, fazendo Heloísa rolar os olhos com a petulância. Ela pega o envelope que Nelson deixou cedo da manhã para ela e joga contra o peito de Verônica que arregala os olhos.
- O que é isso? – A morena pergunta.
- Abre. – Helô aponta. – Recebi fotos dessa mulher ontem, alguém sem remetente deixou aqui e sumiu. Pedi para Nelson descobrir quem é e ela se chama Helena Moreira, 43 anos, herdeira de um magnata falido, dono de postos de combustível.
- Parece uma dondoca do Leblon. – Torres comenta enquanto observa as fotos que Dante e Heloísa haviam recebido no dia anterior.
- Parece inofensiva, não é? – Heloísa pergunta e Verônica acena, enquanto lê um arquivo com informações sobre Helena. Há seu nome completo, idade, filiação e outras dezenas de informações. – Olha as fotos do pai dela, estão atrás das outras.
Quando Verônica vê o homem alto e corpulento, a morena começa a entender aonde Heloísa quer chegar. Não pela aparência de Manoel Moreira, mas por quem o acompanha em diversas fotos.
- Milícia? – A escrivã questiona.
A delegada acena. – Tem caras aí que você pode não ter visto na TV, mas que todo mundo no Rio de Janeiro sabe que são milicianos. E há também rostos conhecidos aqui em São Paulo e, aparentemente, ele era amigo de todos.
- É suspeito, por onde ele anda? – Verônica pergunta.
- Aí que começa, Manoel sumiu. Não há registro dele em canto nenhum a uns 10 anos, não há certidão de óbito em lugar algum ou alguma pista. – Heloísa conta e a morena franze as sobrancelhas em confusão.
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Teto de Vidro
FanfictionApós se envolverem por uma noite, Anita e Verônica prometeram que tudo não passou de uma experiência. Todavia, é difícil resistir a adrenalina e diversão que somente pessoas tão opostas poderiam se provocar. Ao se verem envolvidas em um caso incomu...